Jardim botânico, actual Tunduru: estátua de Vasco da Gama, primeira parte (2/)

Em parte texto já publicado mas agora muito modificado.
Continuamos com o tema do Jardim Botânico de Lourenço Marques (LM), actual Tunduru de Maputo, seguindo agora o que Alfredo Pereira de Lima (APL) escreveu no livro "Pedras que já não falam" sobre o seu nascimento e particularmente sobre uma estátua de Vasco da Gama (VG). Citando aqui APL com adaptações mínimas e separando as suas ideias em três partes I, II e III:

"I. A primeira indicação da existência desse monumento encontrou o autor (APL) nos anos de 1962 quando adquiriu num alfarrabista de Johannesburg o livro “The Key to South África: Delagoa Bay” por Montague George Jessett, editado em Londres no ano de 1889 (?). A página 69 desse livro se dá à estampa um trecho do Jardim Botânico da cidade de Lourenço Marques no qual se vê nitidamente uma estátua a Vasco da Gama.
II. Partindo desse achado, (APL) procurou elementos de outras fontes até que achou em Lisboa em 1969, num outro livreiro antiquário um preciosíssimo álbum fotográfico editado em 1887 pelo empreiteiro Mac Murdo com vistas da cidade de Lourenço Marques e aspectos da construção da linha férrea à fronteira do Transvaal. Uma das fotografias desse álbum, hoje propriedade dos Caminhos de Ferro de Moçambique, reproduz em grande plano o célebre monumento a Vasco da Gama que existiu no nosso jardim.
III. Como se as duas provas em si não bastassem, eis que em pesquisa (APL) encontrou uma curiosa publicação intitulada “From Barberton to Paris by the Eastern Route” de autoria de L.J.Vigneron, editada em 1897. ...Nesse livro, Vigneron ... acrescenta: “ Não devo contudo deixar de mencionar que foi erguido à entrada do jardim sobre uma coluna de bronze um busto de Vasco da Gama. Trata-se de um monumento muito modesto, no entanto é agradável verificar que o grande navegador, o primeiro a arrostar com o Cabo das tormentas não está inteiramente esquecido...” Estamos portanto perante um testemunho válido de alguém que viu o monumento no seu lugar. Esteve perto dele e até observou que esse monumento era modesto para as dimensões universais do grande almirante."
Temos agora acesso pela Internet às duas primeiras obras referidas por APL. Começando pelo "preciosíssimo álbum fotográfico editado em 1887" são dele as duas fotos já conhecidas que vimos no artigo anterior e que mostro a seguir. Não aparece a estátua em grande plano que APL referiu mas procurando com atenção ela lá está: 

MONTAGEM 1 (fotos de Fowler cerca de 1886)
Estátua no jardim em LM, vista a cerca de 45 graus de frente e de costas

A estátua seguia aproximadamente a representação que é conhecida de Vasco da Gama (VG), o navegador português que descobriu o caminho marítimo entre a Europa e a India e aportou em pela primeira vez em Moçambique (Inhambane) em Janeiro de 1498. Por isso penso que podemos confirmar o que APL disse sobre a existência duma estátua de VG desde muito cedo no jardim.

IMAGEM 1
Segundo consta Vasco da Gama era mais ou menos assim

Um dado interessante é que o Jardim Botânico só se chamou Vasco da Gama a partir de 1924 pelo que até aí a pequena estátua aqui vista desde cerca de 1886 servia de antecipação. De 1924 até cerca de 1975jardim continuou a chamar-se VG sendo depois redonominado Tunduru. 
Relativamente às outras duas obras citadas por APL, sobre o livro “The Key to South África: Delagoa Bay” por Montague George Jessett também disponível na Internet e a estátua que lá se via falaremos noutro artigo.  
Sobre a obra “From Barberton to Paris by the Eastern Route” do ano de 1897 e de L. J. Vigneron não tenho mais referências para além das de APL. Mas olhando para as fotos de Fowler podemos dizer que a coluna de bronze referida por Vigneron devia ser o pilar que está entre a estátua e o pedestal, que deve ser de pedra e se vê mais claro na FOTO 1. Isso confirmaria que do tempo de Fowler (c. de 1886) ao de Vigneron (até 1897) estava em questão uma única estátua. Daí pode pensar-se que ela tivesse sido instalada inicialmente na parte mais a sul = baixa do jardim (por onde ele começou como se viu nas fotos de Fowler) e que antes de 1897 essa estátua tivesse sido deslocada para o que passaria a ser a entrada principal do jardim a qual foi criada mais acima na encosta mas não se sabe se isso teria já acontecido em 1897
Como APL disse que não sabe o que aconteceu à estátua de VG depois da referência de Vigneron em 1897, procurei-a em imagens posteriores do jardim e refiro aqui dois possíveis casos:
Possibilidade A de se ver a estátua posteriormente a 1897:
O postal seguinte da firmay Bayly mostra em primeiro plano o lago redondo e ao fundo o coreto do jardim (como mostraremos aqui):

FOTO 1
Vista para norte com o lago redondo e o coreto no jardim botânico 

Em relação o que se vê na direcção do coreto, comparando a FOTO 1 que suponho ser mais antiga com outra feita por Santos Rufino (SR) no mesmo local cerca de 1929:

MONTAGEM 2
à esquerda: para lá do centro do coreto havia algo num pedestal
à direita:
já não se via o que tinha havido antes 

Estaria na FOTO 1 ainda a estátua inicial de Vasco da Gama que consistia dum busto sobre um pedestal? Estaria na FOTO 1 outra estátua - maior - de VG? Seria uma estátua com outro motivo? Seria outra coisa que não uma estátua?
Podemos comparar melhor o que se vê na FOTO 1 com a estátua inicial de VG das fotos de Fowler  de cerca de 1886:


MONTAGEM 2
à esquerda e centro: busto de Vasco da Gama visto de frente e de trás cerca de 1886
à direita: por trás do coreto, o pedestal podia ser mesmo, 

a estátua parece-me que não mas ...

No jardim existia ainda a estátua da 4 deusas que não esteve sempre na mesma posição mas não parece corresponder ao que se vê na FOTO 1. Por isso o que se vê na FOTO 1 fica indefinido o que significa que por esta pista não se encontrou a estátua de VG depois das fotos de Fowler em 1886/87 e da sua observação por Vigneron em 1897. 

Possibilidade B de se ver a estátua posteriormente a 1897:
Uma foto de 1906 mostra (mas com pouquíssima qualidade) duas estátuas junto ao jardim o que é analisado em artigo seguinte.

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