Como referímos anteriormente temos agora acesso a fotos do passado de Maputo, antiga Lourenço Marques até agora pouco divulgadas. As que mostraremos aqui são duma instituição cultural do estado moçambicano, o ARPAC Instituto de Investigação Sócio Cultural com as seguintes indicações: Cx. Maputo - Cidade, XI, Monumentos e Locais Históricos; Pasta do Serviço Nacional de Museus e Antiguidades, Arquivo Museológico, Edifícios da Capitania do Porto, IX, o que foram gentilmente cedidas ao HoM. Com elas retornamos a dois edifícios de que tinha já falado: os da Capitania e da Alfândega, em ambos os casos novos edifícios pois houve outros anteriores.
Vou colocar como legendas o que está escrito ou nas fotos ou nos cartões que as protegem e que para as FOTOS 1 e 2 estão correctas em relação à situação dos anos 60.
FOTO 1
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| Legenda original "Edifício da Capitania - médico" |
Na FOTO 1 vemos principalmente a fachada principal do edifício da Capitania do Porto virada para a Rua da Imprensa (norte), e do lado direito a fachada virada para a doca seca (poente). Vê-se também do lado esquerdo da foto o seu armazém e à direita por trás do edifício depois dum aterro duns 100 metros estaria o estuário.
A legenda fala de médico e pelo menos nos anos 60 continuava a ser no rés do chão, pelo canto do lado direito, que se tomavam as vacinas internacionais para se poder viajar.
A legenda fala de médico e pelo menos nos anos 60 continuava a ser no rés do chão, pelo canto do lado direito, que se tomavam as vacinas internacionais para se poder viajar.
FOTO 2
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| Edificio da Capitania |
Na FOTO 2 temos a empena de edifício virada a poente = oeste que viamos à direita na FOTO 1 e ao fundo para a esquerda vemos a falésia da Ponta Vermelha a cair para a baía. Como veremos no mapa em baixo o edifício da Capitania foi construído quase no limite do aterro feito na enseada da Maxaquene.
O muro que se vê à direita da FOTO 2 é o da Doca Seca (ver posição relativa no mapa de 1925/26 em baixo). Quando essa estava em construção em Dezembro de 1920 para a sua direita não havia este edifício, que será por isso posterior a 1920. O edifício das FOTOS 1 e 2 está por isso perfeitamente identificado e localizado com estas imagens e suas legendas.
Passamos então às FOTOS 3 e 4 mostrando-os eu de novo as suas legendas originais, mas que nestes dois casos a meu ver são pelo menos surpreendentes (afirmar se estão erradas ou não é mais complicado ...).
FOTO 3
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| "Edifício da Capitania e Posto Médico" - 5 de Outubro de 1919 |
FOTO 4
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| "Edifício da Capitania" com o mesmo depósito elevado à direita (Março de 1920, foto de Pó) |
Começo por notar que os edifícios destas quatro fotos são no mesmo estilo colonial holandês e muito semelhantes mas vejamos as diferenças entre eles. O tamanho do das FOTOS 1/2 é diferente dos das FOTOS 3/4 e quanto ao desenho, por exemplo vemos que no das FOTOS 1/2 o frontispício do corpo central é mais curvo que no das FOTOS 3/4 e nestas que a diferença de altura do seu topo para os terraços é menor. Por isso elimina-se a hipótese de o edifício das FOTOS 1/2 ter resultado da ampliação para a direita do das FOTOS 3/4 (e note-se que um destes edifícios ficou até agora como estava nas FOTOS 3/4, sem a parte para a direita do centro por isso é provável que seja esse). Em segundo lugar se na FOTO 1 logo para a esquerda do edifício vemos um armazém e para a direita da FOTO 2 estaria a Doca Seca, no caso do edifício das FOTOS 3/4 vemos que a situação desses dois lados era muito diferente (espaço aberto para a esquerda = nascente e depósito elevado e armazém para a direita = poente).
Temos então dois edifícios diferentes nestas fotos, o das FOTOS 1/2 que sabemos que nos anos 60 era o dos serviços da Capitania (do Porto) e Posto Médico e o das FOTOS 3/4 que era o da Alfândega nova que ficava dentro do recinto do porto e perto da estação dos Caminhos de Ferro, quer dizer na zona ocidental da Baixa enquanto o da Capitania ficava na zona oriental, já no limite do recinto ligado à actividade portuária.
