Como disse no sexto artigo e falando agora mais específicamente dos submarinos e por isso com vaguíssima ligação a Lourenço Marques (LM), actual Maputo onde só estiveram quatro dias, uma parte da motivação do seu périplo a África terá sido a competição por destaque entre a Marinha e a Força Aérea italianas. Outra parte da motivação e como já dissemos também terá sido o reforço dos laços afectivos com os emigrantes italianos em África o que é referido pela revista Marinai de 1989 que vimos seguindo. No contexto italiano e europeu de 1933/34 haveria outros objectivos imateriais como sejam o esforço de diplomacia externa, afirmação nacional, propaganda política interna e externa do regime fascista e um estudo refere que houve também a intenção de espiar as bases francesas nomeadamente Diego Garcia (nas páginas 15/16). Tudo isto aparece muito destacado e discutido em inúmeros sites italianos que abordam este periodo.
Quanto à componente técnico-militar, da informação da revista vê-se que a viagem serviu de teste às embarcações em viagem muito mais longa que o habitual e navegando em águas oceânicas, equatoriais e tropicais o que não era habitual para a marinha italiana habituada ao Mar Mediterrâneo. Mas a classe Ballila de submarinos a que pertenciam tinha sido especificada para esse tipo de missão e esta foi a ocasião de os testar e afinar. Partiram armados e municiados como se fossem em missão militar e não levaram equipamentos adicionais salvo pequenos congeladores para conservar alimentos e frigoríficos para bebidas e as tendas à proa e popa para as paragens nos portos de que já falámos. A viagem serviu também para treino das tripulações e verificação dos procedimentos e segundo a revista tanto no aspecto da preparação de pessoal como no do material a situação foi considerada excelente, mas como é também de esperar devem ter sido "tiradas as devidas ilações" para futuras melhorias. O relatório final da viagem escrito pelo Comandante Carlo Savio dizia que "o cruzeiro também provou que com estas unidades é possível ficar fora da base por longo tempo sendo elas auto-suficientes, em climas excepcionalmente quentes e sem causar sérios problemas ao material, desde que haja fornecimento adequado de combustível e lubrificante e que as unidades tenham consigo as peças sobressalentes que especifiquei."
Recomeçamos com mais fotos das duas unidades na missão de que falamos aqui. A primeira foi tirada pelo sargento Vittorio Vacca que fez parte da tripulação do Enrico Toti e de quem há muitas fotos publicadas no site da associazione-venus.it:
E.TOTI (com as estruturas para os toldos) parado algures com águas calmas |
Em foto da revista Marinai, vê-se o outro submarino com a tripulaçâo formada no convés com os toldos comprovando que se estava aqui na viagem de circum-navegação a África:
Submarino italiano "Antonio Sciesa" certamente fotografado da torre do Enrico Toti. |
Passamos para fotos do interior dos submarinos, a primeira também da revista Marinai d'Italia:
Carlo Savio junto ao periscópio no compartimento de manobra do Sciesa com o oficial de navegação Dal Pozzo |
Do Tenente Dal Pozzo sabe-se que em 1941, já como comandante do submarino Ondina afundou por mau julgamento um paquete turco, país neutral, o que provocou muitos mortos e grande incidente diplomático (ver aqui muitos detalhes).
Outra foto mas do Toti tirada pelo sargento Vittorio Vacca que depois da viagem a África continuou colocado nesse submarino:
Outra foto mas do Toti tirada pelo sargento Vittorio Vacca que depois da viagem a África continuou colocado nesse submarino:
Compartimento no interior do Toti cheio de equipamento em 1935 |
Em 1935 o sargento Vittorio Vacca tirou também as duas fotos seguintes com o seu submarino navegando nas costas italianas:
Vistas para a ré e para a proa no Toti cerca de um ano depois de ter passado por LM |
Regressemos às fotos da revista Marinai respeitantes ao périplo de África em 1933/34:
Ginástica matinal da tripulação no convés
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E finalmente outra foto de Vittorio Vacca tirada em 1933/34 (mais do género aqui)
Tripulação completa do Toti no périplo de África |
A tripulação estava no convés do submarino com a escada passada para o cais algures para a direita e o Sciesa devia estar para a esquerda pois vê-se um toldo levantado desse lado.
Sobre o treino efectuado durante a missão, o artigo da revista Marinai d'Italia diz que foram feitos exercícios nos portos e principalmente em navegação. Exemplos do segundo caso são: treino para situação de homem ao mar, mesmo com mar agitado; imersão = submersão / emersão rápidas, imersão prolongada, ataques mútuos (entre os dois submarinos) em imersão, descida ao fundo do mar; recepção rádio com onda longa em imersão e exercícios hidrofónicos; preparação para poder disparar rápidamente com metralhadora Anti Aérea; reconhecimento / estudo da costa; etc. Doutro texto vi também. que foi treinado o reboque mútuo dos submarinos e feito treino de artilharia e de lançamento de torpedos.
