Estação telegráfica e cabos submarinos em LM - posições da estação em fotos da PV (4/13)

A FOTO 1 é dos irmãos Lazarus que viveram em Moçambique de 1899 a 1908 e é mais umas das que mostram a estação do cabo submarino da Eastern Telegraph (E.T.) ou estação telegráfica. 
FOTO 1
Estação do Cabo Submarino entre a Maxaquene e a Ponta Vermelha,
com o caminho em forma de "L" para a frente do edifício
Como vimos esta estação estava ligada à rede internacional de cabos submarinos de Lourenço Marques (LM), actual Maputo. Ficando ao chegar à Ponta Vermelha (PV) para quem viesse da Baixa perto da crista da barreira da Maxaquene, os cabos submarinos (em LM eram pelo menos dois, um que seguia para norte e outro para sul) chegariam da baía e do estuário entrando pela enseada. Depois haveria uma junta com cabos terrestres (enterrados ou em condutas) que subiriam a barreira e que chegariam à estação onde estava o equipamento eléctrico para a transmissão dos sinais para as estações mais próximas.  
Sabemos que a estação esteve no terreno que depois foi do Liceu Salazar, actual Escola Secundária Josina mas as fotos que conhecemos dela parecem ser do final do século XIX (19) ou início do século XX (20). Não tenho assim a possibilidade de confirmar claramente a posição da estação em fotos "modernas" nem tentar perceber a evolução da estrutura desse local desde o tempo em que havia a estação até ter deixado de haver.
Alfredo Pereira de Lima no livro "Pedras que já não falam" de 1972 menciona que a importância da E.T. e dos seus cabos submarinos foi diminuindo com o advento dos circuitos de transmissão via rádio. Segundo informações mais concretas que veremos depois, de facto a E.T. fechou a actividade de cabos submarinos em Moçambique cerca de 1930 passando as comunicações intercontinentais a serem feitas pela sua sucessora Companhia Portuguesa de Rádio Marconi (CPRM).
A melhor hipótese de se ter localizado a estação em foto "moderna" é numa aérea de 1933. No entanto na posição esperada para a estação conforme os mapas não se clarifica completamente se o seu edifício principal ainda lá estava, se lá estaria uma clareira resultante da presença anterior do edifício ou se seria outra coisa. Também não se via aí o caminho de acesso ao edifício - em forma de "L" pelo lado esquerdo - que se vê na FOTO 1 e em várias das outras. Por isso a localização da estação pode ser a que indico em baixo, o que será coerente com a que vimos no mapa de 1903 (Salm), mas é o primeiro exemplo de que não consigo confirmá-lo .

FOTO 2 (aérea de Lourenço Marques em 1933, sem marcas à direita
Branco: vedação à frente do jardim
Castanho claro: caminho em forma de "L" para o edifício
Amarelo: possível ponto de amarração inicial dos cabos submarinos
na praia, antes do aterro
Rosa: possível traçado dos cabos terrestres ligados aos submarinos 
subindo para a barreira e continuando para a estação
Laranja claro: caminho dos cabos terrestres 
entre a crista da barreira e terreno da estação telegráfica 
Vermelho: estação telegráfica (limites do terreno com o edifício ao centro)
Preto: hipotético novo tubo onde novas secções de cabos teriam sido colocadas na preparação do aterro. Ia da praia ao muro de suporte do aterro
Laranja acastanhado (à esquerda): hipotéticas novas secções para os três cabos, ou reaproveitamento das existentes, colocadas dentro do novo tubo
Roxo: actual Av. Lumumba, antiga Av. Brito Camacho
Verde claro: Rua do Telégrafo/General Botha, actual Av. Nduda
Azul claro: Rua de Camões/Lusíadas
Já dos anos 40 mas ainda anterior à construção do Liceu Salazar (que se desenrolou entre 1945 e 1952) é a FOTO 3 que também não dá muita informação sobre o local da estação. Fundamentalmente onde devia ser o seu edifício principal ou nas suas redondezas não era claro se havia ainda algo, mesmo a potencial clareira que se via na FOTO 2 não parecia estar bem delimitada. Claramente no terreno em geral e tal como acontecia na FOTO 2, na FOTO 3 aparece principalmente arvoredo pelo que o local parecia ter sido abandonado pela E.T. ou sua sucessora a CPRM. De notar que como a FOTO 3 é mais recente do que a FOTO 2 tinha aumentado a probabilidade do edifício aí ter já sido demolido.


FOTO 3
Creme: museu Álvaro de Castro, actual de História Natural
Linha vermelha: limites do terreno da estação telegráfica 
Rectângulo vermelho: local possível do edifício da estação
Rosa: provável traçado de entrada dos cabos vindos pela barreira
Azul claro: Av. dos Lusíadas
Roxo: actual Av. Lumumba
Verde claro: Rua do Telégrafo, actual Av. Nduda
Verde escuro: Av. 24 de Julho, antes Francisco Costa 
Na FOTO 4, com o Liceu Salazar construído e por isso pós 1952 podemos ver como se tinha transformado o local da antiga estação telegráfica e estimar onde terá estado o seu edifício principal. O interesse será de olharmos para as fotos antigas da estação e podermos transpô-las para o local que conhecemos. Penso que a equivalência da estação com a escola actual seria assim muito aproximadamente:

FOTO 4
Branco: vedação à frente do jardim da estação, com o portão do lado esquerdo = oeste
Castanho claro: caminho em forma de "L" do portão para a frente do edificio
Rosa: provável traçado de entrada dos cabos vindos pela barreira
Linha vermelha: localização aproximada do edifício principal marcado no mapa de 1903
Rectângulo vermelho: limites do terreno da antiga estação telegráfica 
Roxo: antiga Av. Bombarda/Brito Camacho, actual Lumumba
Verde claro: antiga Rua General Botha, actual Nduda
Verde escuro: Av. 24 de Julho, primeiro Francisco Costa
Desta lembrança do passado podemos agora entender que foi a existência da estação de cabo submarino neste local que permitiu que um terreno tão amplo estivesse disponível nos anos 50 de forma a ter sido possível a edifícação do novo liceu. 

Comentários