Estação de telecomunicações do Monte Mponduíne na Namaacha

Violeta Silva publicou no grupo de facebook Alto-Maé LM uma interessante foto presumo que dos anos 70 duma complexa instalação de telecomunicações na Namaacha onde trabalhou o marido que era técnico dessa especialidade, mas o seu texto e os comentários que recebeu tinham poucos dados relevantes adicionais.

FOTO 1

Estação de telecomunicações do Monte Mponduíne

Felizmente neste artigo A. Majacunene, que parece estar técnicamente bem informado, diz que estas instalações faziam parte do sistema de transmissão troposférico que foi usado para comunicações telefónicas pelos CTT e depois TDM até aos anos 80. Este ligava Lourenço Marques (LM), actual Maputo (que estaria ligado a esta estação do Monte Mponduine) - Massinga - MOnte Xiluvo (ligado à Beira) - Quelimane (antigo aeroporto) - Nampula (edifício Girassol?). 
No entanto um leitor disse que este sistema até 1977 ligava à Malvérnia junto à fronteira com o actual Zimbabué pelo que pode ver-se aqui a transmissão seria uma linha de sul para norte (ao centro da imagem) e daí o sinal ia para o Monte Xiluvo. Como Massinga  fica junto à costa é possível que depois da independência se tenha feito a mudança para aí pois a zona da Malvérnia terá sido muito afectada pela guerra civil. É interessante notar que a Malvérnia teria sido inicialmente escolhida para ser a segunda estação do feixe não só por estar na "boa" direcçáo e distância para norte mas também por ter acesso fácil pela linha férrea.
Em baixo está uma ligação à wikipedia que explica que as ondas rádio usadas neste sistema tinham alcance um pouco superior ao da linha de vista porque se reflectem um pouco na camada baixa da atmosfera, a troposfera. Mas não contando muito com isso, as estações eram instaladas em posições altas, caso desta e suponho que da próxima do mesmo sistema que é referido ser a de Massinga e cuja posição deve ter sido definida tendo em conta a distância máxima permissível em relação a esta e a disponibilidade na sua área de uma elevação similar no terreno.

Tentando eu então entender o que existia no Monte Mponduíne a partir da foto e da preciosa informação de A. Majacunene:

FOTO 1 com marcas

Amarelo: um feixe de microondas que não sei para onde ligaria

Vermelho e azul fino: feixes entre as antenas de corneta de TR/RX

 e os seus grandes reflectores parabólicos troposféricos

Vermelho e azul grosso: feixes rádio principais para a estação seguinte mais a norte

Roxo: cabos passados em calha entre as antenas de TR/RX

e os equipamentos de TR/RX colocados no edifício 

Vê-se dois reflectores no topo do monte porque devia haver dois feixes principais paralelos pois como a transmissão troposférica tem muitas perdas os sinais de cada um reforçavam-se mútuamente e para o mesmo servia o grande tamanho dos reflectores. Penso que cada um destes feixes transportava sinais radio-eléctricos nos dois sentidos, por isso as antenas (as cornetas instaladas nas pequenas torres metálicas à direita da foto) seriam de TRansmissão/RX (recepção). 
Suponho que esta estação estivesse ligada ao terminal na cidade de LM através dum cabo coaxial enterrado que assim deveria tem uns 80 km de comprimento e umas estações com repetidores no caminho (Boane, Umbelúzi, Matola?). Alguns "achismos" do HoM que tanto podem estar certos como errados mas que na falta de alternativa passarão por "ciência". 

Diz ainda A. Majacunene no seu artigo, e juntando-lhe eu uns pós, que entretanto a transmissão troposférica interurbana se tornou-se obsoleta e há cerca de 35 anos estes equipamentos foram substituidos para esse efeito por transmissão em HF (alta frequência) e depois por satélite e microondas. Sabe-se também que depois foi lançado um cabo submarino óptico ao longo da costa de Moçambique e que últimamente se tornou eficiente instalar ligações terrestres ópticas na coluna dorsal do país dado o grande incremento de tráfego da telefonia móvel e internet / dados. Assim estes grandes equipamentos da foto dos anos 70 foram desmontados há cerca de 35 anos mas devido à sua posição estratégica para transmissões rádio estas estações continuam a ser usadas pelos operatores de telecomunicações nomeadamente nas redes móveis. 
Procurando por fotos mais actuais do Monte Mponduine e das suas instalações que no google imagens se encontram aqui, este artigo fala de ciclistas de fim de semana que fizeram um treino mais "a sério" na Namaacha e subiram ao monte, que dizem é o local mais alto da Província de Maputo. O que é aí relatado passou-se em 2010, foram excepcionalmente autorizados a sair da estrada principal e a entrar na estrada de ligação entre o portão da TDM e o cume do monte pelo que as imagens, uma delas aqui usada com a devida vénia, devem ser um tanto raras. No entanto não chegaram a fotografar os equipamentos que lá existem presumo que por restrições de segurança. Na altura instalava-se um cabo de fibra óptica ao longo da estrada pelo que a área continuava a ser usada pela TDM, o que presumo aconteça ainda.

FOTO 2

À entrada da zona reservada da TDM no Monte Mponduine
(ver foto no artigo duma vista do cimo)

Vê-se que a zona da TDM é protegida pela portaria e vedação de arame farpado (e minas  certamente do tempo da guerra civil pós independência) e penso que se vê algumas instalações no alto no monte no canto superior esquerdo da foto.

Em complemento ao que se disse aqui em relação à comunicações interurbanas em Moçambique nos anos 70, recordo que falei aqui da estação de telecomunicações por satélite para o tráfego intercontinental localizada em Boane e construída também pelas autoridades portuguesas nos anos 70.

Transmissão troposférica: Radio waves in the VHF and UHF bands can travel somewhat beyond the visual horizon due to refraction in the troposphere, the bottom layer of the atmosphere below 20 km. This is due to changes in the refractive index of air with temperature and pressure.