Estação terrena para telecomunicações com os satélites Intelsat IV em Boane (2/4)

Depois do primeiro artigo sobre a estação terrena da C.P. Rádio Marconi de Boane inaugurada em 1974 vamos aqui falar especialmente do segmento espacial da Intelsat a que ela estava ligada. Por isso este artigo é mais para quem goste de engenhocas, as imagens no entanto devem ser interessantes para todos.
A Intelsat era uma organisação intergovernamental fundada em 1965 e que tinha com 78 membros em 1974. Durante muito tempo foi a única a colocar em órbita satélites globais de telecomunicações civis. Ao tempo não havia ainda os satélites DTH (Direct To Home) que difundem televisão para as residências nem mesmo as redes empresariais com VSAT (Very Small Aperture Terminal). As estações terrenas das companhias telefónicas nacionais e os satélites da Intelsat eram por isso usados para encaminhar chamadas telefónicas internacionais e para a distribuição de sinais de TV entre as companhias difusoras dos diferentes países. Havia alguma transmissão de dados mas era ainda incipiente.
O alcance mundial do programa Intelsat IV (4) que produziu os satélites utilisados pela estação de Boane e que na práctica levou as telecomunicações modernas a todo o mundo pode ser medido por esta amostra de selos a ele relativos (na maioria à venda no site delcampe.net com): 

IMAGEM 1 (clique para aumentar)
Países de todos os continentes com selos sobre Intelsat IV (4), em princípio
Os Intelsat IV foram lançados para o espaço de Janeiro de 1971 a Maio de 1975. Oito foram construídos mas um não foi colocado em órbita devido à explosão do foguetão em Fevereiro de 1975. Os sete cumpriram ou excederam a vida esperada útil de sete anos e o último foi retirado do serviço activo em Outubro de 1987 i.e. depois de mais de 13 anos de uso.
Portugal como membro da Intelsat instalou para os Intelsat IV nas diferentes partes do seu território estações terrenas que podiam comunicar através deles com todas as outras dentro da mesma zona de cobertura. Básicamente um satélite é um receptor-amplificador-transmissor colocado no espaço permitindo que, entre dois pontos da terra que não estejam em linha de vista um do outro mas que sejam vistos do satélite, se possam transmitir sinais electromagnéticos com características de transmissão próxima da luz. 
Cada estação terrena emite e recebe sinais de telecomunicações para e do satélite (ou constelação de satélites semelhantes colocados próximos no espaço) a que esteja associada. Há ainda alguma troca de informação entre essas estações e o satélite mas este é seguido e controlado por estações terrenas especializadas, neste caso da Intelsat. 
Como não temos fotos para além da antena que estava nos selos que foi vista no artigo anterior, para se fazer uma ideia de como seria a estação terrena original de Boane mostro uma que presumo fosse semelhante. 


FOTO 2
Estação terrena nos USA nos anos 60/70, Brewster Flat  
Na estação de cima o edifício contendo salas de controlo, dos equipamentos, de direcção e de repouso, geradores eléctricos e baterias, oficinas, etc estava separado da antena parabólica. Na de Boane a parabólica pelo que mostrava o selo estava colocada sobre ele.
Passamos de novo para os satélites Intelsat IV. Cada um podia transmitir 6 000 chamadas telefónicas nos dois sentidos ou 12 canais de TV ou combinações entre eles.

FOTO 3
Satélites Intelsat IV (4)
Nestes satélites não havia ainda os longos painéis solares que abrem depois da colocação em órbita. As células solares para gerarem energia eléctrica estavam únicamente colocadas em torno do corpo cilíndrico. 
Por cima deste vê-se seis antenas e na imagem seguinte temos um modelo à esquerda com elas à vista e na da direita um satélite em teste com elas protegidas. Assim no modelo vemos melhor duas antenas corneta globais para transmissão para terra, duas antenas corneta globais para recepção de terra e duas com reflectores para reforço de transmissão para terra em determinadas zonas. 
Antenas no satélite Intelsat IV
Vermelho: uma das antenas corneta piramidais de transmissão global
Amarelo: uma das antenas corneta piramidais de recepção global
Verde: uma das antenas de transmissão para focos de cobertura
Tudo isto pode agora parecer meio arcaico e óbviamente era design e tecnologia dos anos 60/70 mas tinha de ser extremamente robusto e bem desenhado porque o satélite é sujeito a forças enormes durante a subida para órbita e a tremendas variações de temperatura durante a vida. 
No programa Intelsat houve enorme desenvolvimento tecnológico para possibilitar por um lado a miniaturização da "pay load" (carga útil em termos de transmissão) e por outro lado o aumento do tamanho do satélite (o que teve de ser acompanhado pelos lançadores). Atingiu-se assim o crescimento do número de transmissores, receptores e amplificadores com que os satélites eram equipados e por isso da sua capacidade de retransmissão.   
Séries de satélites Intelsat até ao VI (ver todos os detalhes aqui)
da Hughes Aircraft Company
Não sei bem quais eram os dois modelos mais pequenos (I = Early Bird, II ou III) mas nota-se o enorme salto deles para o IV, o que explica o impacto que este programa teve.
A partir do Intelsat IV e para se ver a evolução conseguida, com volume semelhante os satélites Intelsat IV A (lançados a partir de 1975) tinham cerca de 1.8 vezes mais capacidade que os IV.  Falta em cima o modelo do V (lançado desde 1981) mas como se vê o VI (lançado desde 1991) quase que duplicou o tamanho dos IV e a sua capacidade deve ter quadriplicado. 
Em artigo seguinte não perderei a oportunidade para falar de foguetões e órbitas espaciais.
Intelsat 4 - ver aqui site francês com a história da participação industrial da Thomson CSF.

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