Mas daí não se pode excluir a hipótese das FOTOS 1/2 e 3/4 serem de épocas diferentes e por isso que o edifício das FOTOS 3/4 em 1919/20 tivesse efectivamente sido da "Capitania e Posto Médico" como está nas suas legendas e que depois essas atribuições tivessem depois passado para o edifício das FOTOS 1/2.
Com estes dados podemos olhar para um postal de Santos Rufino (SR) publicado cerca de 1929 no qual aparece reproduzida à esquerda parte da FOTO 4 de cima e à direita uma foto semelhante à FOTO 1 de cima.
Com estes dados podemos olhar para um postal de Santos Rufino (SR) publicado cerca de 1929 no qual aparece reproduzida à esquerda parte da FOTO 4 de cima e à direita uma foto semelhante à FOTO 1 de cima.
POSTAL de SR (*)
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| esquerda: mais tarde foi da Alfândega em vez do que está escrito que era da Capitania. Questão é se terá sido da Capitania pelo menos entre 1919 (FOTO 3) e 1929 (postal)? direita: mais tarde foi da Capitania em vez do que está escrito que era da Alfândega. Questão é se terá sido mesmo da Alfândega em 1929. |
Por isso a respeito destes dois edifícios, temos nas FOTOS 3 e 4 e no postal a combinação de descrições aparentemente inexplicavéis. E noto que a FOTO 4 é de Pó que seria I. Piedade Pó que nos anos 20 fez variados trabalhos fotográficos para os Caminhos de Ferro e para o editor de álbuns e de postais Santos Rufino. Ora conhecendo bem ele as instalações portuárias de LM como teria errado na legenda da FOTO 4? E será que houve mesmo um posto médico no edifício da FOTO 3 em 1919 ou essa informação veio por arrasto de terem achado que ele era o da Capitania? Questões por esclarecer ...
Quanto ao postal de Santos Rufino, tenhamos também em conta que nos seus álbuns aparece um edifício da Capitania - aqui e até com a foto do Capitão do Porto Comandante Vasconcelos e Sá para não restarem dúvidas - e que é o da direita do POSTAL de SR. Ora daí se conclui que esse edifício se era da Capitania não podia ser da Alfândega como aparece no postal, por isso da parte de Santos Rufino algum erro haverá.
A talhe de foice, usando mapas e sobreposições já vistos anteriormente mas agora de forma mais precisa, podemos demonstrar que o que era o edifício da Capitania nos anos 60 foi erguido (e em 1925/26 isso já tinha acontecido) sob antigo estuário aproveitando-se a parte mais a ocidente = oeste do aterro da enseada da Maxaquene que foi executado entre 1915 e 1920.
MAPAS, um antes e outro depois do aterro e da construção do edifício da Capitania do Porto
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| preto (horizontal em baixo): muro de suporte do novo aterro separando-o do estuário mancha azul clara: limite a norte do estuário em 1915 rectângulo azul: antes sem e depois com a Capitania (amarelo) e armazém (castanho) construidos sobre aterro |
Por tudo isto, há a hipótese de que as atribuições dos edifícios tenham sido alteradas com o tempo e por isso que as legendas das FOTOS 1 a 4 a certa altura tivessem estado certas mas há também a hipótese de que essas legendas estivessem erradas já altura em que foram publicadas e eu inclino-me mais para esta segunda hipótese.
Quanto ao POSTAL de SR de c. de 1929 que dizia que o edifício da direita era da Alfândega estava errado pois o mapa de 1925/26 mostra que esse edifício já antes era da Capitania do Porto (e lógicamente a legenda do edifício da esquerda dos POSTAL de SR também deve estar errada, esse é que seria o da Alfândega).
Segue-se uma montagem com duas imagens retiradas duma foto panorâmica de Santos Rufino (clique para aumentar) para se localizar melhor os dois edifícios (nesta foto ele não os identifica):
MONTAGEM
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| Castanho: armazém da Capitania do Porto Amarelo: edifício da Capitania do Porto c. de 1929 Laranja: edifício da Alfândega, vista a 45o entre a fachada lateral a nascente e a principal a norte (traço preto vertical sobre o ângulo recto que formam) Verde: cúpula da estação de Caminhos de Ferro |
Sobre os tempos antigos da doca seca que se vê em cima à direita da Capitania e com um navio em reparações lá dentro, ver mais aqui.
* Noto que neste e noutros postais da época aparece P.E.A = Portuguese East Africa = Africa Oriental Portuguesa que era usado em vez de Moçambique no correio internacional).
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