MR - novo Teatro Gil Vicente de LM - fachada e sua iluminação (B/)

Continuamos mostrando a adaptação do texto de António Rosado do seu livro  "Uma Obra" e publicado em 1958. O texto original tem muitos adjectivos  auto-elogiosos que cortei.
Dizia o programa do espectáculo da inauguração do novo Teatro Gil Vicente na Av. Aguiar, depois D. Luis de Lourenço Marques (LM) e actual Samora de Maputo, confirmando o que se tinha dito sobre o que tinha sido projectado como se disse no artigo anterior
«A construção duma casa de espectáculos da categoria do novo «Gil Vicente», nos tempos de crise que vão correndo e numa cidade de limitadas possibilidades como Lourenço Marques (LM), pode considerar-se arrojada. O Teatro possui capacidade para 1 250 pessoas, confortávelmente instaladas. Os tempos antigos em que a comodidade do espectador se sacrificava pela maior quantidade de lugares já desapareceram e se na nossa sala adoptassemos essa medida muito maior lotação ela teria. Na sua disposição, porém, preferiu a Empresa sacrificar muitas cadeiras, sacrifício amplamente compensado pelo bem-estar que vai criar nos seus frequentadores"
«A fachada do «Gil Vicente», de linhas sóbrias, modernas, apresenta uma iluminação única no género, em LM. No topo, um letreiro com o nome do Teatro, a luz «neon» azul; aos lados, dois enormes fachos luminosos, com 8 metros de altura, por 2 de largura e de 25 lâmpadas cada; mais abaixo uma «marquise», anunciando os espectáculos em toda a sua orla; e quatro intensos focos iluminando a entrada. 
Primeiro fotos antigas para ilustrar e clarificar o texto. A primeira vem do boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro disponiblilizado pela hemeroteca digital da Câmara Municipal de Lisboa e mostra a fachada iluminada: :
Teatro Gil Vicente na Av. D. Luis de Lourenço Marques, actual Samora de Maputo
Na foto de cima nota-se bem os quatro intensos focos iluminando a entrada a partir da parte inferior da sua placa de cobertura (marquise). 
Seguem-se duas fotos retiradas de "A Obra" por isso no máximo de 1958 e que com um pouco de exploração aportam informação interessante::

Filme em cartaz "A noite de fantasmas". Um dos seguintes seria "O Filho de Monte Cristo"


O modelo gigante de Charlot anunciava o espectáculo de variedades do artista Octávio de Matos pai (1890-1964). Nas recentes notícias do falecimento do filho, artista de music-hall chamado Octávio de Matos (1939 - 2019) dizia-se que quando jovem ele tinha passado longas temporadas no sul de África acompanhando o pai em digressão. Mais concretamente na página de wikipédia do filho diz-se que subiu ao palco pela primeira vez aos quatro anos com o pai e que como actor participou com essa idade numa peça de teatro de revista infantil em Lourenço Marques. Isso teria então acontecido cerca de 1943 e como o filme "O Filho de Monte Cristo" (imdb) saíu em 1940 esta foto deve ser de presença do pai em LM um pouco anterior à "estreia" do jovem Octávio de Matos. Suponho que no grupo de cinco pessoas fotografado à frente do Charlot estivesse Octávio de Matos (pai) e que Manuel Augusto Rodrigues fosse o senhor mais idoso ao centro mas ...
Desde a inauguração em 1933 e até 1948 este Teatro Gil Vicente (TGV) foi o único cinema de Manuel Augusto Rodrigues. Só depois da inauguração do Teatro Manuel Rodrigues na Av. 24 de Julho em 1948 a organização passou a ter dois écrans e não sei que estratégia adoptou para cada um, presumo que o primeiro factor a ter em conta terá sido a capacidade do novo cinema que era cerca de 40% superior à deste TGV.
A foto seguinte tem o anúncio do filme Gone with the Wind (imdb), lançado em 1939 e estreado em território português em LM. Assumindo que fosse na temporada de estreia do filme em LM, então esta foto seria de cerca de 1940 tal como a anterior:
Gone with the Wind = Foi-se com o Vento = E Tudo O Vento Levou, 
premiado com oito "Óscares" de Hollywood
Aqui o ainda com filme anterior ao "Foi-se com o vento" em exibição mas o cartaz desse já estava colocado na fachada, em imagem da revista "Animatógrafo" de Novembro de 1941:
Strike Up The Bain = O Rei da Alegia de 1940 no imdb.
Trailer com os jovens Micly e Judy
Saltando uns 75 anos do início dos anos 40 para tempos recentes:
Teatro Gil Vicente em 2013 (foto de Lebreiro Henriques do flickr)
Corpo principal do teatro e o seu salão de chá à esquerda 
em vista da descida para a Baixa
Nota-se nas fotos recentes que algumas das peças de cobertura translúcidas dos "enormes fachos luminosos" tinham desaparecido. A seu respeito nota-se um efeito interessante na primeira foto, propositado ou não, de que aos lados dessas colunas revestidas a vidro ou plástico, havia faixas verticais em baixo relevo e nelas a luz parecia ficar contida, criando-se assim três graus diferentes de iluminação da fachada de cada lado da entrada para o cine-teatro.
No próximo artigo falaremos especialmente do átrio e das bilheteiras deste novo Teatro Gil Vicente de 1933.

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