Complementando por exemplo este artigo confirma-se a hipótese de localização da FOTO 1 em baixo e que foi apresentada por Alexandre Lobato (AL) no livro Xilunguíne, na página 46 foto 19. A informação que a acompanhava era "A Praça 7 de Março em 1877, pejada de material" e acrescentava AL que a foto tinha sido publicada no "Official Handbook" pela Imprensa Nacional de Lourenço Marques (LM) em 1913.
FOTO 1
Praça 7 de Março em 1877 Laranjas: dois edifícios com telhados próximos |
Para confirmarmos que se trata da Praça 7 de Março de LM, actual 25 de Junho de Maputo e compreendermos em que direcção e posição ela aparecia na FOTO 1, basta-nos a FOTO 2 seguinte de cerca de 1880 e da Universidade do KwaZulu-Natal - Campbell Collections. Ela foi tirada do estuário para a na altura "ilha" de LM e em frente tinhamos essa praça:
FOTO 2
Voltamos à FOTO 1 colocando-lhe mais marcas para se comparar melhor com a FOTO 2 e localizá-la mais precisamente:
A linha verde tracejado do lado esquerdo da FOTO 2 mostra o que será agora o limite actual a poente = oeste da Praça alinhado com a Casa Amarela. Para sul dela e depois da Travessa do Tenente Valadim foram mais tarde construídos a Casa Bayly, o Robert Hudson, a Guarda Fiscal (mais recentemente a Estatística). Na FOTO 2 de cerca de 1880 é visível que não existia ainda nesse alinhamento norte - sul o edifício da alfândega antiga que apareceu depois junto à primeira ponte no estuário da marca "verde" a qual ficava no limite a sudoeste da praça. Esse edifício é de cerca de 1887 e aparece na foto seguinte de Fowler de 1886/87 estando aí a Praça para o seu lado direito. E ao fundo desta apareciam os telhados dos dois edifícios que tinhamos visto nas FOTOS 1 e 2 confirmando-se de novo a sua posição:
FOTO 1 com mais marcas
FOTO 3
Foto de Fowler com dois edifícios de telhados similares aos das FOTOS 1 e 2 |
A FOTO 4 seguinte provém dos arquivos holandeses Memory of the Netherlands e tal como na FOTO 1 presume-se ver aí os dois edifícios ao fundo da Praça:
FOTO 4 - clique para aumentar
Laranjas: podem ser os mesmos dois edifícios com telhados das FOTOS 1 e 2 Rosa: esquina do edifício da alfândega antiga como na FOTO 3 Árvore verde: árvore ao lado da alfândega antiga como na FOTO 3 Azul claro: igreja paroquial, com uma dose de imaginação |
Como acontecia na FOTO 1 a praça estava pejada de materiais e mercadorias que tinham sido desembarcados na ponte da alfândega. Vinham para aí em barcaças que as transbordavam dos veleiros que atracavam para o centro do estuário e depois tinham de esperar na Praça, pois não havia outro espaço disponível, que primeiro fossem fiscalizadas pelos alfandegários para que fossem pagos os direitos devidos e que depois que fossem encaminhadas pelos proprietários ao seu destino.
A FOTO 5 é também de Fowler como a FOTO 3 e da mesma altura e nela olhava-se ao fundo da Praça de frente para poente. Os dois telhados ao fundo da Praça deviam aparecer nos edifícios do lado direito da rua mas na FOTO 5 eles não estão visíveis embora possa haver explicação para tal como veremos a seguir:
O edifício marcado a amarelo que fazia esquina entre o topo norte da Praça e a Rua da Fonte ("marca carmesim") pode ser visto aqui à esquerda uns dez anos depois da FOTO 5 e com o cartaz da tourada. Falta-nos assim uma vista mais próxima dos dois edifícios dos "telhados" ao fundo da Praça mas ...
Os edifícios ao fundo da Praça teriam as suas traseiras próximas da Rua da Linha que ficava antes da linha de defesa do burgo e encostada ao pântano. Há uma foto dita de 1890, já com o pântano aterrado e com a linha de defesa desmantelada, onde penso se vêm os telhados próximos pelo que eles deviam estar mesmo escondidos na FOTO 5. A FOTO 6 (já conhecida) é então uma vista de norte para sul da baixa de LM na direcção da Praça 7 de Março, actual 25 de Junho e com o estuário para o fundo.
FOTO 6
Verde claro: antiga Rua da Linha, actual Av. 25 de Setembro. Havia um edificio comprido com entrada ao centro, por trás dele uma faixa arborizada e depois...