A revista mostra também parte dum relatório escrito pelo Comandante Savio sobre a "espectacular" chegada em imersão à Cidade do Cabo a 3 de Dezembro de 1933 de que vimos já uma foto da fase final no artigo anterior. Dizia ele simplificando "essa chegada foi bastante interessante como exercício. Os dois submarinos imergiram com facilidade - apesar do mar difícil - meia hora antes de chegarem ao Cabo. No trajecto para a costa mantiveram-se à distância de 1.5 milhas náuticas um do outro e comunicando hidrofónicamente para acertar as rotas. Emergiram com espaço entre eles de cerca de 200 metros e com poucos minutos de diferença à hora prevista e a cerca de 900 metros do porto também com mar agitado. Dessa posição navegaram à superfície para o porto a alta velocidade (a 13 nós mas o máximo era 17.5 nós). Estavam rodeados de barcos com compatriotas italianos, foram sobrevoados por aviões a baixa altitude e a estrada marginal estava cheia de espectadores."
Podemos ver nova imagem dessa chegada ao Cabo do site Con la pelle especializado na Regia Marina:
Sobre o efeito de propaganda nacional e internacional conseguido no Cabo adianta ainda simplificadamente (não consigo também ver o texto completo original) o Comandante Savio "Entusiasmo, admiração trouxeram a bordo dos submarinos milhares de visitantes e as tripulações foram objeto de atenções, cordialidade e convites e não apenas a nível cultural e cerimonial. A cobertura da imprensa italiana foi extensa elogiando as tripulações e a Marinha. Os jornais locais nomeadamente os ingleses publicaram artigos entusiásticos e mostraram grande interesse destacando as capacidades dos submarinos italianos e divulgaram debates de especialistas sobre essa arma".
A descrição do Comandante Savio desta chegada é empolgada mas não refere um dado que me parece relevante, o de que os seus submarinos fizeram parte das cerimónias inglesas de comemoração do armistício da primeira grande guerra, de que a Itália tinha sido também vencedora mas em que estava no caminho (silencioso) para mudar de campo: "Social events included the entertainment of visiting foreign ships - two Italian submarines, Antonio Sciesa and Enrico Toti) on a five-month round Africa cruise".
Sobre o que aconteceu aos dois submarinos depois de 1934, aqui informação muito completa básicamente dizendo que ambos provávelmente participaram como unidades de apoio na guerra civil de Espanha de 1936 a 1939 - onde a Itália alinhou com os revoltosos de Franco e a Alemanha nazi - mas sem grande destaque. Na segunda guerra mundial onde a Itália entrou só depois da rendiçâo da França aos Alemães, a sua participação militar foi limitada porque entretanto tinham sido técnicamente ultrapassados por novas classes de submersíveis.
Podemos ver nova imagem dessa chegada ao Cabo do site Con la pelle especializado na Regia Marina:
Sciesa frente à Cidade do Cabo com os barcos "italianos" à volta. A tripulação devia estar a montar a estrutura dos toldos após terem emergido. |
A descrição do Comandante Savio desta chegada é empolgada mas não refere um dado que me parece relevante, o de que os seus submarinos fizeram parte das cerimónias inglesas de comemoração do armistício da primeira grande guerra, de que a Itália tinha sido também vencedora mas em que estava no caminho (silencioso) para mudar de campo: "Social events included the entertainment of visiting foreign ships - two Italian submarines, Antonio Sciesa and Enrico Toti) on a five-month round Africa cruise".
Sobre o que aconteceu aos dois submarinos depois de 1934, aqui informação muito completa básicamente dizendo que ambos provávelmente participaram como unidades de apoio na guerra civil de Espanha de 1936 a 1939 - onde a Itália alinhou com os revoltosos de Franco e a Alemanha nazi - mas sem grande destaque. Na segunda guerra mundial onde a Itália entrou só depois da rendiçâo da França aos Alemães, a sua participação militar foi limitada porque entretanto tinham sido técnicamente ultrapassados por novas classes de submersíveis.
Sobre o Sciesa na guerra uma passagem interessante relativa ao submarino inglês Rorqual: "6 October 1942: ... on 4 October for return to Beirut, and while surfaced at night, (it was) attacked by Italian U-boat Sciesa with an acoustic torpedo which detonated some distance astern. Arrived Beirut on 12 October. The Italian’s commanding officer was convinced he had sunk Rorqual and the U-boat was presented with a commemorative plaque by Mussolini", episódio que deve ter sido fotografado aqui. O Sciesa foi (auto?) destruido em 1942 na Líbia onde estava a ser usado como navio de transporte de produtos estratégicos.
