Caminho de ferro entre LM e Pretória - trabalhos recentes - kms 71.1 (provávelmente Umquanhene) e 61.9 (Secongene)

Continuando o que vimos para a renovação / substituição recente da ponte da Matola, neste artigo vamos ver os trabalhos de mais duas obras de arte com imagens da Revista Xitimela dos CFM.  Esta série de empreitadas na linha de caminho de ferro de Maputo, antiga Lourenço Marques para Ressano Garcia deve ter decorrido de 2013 a 2015.
Começamos na imagem seguinte pela ponte ao Km 71.1 que fica depois da estação de Movene ao km 69, zona que aparece aqui vista de satélite (Movene fica para o canto inferior direito). Esta ponte parece-me que tinha o tabuleiro mais recente que os de 1887/1890 e por isso devia estar em condições de ser mantida e terá sido simplesmente reforçada. De facto esta deve ser a ponte mais moderna dos traçados alternativos em "S" sobre a ribeira de Umquanhene de que falámos aqui onde tinha a marca vermelha (FOTO 4) e de que encontramos agora pela primeira vez uma imagem. 
Ponte dos CFM ao Km 71.1 da linha de Ressano Garcia (ribeira de Umquanhene?)
Na ponte a travessa cruzada pintada de verde 
deve ter sido para reforço da estrutura existente
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Apresento aqui um quadro com a kilometragem das estações, as usadas actualmente e as que recolhi do passado.
Km actuais foram recolhidos da tese de Mestrado
de Francisco Eugénio Samuel no IST de Lisboa
Os km nas três colunas não são exactamente os mesmos pois sofrem de arredondamentos e porque pode ter havido algumas mudanças devido à alteração da estação de partida e nalguns troços, mas como se pode ver as diferenças são mínimas. 
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Passaremos nas duas imagens dos CFM em baixo para a ponte do Km 61.9 (a uns dez kms de distância da de cima para o lado de Maputo) que ficaria um pouco antes do apeadeiro de Secongene (Chicongene) ao Km 62 de que falamos aqui em detalhe. Podemos ver aqui de satélite esta ponte à direita (leste, do lado de quem vem de Maputo) e o apeadeiro pouco depois à esquerda (oeste, do lado de Ressano Garcia).
Primeiro as três fotos recentes que juntei penso que mostram a mesma cabeceira antiga no estado inicial.
Histórica ponte em Secongene/Chicongene do Km 61.9 antes dos trabalhos recentes
Podemos agora ver parcialmente como ficou esta ponte depois dos trabalhos. Do estado anterior parece ter só restado o que se via à direita, um muro de suporte lateral. A parte central da cabeceira foi revestida a betão. 
Sobre o que os CFM deviam ter feito antes e durante os trabalhos em termos de património e não sei se fizeram, falei aqui
Novo estado da ponte do Km 61.9 na linha de Ressano Garcia
Infelizmente os CFM não publicaram outras imagens (para além da desta cabeceira), por isso não podemos aqui comparar com a foto de MRP de 1889/90 da ponte que estava em posição muito próxima da que vimos em cima, a menos de 100 m de distância. 
(MRP) Ponte de Chicongene depois de grandes reparações ao km 61.8
Em baixo informação mais geral sobre como a linha funcionava em tempos recentes sujeita à concorrência do tráfego rodoviário.  Circulavam nove combóios por dia mas podiam ser compridos. O objectivo da consolidação das pontes era aumentar a frequência e a carga transportada. Terá sido bem sucedido?
Em abril de 2013 o tráfego esteve interrompido devido a acidente em Tenga. Originalmente não havia esta estação, não sei quando foi criada ou se foi mudança de nome mas os nomes originais na zona já eram todos africanos.
Mais detalhe no Jornal Notícias:
A CIRCULAÇÃO de comboios na linha-férrea de Ressano Garcia foi restabelecida ontem, após de quatro dias de interrupção devido a um acidente ferroviário ocorrido na quinta-feira à entrada da Estação de Tenga, na província de Maputo.
O director executivo dos CFM-Sul, António Bié, disse ontem ao “Notícias” que as obras de desobstrução da via, iniciadas logo após o sinistro de quinta-feira, só foram concluídas cerca das 20.00 horas de segunda-feira.
Actualmente, segundo Bié, nove comboios transitam diariamente na linha de Ressano Garcia transportando carga diversa proveniente da África do Sul em trânsito pelo Porto de Maputo.
Além deste tráfego, a linha recebe igualmente dois comboios diários de passageiros ligando a vila fronteiriça de Ressano Garcia à capital do país, com passagem pelas estações da Moamba, Tenga, Matola-Gare e Machava, onde embarca e desembarca milhares de pessoas cuja vida está intimamente ligada à cidade de Maputo.
“Diariamente temos quatro comboios de carvão, outros quatro de magnetite e um de contentores. Todos estes comboios não puderam circular durante os dias em que a linha esteve obstruída”, explica Bié.
Refira-se que o carvão sul-africano é exportado através do Porto da Matola, enquanto os contentores, o ferro-crómio e o magnetite são manuseados a partir do Porto de Maputo.
Basicamente, segundo explica António Bié, a linha de Ressano Garcia serve a vizinha África do Sul mas, querendo, o Botswana também pode aceder ao Porto de Maputo através dela, embora isso signifique um acréscimo de alguns quilómetros na distância que percorreria se usasse a linha do Limpopo.
Sobre as causas da colisão de comboios que levou à destruição de locomotivas e várias carruagens carregadas de pelo menos quatro mil toneladas de magnetite, António Bié disse não estar em posição de avançar nenhum detalhe, remetendo aos resultados do inquérito entretanto já instaurado pela autoridade de tutela.
Em Fevereiro do ano passado a linha de Ressano Garcia ficou igualmente fechada ao tráfego por pelo menos 45 dias, depois que um acidente ferroviário resultou em danos numa das pontes.
Este encerramento da linha ao tráfego de comboios afectou a dinâmica do negócio de muitas companhias sul-africanas que exportam mercadorias através do Porto de Maputo.
Alguns fornecedores sul-africanos, sobretudo os de minérios, largamente procurados na Europa e na Ásia, tiveram que encontrar alternativas para a colocação do produto no Porto de Maputo, ora usando a linha de Ressano Garcia, ora usando a via rodoviária, com forte impacto em termos de economia de escala.
Além dos fornecedores sul-africanos, a interrupção da linha de Ressano causou prejuízos ao Porto de Maputo, que viu reduzir drasticamente o volume de carga manuseada, 70 por cento da qual é constituída por minérios provenientes da África do Sul, em trânsito para diversos mercados do mundo.
A indisponibilidade da linha de Ressano para o escoamento de carga para o Porto de Maputo resulta no aumento da pressão sobre a estrada Maputo/Witbank (N4), uma vez que a maioria dos fornecedores tem que recorrer a camiões para garantir a satisfação de encomendas, acabando por gerar o caos a que geralmente se assiste sobretudo no troço entre as cidades de Maputo e Matola.

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