Estação telegráfica e cabos submarinos em LM - cabos, navios instaladores e operações (6/13)

Continuando a série sobre a estação telegráfica de Lourenço Marques (LM). O Kangaroo foi o navio que em 1879 instalou o cabo submarino de Lourenço Marques a Durban e parte do cabo de LM à Ilha de Moçambique por conta da Eastern & South African Telegraph Co. (que era a subsidiária regional da Eastern Telegraph a que aqui genéricamente me refiro como E.T.). 
Pela informação o navio foi adaptado em 1870 para instalar cabos submarinos o que fez até 1888. Básicamente o "cable ship" tem de ter um ou vários grandes porões onde o cabo é enrolado. Na altura eram operações manuais o enrolar para armazenar o cabo e o desenrolar para largar o cabo no mar à medida que o navio fosse avançando na rota seleccionada.
Kangaroo: algures um dos navios que instalou o primeiro cabo submarino
em Delagoa Bay / Lourenço Marques
Dados técnicos: ver outro texto ao fundo sobre o Kangaroo
Segundo estudo do Dr. José Luis Vilela da Fundação Portuguesa das Telecomunicações que veremos com mais detalhe depois (e Alfredo Pereira de Lima tinha-o dito também) o navio Seine participou também nesse trabalho e dele temos a imagem seguinte (ver o fantástico site History of The Atlantic Cable).
"Cable ship" Seine num selo comemorativo da companhia
Noto que este navio instalador foi o mesmo que em Moçambique mas a ilha de Ascenção fica no oceano Atlântico a sul do equador. Era servida por cabo diferente do de Moçambique que ficava ligado ao cabo principal que ia para a Índia, esse que partindo da Gra Bretanha cruzava o mar Mediterrâneo, atravessava o Egipto e depois seguia pelo Mar Vermelho até ao oceano Índico.
Passando à constituição dum cabo submarino antigo, em baixo está um exemplo de cabo armado do fabricante Telcon, que forneceu o cabo submarino telegráfico para Moçambique e que operou o navio instalador Kangaroo contratado pela Eastern Telegraphic.


Secção de cabo submarino do século XIX com cerca de 7 cm de diâmetro
1. Núcleo do cabo: Ao centro do cabo e do núcleo estão 
os dois condutores (multifilares) de cobre que transmitiam o sinal.
2. Armadura: duas camadas de cabos de ferro ou aço 
para dar resistência à tensão e à torção
3. Protecção metálica exterior: contra mordeduras de peixes 
e blindagem electromagnética
4. Borrachas como enchimento entre esses elementos
Cada um dos dois condutores do núcleo que se vê seccionado em cima seria em pormenor mais ou menos assim:
1.a. Condutor de cobre multifilar (à esquerda nesta foto, ao centro no cabo ou seja na foto de cima)
1.b. camada de borracha isolando o cobre (nesta altura provávelmente guta percha)
1.c. blindagem metálica contra interferências
1.d. envelope textil (provávelmente juta)
1.e. borracha isoladora exterior (nesta altura podia ser guta percha ou cautchu)
Depois à volta do núcleo havia a armadura etc, como se mostra na secção de cima.
Demos já uma primeira ideia no primeiro artigo mas vamos ver aqui melhor as fases principais da instalação dum cabo submarino com imagens do século XIX.  
No entanto antecedendo estas fases há uma uma fase extremamente importante que é a "route survey". É preciso escolher o caminho onde o cabo irá "pousar" quando for lançado para o fundo do oceano. Por exemplo para que ele não fique atravessado sobre uma fossa marinha e acabe por partir, para que não fique sobre rochas abrasivas e com o movimento do mar ser "lixado", para que não atravesse fundos de mar vulcânicos que aquecam a protecção, etc. Mesmo agora a "route survey é uma operação sofisticada, há 150 anos não faço ideia de como se faria.
Cabo a ser transferido do navio pequeno que o carregou na fábrica para o cable ship. 
Neste caso é o cable ship é o Great Eastern, que tinha sido o maior navio de passageiros de meados do século XIX e que após ser adaptado a "cable ship" pela Eastern Telegraph lançou para ela o primeiro cabo UK-India, ao qual o cabo de L.M. se veio a "ligar" en Aden
Porão de Cable Ship com dois rolos de cabo submarino. 
O cabo está a entrar pelo convés. Operações ainda manuais.
Cabo a ser desbobinado e a ser lançado pela ré do Great Eastern
sendo primeiro suportado pelos botes antes de ser largado no oceano
Cabo submarino a ser lançado junto à costa, da ré dum "cable ship" a vapor
Nesta última operação:
1. Os barcos pequenos (um a vapor mais três botes) auxiliam a colocação do cabo na água (podem ser usadas bóias também) e a sua descida progressiva para o leito do mar evitando tensões que lhe provocassem danos estruturais ou em caso extremos a quebra dos condutores.
2. Estando tão perto da costa era preciso cuidado para o navio não encalhar. 

