Jardim botânico, actual Tunduru: mais da estátua de VG e estado do jardim c. de 1897 (3/)

Continuaremos a tratar do jardim botânico que a Sociedade de Arboricultura e Floricultura da antiga Lourenço Marques criou em Dezembro de 1885 em terreno entre a encosta e o pântano junto à Baixa da cidade. 
Como vimos já Alfredo Pereira de Lima (APL) tinha tido conhecimento de que desde cedo houve nesse jardim uma estátua de Vasco da Gama (busto sobre pedestal) a partir de três livros. De dois deles falámos já e acrescentámos aí outra foto como tendo hipótese de nela se ver a estátua. 
Detalharemos aqui o que APL disse doutro livro e veremos o que esse livro mostra e diz a esse respeito. Citando APL com ligeiras adaptações; "A primeira indicação da existência desse monumento encontrei-a nos anos de 1962 quando adquiri num alfarrabista de Johannesburg o livro “The Key to South África: Delagoa Bay” por Montague George Jessett, editado em Londres no ano de 1889. A página 69 desse livro se dá à estampa um trecho do Jardim Botânico da cidade de Lourenço Marques no qual se vê nitidamente uma estátua a Vasco da Gama".  
Esse livro foi de facto publicado em 1899 (dez anos mais tarde do que APL disse) e está agora disponível em pdf e nele podemos ver a imagem dessa estátua que APL que não tinha mostrado nas suas obras. A partir da imagem do livro podemos concluir também que a estátua já lá estava colocada antes de 1899 (mas depois de 1889 que APL por erro considerou) pois a mesma foto tinha surgido em Outubro de 1894 no jornal inglês "Illustrated London News" (com indicação de que tinha sido providenciada por um Mr Fellows ?). Eis a imagem do jardim que APL viu no livro "The Key to South África: Delagoa Bay": 
FOTO 1
Legenda original tanto do jornal como do livro: Jardim perto da Alfândega.
foto será de 1894 ou anterior.
Amarelo: estátua 
Verde escuro: barraca de madeira do jardim

Vamos recordar na FOTO 2 de Fowler de 1887 ou pouco antes, ao início do jardim, a estátua que lá havia e que como vimos no artigo anterior parecia representar Vasco da Gama. 

FOTO 2
Vermelho: mesma estátua da FOTO 1
Verde claro: barraca de madeira ou ponte?

Comparando as fotos, a FOTO 2 foi tirada do antigo pântano para a encosta a caminho da alta da cidade com palmeiras correspondendo à posição do jardim. Na FOTO 1 não se viam as palmeiras pelo que presumo que ela tenha sido tirada olhando só para o antigo pântano onde tinham sido plantados eucaliptos, quer dizer com a encosta à esquerda. Mas para que isso fosse possível a barraca de madeira ou tinha mudado de posição ou haveria duas semelhantes, porque senão na FOTO 2 ela devia estar à esquerda ou mais à direita do que está. 
Isso quer dizer que a FOTO 1 mostrava que havia uma estátua parecida com a da FOTO 2 que provávelmente era de Vasco da Gama num jardim em LM. Mas a sua legenda original (tanto na revista como no livro) falava de "Jardim perto da Alfândega" que era num local diferente do jardim VG. Penso daí que a conclusão de APL de que se tratava nessas duas obras (no livro de Montague e álbum de Fowler) do mesmo jardim no mesmo local não é tão imediata como ele apresentou, mas avaliando as alternativas parece-me que APL estava certo nesse ponto (ver mais análise desse aspecto aqui). 
Para lá do pormenor da estátua e em relação ao estado do jardim para o final do século XIX (19), no livro "The key to South Africa: Delagoa Bay" Montague George Jesset (MGJ) faz-lhe referências elogiosas: "The Botanic Garden, though small, is full of a great variety of trees belonging both to tropical and temperate zones. ....There have recently been established botanic gardens, which are really excellent. They are well laid out, and after they have had an opportunity of becoming set, with care and attention they should prove a most valuable addition to the town and a popular place of public resort. Trees, shrubs, and plants alike seem to flourish in a truly wonderful manner, so there is no reason why these gardens should not eventually favourably compare with those at Cape Town, Durban, Johannesburg, &c. Public gardens are a boon to any South African town, and during the hot months are a real want and an undisguised blessing."
O que MGJ disse entrava um tanto em contradição com o que L. J. Vigneron escreveu no livro publicado em 1897 "From Barberton to Paris ..." de que o "jardim estava seco sem fontes nem passarinhos". De facto como APL informa, a sociedade que criou o jardim após o "início auspicioso" não teve capacidade para continuar a obra e após um certo abandono foi a Câmara que se encarregou dele (o que acontecia já em 1897 mas a visita de Vigneron terá lógicamente sido um tempo antes da publicação do seu livro feita nesse ano). 
Que o jardim ao longe parecia mais um matagal que outra coisa pode ver-se na FOTO 3 de Lazarus que será de 1899 em diante. Um jardim botânico não foi feito para mostrar árvores locais (viam-se principalmente palmeiras e presumo eucaliptos plantados para a secagem do pântano) e efectivamente mais tarde o jardim veio a mostrar árvores exóticas como é devido (ver aqui uma das fotos de Shantz).


FOTO 3
A zona mais arborizada que o resto, para norte do recinto das Obras Públicas,
corresponde ao jardim botânico mas parecia um matagal

Continuaremos a tratar de pormenores do jardim nos artigos restantes desta série.

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