Laranjas: parecem ser os mesmos telhados das FOTOS 1 e 2 vistos do lado oposto Roxo: seriam as traseiras do edifício marcado a roxo nas FOTOS 1 e 2 com marcas
Azuis: não consigo dizer se um deles correspondia ao "vermelho"
das FOTOS 1 e 2 ou a um seu sucessor ou onde estariam Púrpura: primeiro BNU nessa zona, lado aqui visível com marcas azul claro Seta creme: frontão sobre a porta da Casa Amarela virada a norte, perpendicular à que marquei a preto nas FOTOS 1 e 2 com marcas. Carmesim: esquina da Rua da Fonte com a Praça, alinhada com as frentes viradas a sul dos edifícios dos telhados laranja
Setas cinzenta e preta: barracões da alfândega construidos a sul da Praça
e sobre os primeiros aterros no estuário
Verde claro: onde foi a Rua da Linha e agora em parte é a Av. 25 de Setembro
|
Vamos registar o que vimos em cima num mapa de 1876, data próxima da das FOTOS 1 e 2. Repare-se que a Praça 7 de Março se chamava antes da Picota devido a ter um poço de água com bomba manual na sua linha central.
MAPA de 1876 (clique na imapgem para aumentar)
Na altura da FOTO 1 a Praça estava a servir de depósito de materiais de que teria chegado uma grande remessa e por não haver outro espaço acessível e disponível em LM, que se restringia ao pequeno núcleo dentro da ilha rodeada por pântano como se vê no mapa. Nessa época a vida comercial girava em torno da Praça e da próxima Rua dos Mercadores / Araújo / Bagamoyo. Foi a necessidade de criar espaço na zona para o desalfândegamento de mercadorias, para o seu armazenamento antes e depois do embarque nos navios e finalmente para se instalar a linha de caminho de ferro que levou o governo a iniciar o aterro do estuário para a frente = sul e para montante = oeste da Praça e da alfândega antiga.
Foi nesses aterros a sul da alfândega antiga e da Praça que se construiu cerca de 1889/90 (confirmado pelas fotos de MRP) o primeiro grande barracão que se vê ao fundo marcado com a seta preta na FOTO 6 e ao qual se seguiu o da seta cinzenta à sua esquerda = montante (ver aqui).Com esses barracões ou cobertos evitava-se que as mercadorias ficassem espalhadas pela Praça e tornou-se possível que ela fosse bem desenhada e ajardinada. Notava-se à esquerda da FOTO 5 de cerca de 1887 que aí a Praça já não tinha mercadorias mas na FOTO 3 da mesma altura não se consegue confirmar que esse aterro tivesse já sido feito.
Foi nesses aterros a sul da alfândega antiga e da Praça que se construiu cerca de 1889/90 (confirmado pelas fotos de MRP) o primeiro grande barracão que se vê ao fundo marcado com a seta preta na FOTO 6 e ao qual se seguiu o da seta cinzenta à sua esquerda = montante (ver aqui).Com esses barracões ou cobertos evitava-se que as mercadorias ficassem espalhadas pela Praça e tornou-se possível que ela fosse bem desenhada e ajardinada. Notava-se à esquerda da FOTO 5 de cerca de 1887 que aí a Praça já não tinha mercadorias mas na FOTO 3 da mesma altura não se consegue confirmar que esse aterro tivesse já sido feito.
Tinha sido em 1877, ao tempo da FOTO 1, que tinha chegado a Moçambique a expedição das Obras Públicas que planeou e iniciou esses trabalhos e que também decidiu e executou a drenagem do pântano e a expansão de LM para as terras mais altas fora da baixa. Na FOTO 1 podiam estar os materiais de construção que a expedição trouxe de Lisboa ou os importados para uma concessionária de caminhos de ferro que finalmente não foi avante mas que tinha comprado equipamento e penso que também por essa época.
No topo norte da Praça em substituição dos edifícios dos telhados laranja que penso identificámos aqui, ter-se-á depois construido o grande edifício do Clube Inglês que se pode ver aqui em 1895 pelas traseiras indicado pela seta vermelha e azul. O facto desses edifícios já não existirem por exemplo quando os muito produtivos fotógrafos Lazarus chegaram à cidade em 1899 deve explicar o desconhecimento que tinhamos até aqui das suas fachadas principais, o que penso melhorou agora um pouco com a FOTO 2.
Comentários