Sobre o "Enrico Toti" a informação é que ainda assim teve várias acções militares de ataque e afundou um submarino inglês na primeira parte da guerra (ver site com Detailed Activity). Foi depois usado como navio de treino e sobreviveu ao conflito mas foi desmantelado em 1946 dado que tendo sido derrotada a Itália deixou de poder ter submarinos durante uns anos (mais dados sobre o Toti).
Sobre o "Enrico Toti" a informação é que ainda assim teve várias acções militares de ataque e afundou um submarino inglês na primeira parte da guerra (ver site com Detailed Activity). Foi depois usado como navio de treino e sobreviveu ao conflito mas foi desmantelado em 1946 dado que tendo sido derrotada a Itália deixou de poder ter submarinos durante uns anos (mais dados sobre o Toti).
Textos técnicos sobre a classe italiana de submarinos de alto-mar Ballila, primeiro daqui:
"The country’s first post-WWI submarine design, the big Balillas went 1,900-tons and ran 284-feet long, capable of making 17-knots in a surface attack. Capable of diving to 400 feet – which was deep for subs of the 1920s, they could travel 13,000 nm on their economical diesel engines. Able to carry 16 torpedoes for their six tubes as well as a 120 mm deck gun, the design rivaled the U.S. Navy’s later Porpoise-class subs (1900-tons /289-feet/ 18-knots/ 16 torpedoes) of the early 1930s, which in turn was the forerunner of the USN’s WWII fleet boats. A fifth Balilla was constructed for Brazil, which in turn triggered Argentina to order three later Cavallini-class subs from Italy in the 1930s. Built by OTO at Muggiano, largely side-by-side, Italian Navy sisters Balilla, Domenico Millelire, Amatore (HoM: diferença para António explicada em cima) Sciesa, and Enrico Toti were all in service by 1928".
Da revista Marinai d'Italia de 1989:
"SOMMERGIBILI CLASSE "BALILLA" (2"): Unità della Classe: Balilla (2') - Millelire - Toti (1") - Sciesa'. Tipo a doppio scafo totale.
Profondità di collaudo: 100 metri. Dislocamento: tonn. 1450 - 1904 in immersione. Lunghezza metri 86'75'. Larghezza metri 7.80.. Immersione metri 4.78.
Apparato Motore:
- 2 Fiat 2000 HP - Veloc. 17.5 nodi in superf. (NB: os diesel)
- 2 Savigliano l0li0 HP - veloc. 8.9 nodi in immers (NB: os eléctricos).
Autonomia:
- in superf.: miglia 7050 a 8.5 nodi; miglia 3000 a 17 nodi;
- in immers.: miglia 110 a 3 nodi; miglia 8 a 8.9 nodi.
Armamento: 4 Tubi L. siluri, AV da 533; 2 Tubi L. siluri AD da 533; 1 cannone da 120/27;4 Mitragliere da 13.2; 1 tubo lanciamine (solo lo Sciesa)."
"The country’s first post-WWI submarine design, the big Balillas went 1,900-tons and ran 284-feet long, capable of making 17-knots in a surface attack. Capable of diving to 400 feet – which was deep for subs of the 1920s, they could travel 13,000 nm on their economical diesel engines. Able to carry 16 torpedoes for their six tubes as well as a 120 mm deck gun, the design rivaled the U.S. Navy’s later Porpoise-class subs (1900-tons /289-feet/ 18-knots/ 16 torpedoes) of the early 1930s, which in turn was the forerunner of the USN’s WWII fleet boats. A fifth Balilla was constructed for Brazil, which in turn triggered Argentina to order three later Cavallini-class subs from Italy in the 1930s. Built by OTO at Muggiano, largely side-by-side, Italian Navy sisters Balilla, Domenico Millelire, Amatore (HoM: diferença para António explicada em cima) Sciesa, and Enrico Toti were all in service by 1928".
Da revista Marinai d'Italia de 1989:
"SOMMERGIBILI CLASSE "BALILLA" (2"): Unità della Classe: Balilla (2') - Millelire - Toti (1") - Sciesa'. Tipo a doppio scafo totale.
Profondità di collaudo: 100 metri. Dislocamento: tonn. 1450 - 1904 in immersione. Lunghezza metri 86'75'. Larghezza metri 7.80.. Immersione metri 4.78.
Apparato Motore:
- 2 Fiat 2000 HP - Veloc. 17.5 nodi in superf. (NB: os diesel)
- 2 Savigliano l0li0 HP - veloc. 8.9 nodi in immers (NB: os eléctricos).
Autonomia:
- in superf.: miglia 7050 a 8.5 nodi; miglia 3000 a 17 nodi;
- in immers.: miglia 110 a 3 nodi; miglia 8 a 8.9 nodi.
Armamento: 4 Tubi L. siluri, AV da 533; 2 Tubi L. siluri AD da 533; 1 cannone da 120/27;4 Mitragliere da 13.2; 1 tubo lanciamine (solo lo Sciesa)."
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