Mais informação sobre um dos navios instaladores do cabo submarino para LM.
KANGAROO (UK) / SELAMET (Turkey) 1853 - 1901
The 'Kangaroo' was built by Laurence, Hill & Co., Port Glasgow* in 1853 for the newly formed Australasian Pacific Mail STEAM Packet Co. This was an unsuccessful joint venture made by directors of the Royal Mail S.P.Co and Pacific Steam Nav.Co.
Launched on 20th August 1853, she never sailed on the Australia service, but was chartered to the Admiralty for transport work. This was an 1,874 gross ton ship, length 257.4ft x beam 36.2ft, clipper stem, one funnel, three masts (rigged for sail), iron construction, single screw and a speed of 10 knots. In 1854 she was purchased by the Inman Line and COMMENCED sailings between LIVERPOOL and Philadelphia on 30/7/1856. Her first Liverpool - New York sailing STARTED on 11/2/1857 and her last Liverpool - Queenstown - New York voyage commenced on 14/4/1869.
In 1870 she became a British cable steamer with Telcon (Telegraph Construction & Maintenance Co, of London), was fitted with compound engines and her masts reduced to two.
Sold to Turkish owners in 1888, she was renamed 'Selamet' and was scrapped about 1901.
* John Maber states that she was built by Hill of Bristol.

http://atlantic-cable.com//Cables/CableTimeLine/index1850.htm
Dados do segmento de cabo de L.M. para Durban mas os do segmento para norte são semelhantes: 
Data: 1879
Delagoa Bay, Lorenzo Marques - Port Natal, Durban, South Africa
Fabricante:  Telcon
Companhia ou operador: Eastern & South African Telegraph Co
Navio instalador: Kangaroo, Patrão: John Seymour
Dados sobre os cabos usados no cabo de L.M.
System 345 nm. CABLE: 1 copper conductor comprised 7 strands 0.029" wire, 6 wrapped around 7th, covered in Chattertons Compound and gutta percha, then wrapped in jute dipped in cutch. 
Armouring, main cable, 11 No. 13 BWG homogeneous galvanised iron wires, each wire wrapped in calico tape. The FOLLOWING have a brass sheath wrapped around the core before the armouring is added.
Intermediate cable  10 No. 6 BWG, shore end (1) 10 No. 2 BWG, shore end (2) 10 No. 00 BWG, all galvanised iron wires and all wrapped in 2 layers hessian tape, wound in opposite directions dipped in Bright and Clarks Composition. 
Shore end (3) 10 No. 6 BWG plus 12 strands of 3 No. 6 BWG galvanised iron wires, no further servings added. 
Laying COMMENCED 5 July,COMPLETED 21 July 1879. Diverted into Beira in 1907
From The Engineer, Oct 24, 1879:

The local representative of the Eastern Telegraph Company gives notice that a cable between Durban and Delagoa Bay [now Maputo Bay] has been completed. The section is, therefore, now open to the PUBLIC. The rate from Durban to Delagoa Bay is 1s-3d. per word (tarifa de 1 shelim, 3 dime por palavra transmitida). The Imperial, Portuguese, and Colonial Governments are entitled to half rates.
Aden - Zanzibar was the last link, in service 25 Dec 1879 (NYT)

Comentários