Mercado Municipal/Central/Vasco da Gama/Bazar - traseira, interior e lados

Começamos com uma imagem de E. Peters e por isso de cerca de 1905 e que é curiosa principalmente pela legenda. 
Estavamos fora da zona coberta (hangar) do mercado Vasco da Gama de Lourenço Marques (LM), actual Central de Maputo na sua traseira e precisamente no passeio de acesso ao portão para o lado da Av. Paiva Manso, actual Magaia mas do muro com grade ao fundo da foto até lá eram ainda 60 metros de distância (ver aqui o local agora muito alterado).

FOTO 1 (nova)
Mercado de trabalho na traseira do Mercado Vasco da Gama 
vendo-se ao fundo o seu portão do lado oeste = poente

A legenda "Labour Market" dá ideia que aqui se concentravam trabalhadores à jorna esperando que os patrões os viessem recrutar ao princípio do dia (situação ainda corrente aqui nos Estados Unidos, "day laborers"). Mas na entrevista do moçambicano M.M. Vicente no boletim do Arquivo Histórico de Moçambique n. 2 de Outubro de 1987 ele dizia o seguinte sobre a sua experiência de chegada à cidade no início de 1937: "quando uma pessoa vinha para aqui à procura de trabalho, ia procurar trabalho ali no Mercado ...Central. As pessoas iam lá. Ficavam ali e vinham as senhoras para escolher um dos rapazes que estavam áli. Depois, quando fui ao Mercado Central, fui ali ter com outros rapazes. Havia lá muitos. Veio uma senhora, D.Mariana, uma senhora que tinha uma pensão ali na 24 de Julho. .... Quando acabou o mês ... a senhora pagou-me 100$00 ...". Presumindo que uns 30 anos antes o processo era o mesmo, esse mercado de trabalho da FOTO 1 não era (só) para "day laborer" e por isso o inconveniente dos recrutadores terem de entrar dentro das instalações em vez de negociarem na rua era limitado.
O portão virado a oeste = poente = actual Av. Magaia que se via na FOTO 1 aparece à esquerda na FOTO 2 de cerca de 1910 e que foi tirada para noroeste mostrando a mesma zona descoberta na traseira do mercado. Ai vê-se a esquina a nordeste no muro da traseira do mercado, por acaso na direcção dum dos seus kiosks. À direita dessa esquina está o muro virado para a Av. Álvares Cabral, actual Manganhela também a certa distância e com  fiada de árvores no passeio. 


FOTO 2
à esquerda, ao fundo: o mesmo portão da FOTO 1
à direita: o portão a norte nas traseiras, os dois com candeeiros de "pé alto"
Passamos para a FOTO 3 presumívelmente na mesma altura da FOTO 1 mas sob o hangar (coberto) do Mercado que ficava para a esquerda do campo da objectiva das FOTOS 1 e 2. Note-se aí a grande percentagem de clientes ou mirones não europeus, sem grande diferença em relação ao que acontecia no mercado exterior das FOTOS 1 e 2, o qual era expressamente desenhado para comércio do tipo africano tradicional. 
Mas o que nos "ocupará o espírito" daqui para a frente será como este hangar coberto foi fechado do lado poente = oeste (também se vê o portão da FOTO 1 à direita desta foto). 

FOTO 3
Na parte coberta do mercado e na tradicional zona do peixe 
com o lado poente = oeste ao fundo 
O topo do edifício do hangar a poente tinha cinco secções entre colunas. Devia ter sido preparado para ser compartimentado no futuro, mas nessa altura parecia-me oferecer passagem aberta do interior para o exterior, o que acho se vê ainda melhor na primeira foto deste artigo ou na FOTO 4 deste que me parece foram quase simultâneas.
Vê-se na FOTO 5 seguinte a parede exterior do topo que estava ao fundo na FOTO 3 mas já fechado e como veremos compartimentado para ser usado como lojas. Esta FOTO 5 é anterior à reabilitação recente do mercado e mostra então a fachada a poente = oeste do edifício.


FOTO 4
Fachada do edifício do mercado do lado poente = oeste =Av. Magaia 
fechada com paredes e/ou portas e /ou  janelas

Noto que na FOTO 3 falámos de cinco secções de passagem entre o interior e o exterior e são as que vemos do lado esquerdo na FOTO 4. Há aí uma sexta secção à direita mas faz parte do bloco da fachada principal e por isso não se podia ver à esquerda da FOTO 3.
Pode-se observar do lado esquerdo da FOTO 4 que este topo a oeste do edifício começa ao fim da cobertura do hangar e entre essa parede e a parede exterior a largura é de uns 10 metros. O texto do HPIP (Dr. António Sopa) diz que posteriormente à inauguração do mercado as únicas "obras realizadas .. envolveram a construção de uma segunda fachada, virada para a Avenida Marx". Se isso aconteceu desse lado a nascente, suponho que tivesse acontecido também do lado poente, o lado que se vê ao fundo da FOTO 3 e à frente na FOTO 4. Essa construção posterior poderia explicar o porquê de na FOTO 3 parecer haver ao fundo uma parede única e ter depois passado a haver duas paralelas. Essa dúvida deveria poder ser esclarecida olhando para o desenho do que foi inicialmente construído mas ...
A FOTO 5 é da mesma altura da FOTO 4, também anterior à reabilitação. Como é do mesmo Talho Ferreira em princípio não se saberia se seria da mesma parede do edifício mas as vidraças na zona arqueada do topo eram diferentes das da FOTO 4. Aí elas não tinham aberturas e peças com desenho radial e em arco em vez de serem rectangulares como nesta FOTO 5.

FOTO 5
Vidraça na zona arqueada da parede com janela central "rectangular", 
diferente das vidraças exteriores vistas na FOTO 4
Conclui-se que as as FOTOS 4 e 5 são de paredes diferentes do edifício do mercado e como a FOTO 4 é do exterior imagino que a FOTO 5 fosse do interior, quer dizer que o Talho Ferreira ocupasse parte do corpo lateral a poente do edifício dum lado ao outro (de leste a oeste). 
Suportando essa ideia noto que na parede ao fundo = a poente da FOTO 3 as vidraças interiores pareciam estar divididas em três partes, estando até algumas delas abertas como na FOTO 5. Todavia fotos recentes do mercado (ver a última aqui) mostram vidraças interiores do mesmo tipo das exteriores da FOTO 4 pelo que fico sem certeza de onde será a FOTO 5. A presumível alteração das vidraças interiores pode ter sido feita na remodelação recente mas ...
Quanto às vidraças exteriores podemos ver que em 1939 elas tinham já o desenho radial que se vê na FOTO 4 de 2007.

FOTO 6
à esquerda: fachada a poente do mercado ao sol 
à direita da esquina a sudoeste do mercado: fachada principal na sombra
Vê-se também na FOTO 6 que nenhuma das secções do corpo no topo a poente do edifício era na parte inferior fechada por parede, para além das colunas da estrutura. Tal quer dizer que as paredes que se observam na FOTO 4 nas três secções centrais, de forma parcial ou completa, foram edificadas depois de 1939 mas podemos também ver aqui que em 1963/64 elas já estavam como na FOTO 4 de há alguns anos. E andando mais para trás no tempo, mesmo em relação à FOTO 6, podemos ver também aqui na FOTO 2 que anteriormente essas secções tinham sido fechadas por cortinas de correr de cima a baixo,
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