Bairro dos Cronistas na Sommerschield - mais da origem e imagens (2/2)

Com este postal pouco conhecido e recentemente colocado à venda no site delcampe.net, estamos a olhar para a zona da Polana genéricamente conhecida por Sommerschield, nome dum cidadão norueguês a quem como disse por exemplo aqui foram concessionados terrenos na Polana nos princípios da cidade de Lourenço Marques, actual Maputo. Eles foram depois vendidos à empresa Delagoa Bay Lands Syndicate (DBLSe após acordo com a Câmara Municipal parte dessa zona foi urbanizada a partir dos anos 50.
A FOTO 1 é uma vista para norte. Depois da Rua da Nevala, actual Nkrumah que a atravessa da esquerda = oeste para a direita = leste na parte inferior estava a Igreja de Santo António e seguia-se uma grande faixa de terreno livre. Como explico neste artigo e represento na FOTO 4 em baixo, esses primeiros terrenos na foto devem ter pertencido ao Estado e só uns 380 metros para norte da Rua da Nevala começavam os de Sommerschield. Nota-se bem na foto a transição entre uns e outros pois só ao fundo aparece a concentração de casas particulares do Bairro dos Cronistas, ou seja no limite inferior da antiga concessão de Sommerschield. 

FOTO 1
Laranja claro (horizontal): Rua da Nevala
Amarelo vertical: Igreja de Santo António da Polana
Azul (à esquerda): Infantário Piramidal de Pancho Guedes
Seta verde: praça ajardinada ao centro do Bairro dos Cronistas
agora conhecida por parquinho (ver a zona aqui)
Vermelho: Sociedade de Estudosactual Colégio Nyamunda
Azul escuro (à direita)residência do Comandante-Chefe das Forças Armadas
Castanho escuro: Rua António Bocarro
Preto: Av. António Enes, actual Nyerere
Carmesim (horizontal): prédio Buccellato visto do lado sul

Colocando parte do que vimos em cima num mapa do mesmo periodo, também com a Igreja nas proximidades e com o norte para o fundo = para cima, temos o seguinte:
MAPA DOS ANOS 60/70
Laranja claro: Rua dos Heróis da Nevala, actual Nkrumah
Preto: Av. António Enes, actual Nyerere
Verde claro: Rua General Rosado, actual Sung
Azul claro: Av. N. S. de Fátima, actual Kaunda limitando a primeira fase do bairro a norte
Marca 21Hotel Polana, próximo e da zona mais perto da baía
Resto: como em cima

O Bairro dos Cronistas foi pensado para classes econónimico-sociais elevadas e ocupado por muitas moradias de boa qualidade, umas isoladas outras em combóio. Na maioria eram do estilo arquitectónico moderno tropical típico dos anos 60/70. Este é um exemplo (ver mais deste tipo aqui) mas que mostra já o passar dos anos:
FOTOS 3


Moradia próxima do Colégio Nyamunda, antiga Sociedade de Estudos

Na FOTO 4 podemos ver como a zona estava nos anos 40. Tinha aspecto rural porque estava a ser usada como campo de golfe como falámos aqui. Nesta vista para norte aparece em primeiro plano à esquerda a esquina noroeste do zona que aparecia no mapa na mesma posição. Para a direita da FOTO 4, a mancha azulada indica a baia vendo-se o litoral (ou a barreira que o a acompanhava do lado de terra) bem demarcado. Marco na foto os nomes comuns dos bairros ou zonas da área mas não me parece que tais separações fossem muito rígidas e/ou oficiais.


FOTO 4
Verde claro: Rua General Rosado, actual Sung
Laranja claro: Rua da Nevala, actual Nkrumah
Laranja: Cadeia Civil
Preto: separação entre os terrenos do Estado e os da antiga concessão, 
uns 380 metros para norte da Rua da Nevala


Apresentamos agora duas novas imagens de 1919 provenientes da Universidade do Arizona que foi revelado pelo site Delagoabayworld neste artigo. O seu autor foi um botânico norte americano de nome Homer L. Shantz que passou por Lourenço Marques em Outubro de 1919. Como estava interessado na vegetação natural tirou duas fotos que associou a um campo de golfe que teria de ser o da Polana/Sommerschield da FOTO 4, até porque o seu aspecto corresponde ao que se via noutras fotos antigas. 
Pode-se assim ver como era a zona, embora o mato natural mais rasteiro tivesse sido limpo, uns 20 anos antes da FOTO 4. Parecia bastante seca com arbustos e árvores de pequeno porte e folha reduzida (tipo micaia?). Isso surpreende um pouco pois como referi antes para se urbanisar a Sommerschield teve que se aterrar lagos mas eles talvez se formassem só na época das chuvas.  Presume-se então que era assim a Sommerschiled e o campo do clube de golfe de Lourenço Marques em 1919:

FOTOS 5
em cima: preparação da zona relvada para um dos buracos (golf putting ground)
em baixo: 
floresta limpa para o campo de golfe

Noto que a segunda foto foi registada como se fosse de Port Elizabeth mas é claramente um erro do site americano. O que Homer L. Shantz mostra pode também pôr em causa o que Maria Helena Bramão disse no Livro d'Ouro e que mencionámos aqui: "Em 1914 (o clube de golfe) mudou-se para a zona de Sommerschield da Polana, ocupando o campo de golf a área onde presentemente se encontra a Igreja de Sto. António da Polana e toda a zona «A» do Bairro dos Cronistas".
Ora se em 1919 Homer L. Shantz veio encontrar o campo de golfe em preparação há duas grandes hipóteses: 
i. a mudança para a Polana não aconteceu em 1914 (aqui falei do campo anterior e já aventava a possibilidade da mudança ter sido posterior a 1914);
ii. o campo começou com digamos nove buracos em 1914 e quando Homer L. Shantz por lá passou 1919 estava a ser aumentado.
À medida que se recolhem mais dados esclarecem-se uns factos mas complicam-se outros ...
Para mais aprofundamento sobre a evolução das concessões de terrenos na cidade, incluinda esta da Sommerschield - série aqui.

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