Estação telegráfica e cabos submarinos em LM - interior, gerador, mastros e pombas (5/13)

Continuando a série sobre a estação do cabo submarino de 1879 na cidade de Lourenço Marques (LM, actual Maputo), mais alguns pontos interessantes relacionados com as comunicações no final do Século XIX.
Vejamos primeiro o que penso ser o equipamento e pessoal da estação telegráfica da Eastern Telegraph (E.T.) na Ponta Vermelha (PV) na única foto do interior desse edifício que penso chegou até nós. 
Estação telegráfica ou do cabo submarino 
Um técnico e outro funcionário sentado na outra sala
Como vimos já o edifício da E.T. foi construído em madeira e "zinco" e podemos ver na foto de cima divisórias de madeira o que parece confirmar que a foto seja do seu interior. 
O sinal tinha de ser transmitido a partir duma estação com uma tensão elevadíssima de modo a que mesmo depois das perdas pudesse ser ainda detectado na estação corespondente (veremos isso com mais pormenor). Como a primeira central geradora da cidade foi construida em 1898 e era de baixa tensão, eu esperaria que esta estação ao início da sua operação em 1879 estivesse equipada com um grupo-gerador próprio de corrente eléctrica. Como seria movido a vapor gerado pela queima de carvão deveria aparecer nas suas instalações, no edifício principal ou mais provávelmente num auxiliar, uma chaminé com certa altura e voltaremos esse assunto mais tarde.
Analizemos outro aspecto desta instalação:
Fachada principal da estação, jardim em frente e mastro
No livro "Pedras que já não falam" de 1972 Alfredo Pereira de Lima escreveu "rodeava a estação um amplo jardim e sobressaía do seu conjunto um enorme mastro para bandeira à porta do edifício, visto a grande distância". 
À esquerda: outra foto da estação do cabo submarino de 1879
À direita: no Consulado Inglês que já existia em 1899
Como se pode recordar pela foto de baixo também o Consulado Inglês na mesma época  tinha um grande mastro no seu terreno fronteiro. Embora os dois locais fossem afastados cerca de 1.1 km estavam ambos perto do cimo da barreira e por isso em posição elevada em relação à baixa da cidade e ao estuário. 
Diz este artigo que na estação da E.T. em Cascais em Portugal "no jardim ... erguia-se um grande mastro através do qual se estabelecia a comunicação entre os empregados da estação e a tripulação dos navios da companhia". Se generalizarmos isso à situação da estação da E.T. em LM e ao estuário que ficava exactamente em frente dela, acho que podemos considerar que o mastro da E.T. seria mais para transmitir sinais do que para servir de pau de bandeira (e o mesmo para o do consulado). No caso da E.T. o mastro podia por exemplo servir para avisar um navio amarrado no estuário ou atracado no cais de que tinha chegado um telegrama dirigido a alguém viajando nele, o que faria com que alguém se deslocásse à estação da PV para o receber.  Como é que o navio sabia que a bandeira era para ele? Com um sinal de espelho. Óbviamente tudo isto são hipóteses que aqui não ficam provadas ...
Mais concretamente em relação às datas, devemos ter em atenção que G. Marconi construiu o primeiro emissor de Telegrafia Sem Fio (TSF) em 1895 e só em 1902 foi lançado o respectivo equipamento comercial. Em Portugal o primeiro sistema de transmissão de radio-telegrafia foi instalado entre a base de Lisboa e navios da Armada e no ano de 1910. Quer isso dizer que antes de digamos de 1910 qualquer método que permitisse troca de informação rápida e sem necessidade de deslocação humana seria extremamente útil. Para mim seria essa a justificação para se ter construído e para se manter as grandes estruturas que se vêm nas fotos de cima, as quais devem ser pouco anteriores a 1910.
Ligado ao aspecto das comunicações locais da E.T., olhando com atençâo para uma das fotos mais antigas da sua estação na P.V. podemos reparar no seguinte:
Azul: estação do cabo submarino da E.T. na Ponta Vermelha
Roxo: pombal que não se vê nas outras fotos
Para que serviria este pombal? Podia ser para "hobby" dum funcionário mas a meu ver é possível que fosse para as mesmas comunicações locais para que o mastro dos sinais serviria, mas por exemplo como alternativa a ele quando a visibilidade fosse pouca para sinais com bandeiras ou com espelhos heliográficos (luz do sol). Não faço ideia como se poderiam treinar pombos para tal (pois o que sei é que regressam naturalmente ao seu pombal) mas é uma hipótese e para a validar teria de se ver se pombais como este eram comuns noutras estações nessa época.
Depois destes métodos arcaicos como vimos a partir dos anos dez do século XX (20) os navios devem ter sido equipados de TSF e os clientes principais da E.T. na cidade deve ter sido ligados por linhas de de telégrafo à estação da PV ou os telegramas passaram a ser tranamitidos em papel aos destinatários comuns através dos Correios.
Para terminar um elemento visual sobre a companhia:
LOGO e lema comercial da Eastern Telegraph
Nos próximos artigos falaremos sobre aspectos técnicos dos sistemas de cabo submarino em geral e em relação a Moçambique.

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