THE MARVELS OF MOÇAMBIQUE by RAMBLIN' RANDY - edifícios na cidade dos anos 50 (1)

Em agosto de 2018 o bloguista "Ramblin' Randy" escreveu um artigo sobre a sua visita a Maputo, antiga Lourenço Marques (LM) com imagens estupendas e ideias desafiantes (ao contrário dos lugares comuns habituais destas publicações) e que por isso traduzo e comento, o que vou distribuir por vários artigos no HoM.
Diz ele logo ao princípio: "Uma cidade perdida no tempo - Enquanto caminhava pelas ruas secundárias da Baixa da cidade, era difícil não me perder nas curvas e linhas elegantes dos decrépitos prédios Art Déco ao meu redor. Vendo-os com as cores pastel desbotadas e ofuscadas pelo sol, perguntava a mim próprio se as pessoas da cidade sabiam o quão especial era a sua cidade para um tipo como eu. Fariam essas pessoas alguma ideia?"
Primeiro "Ramblin' Randy" usa certamente uma figura de estilo porque se terá apercebido que a esmagadora maioria dos habitantes de Maputo tem preocupações mais prementes do que considerar se a sua cidade é ou não especial "de todo". Mas presumindo o alcance da sua questão "retórica", acho que mesmo a classe mais favorecida académica e/ou económicamente e salvo honrosas excepções não tem essa noção parecendo-me que há mais o elogio da modernidade do que do antigo. 
Em contraste com essa atitude predominante, "Ramblin' Randy" viu por exemplo o espalhafatoso prédio moderno do Banco de Moçambique e só referiu o facto de ser "novo", porque deve ter achado que era igual aos que pululam em qualquer cidade sem história. No fim de contas é porque as pequenas coisas da "cidade histórica" me parecerem monosprezadas que o HoM se foi/vai fazendo. No entanto, e este tema deve ter sido muito debatido pelos especialistas, também tenho a dizer que é mais fácil a quem venha de fora dar valor ao antigo em qualquer cidade do que quem vive nela, pois esses por um lado habituaram-se ao panorama e por outro como têm de sofrer as consequências negativas da vestustez podem no subconsciente ansiar que ela seja posta de lado.
Das fotos do artigo de Randy começamos por dois edifícios de estilo modernista, o primeiro penso que até agora desconhecido e o segundo bem conhecido do HoM: 
Prédio Vila Nova de Gaia, suponho que na Av. Lumumba

Descendo da encosta da Maxaquene para a Baixa, aí chegado Randy fotografou um dos seus edifícios mais conhecidos, o moderrnista prédio Rubi de cerca de 1950 (ver mais com esta ETIQUETA)
Prédio Rubi decrépito visto pela esquina a sudoeste

Para comparar poderíamos mostrar a Randy estas fotos do passado: 
Prédio Rubi visto da Praça 7 de Março, actual 25 de Junho
pavimentada e com canteiros de jardim

E o Prédio Rubi numa foto de 1954 com a Rua Lapa entre ele o o prédio Fonte Azul
Prédio Rubi na Baixa quase novo em 1954

Disse depois Ramblin' Randy talvez referindo-se específicamente ao Prádio Rubi "Por vezes pensei que estava na Ocean Avenue (Drive), em Miami Beach, mas a decadência fez-me lembrar que não estava. Estruturas magníficas apodreciam, com poucos sinais de manutenção enquanto que ervas daninhas faziam o seu caminho através de rachas no concreto. Mas quando passava por um prédio que tinha sido remodelado, com pintura fresca e ferragens brilhantes, percebi que realmente gostava mais das casas abandonadas - elas tinham mais caráter ". Sinceramente acho que não deve ser muito positivo em termos do "perfil psicológico" de ambos, mas há certa coincidência entre os pensamentos de Ramblin' Randy e os meus sobre a fotogenia da decadência, tema que abordei anteriormente aqui e aqui
Àcerca da similitude entre Maputo e Miami fiz este e este artigos específicos mas penso que é relativa pois a percentagem de edificios realmente bonitos em Maputo é muito menor do que em Miami, ver o dez mais / "top ten" do HoM aqui Acho que a arquitectura média desse tempo em LM embora no padrão modernista (já na sequência do art deco que era mais exuberante) foi no registo económico / eficaz / eficiente sem pretensão a criar-se obras de arte de rua. De facto os bairros da cidade desse tempo parecem-me mais similares aos bairros "banais" dos anos 40 /50 que foram de classe média em cidades centro ou sul americanas.  No fim de contas parece ser essa também a opinião de Ramblin' Randy pois acaba por precisar, e em vez de Miami diz "Talvez a parte antiga da cidade (de Maputo) me tenha lembrado mais Havana, uma cidade em que tal como nesta uma arquitetura fabulosa foi abandonada, ficando como se tivesse sido uma fábrica de aço do Ohio que tivesse fechado décadas atrás."
Ainda da Baixa de Maputo, Ramblin' Randy mostra uma foto da sede do Clube Ferroviário (ver mais artigos aqui) e deve ter ficado impressionado embora não pareça ter visto o seu interior que também é muito interessante. Depois começou a subida para o bairro do Alto Maé de que veremos no artigo seguinte no HoM uma das fotos. 
artigo de Ramblin' Randy sobre Maputo cobre mais assuntos do que os que o HoM trata e por isso merece uma visita directa. 

Comentários