Pancho Guedes e os 300 a 400 projectos construídos em Moçambique - avaliação HoM (2/2)

Continuo o tema do artigo anterior sobre quantos projectos de Pancho Guedes (PG) terão sido construídos em Moçambique, nomadamente se o número de 300 a 400 que ele "alvitrou" numa entrevista a um amigo se pode demonstrar agora ou não. 
Introduzo agora para análise o mapa que Pancho Guedes dava às suas visitas à cidade de Lourenço Marques, actual Maputo de edifícios com interesse e que tem cerca de 250 marcados e tento perceber com dois exemplos o que poderia esse mapa significar de origem e a partir daí tento ver em que é que ele poderia alterar as estimativas anteriores.
Com uma análise mais fina desse mapa para a zona da Baixa "estimo" que poderá haver mais 47% projectos construídos dos que os que eu tenho registado até agora e daí o meu número para Moçambique passaria a ser de 222, o que seria superior aos 184 estimados a partir dos números do Consulado que tinha usado no primeiro artigo e para a primeira comparação. Com essa possibilidade estar-se-ia então mais próximo dos 300 mas ainda muito longe. 
Tentei fazer análise semelhante desse mapa para a zona da Ponta Vermelha mas conclui que não era razoável fazê-lo. A conclusão que tiro dessa zona é que aí o meu número subiria de 10 e o total passaria a ser de 179 projectos construídos em Moçambique o que continuaria a estar abaixo dos 184 do Consulado e muito longe dos 300.
Resumindo e confirmando o que disse no artigo anterior pois não há grande alteração, os números que se podem estimar actualmente, tendo em conta o mapa das visitas e todos os dados anteriores sobre projectos nas listas / desenhos / etc mesmo que parciais, estão muito abaixo dos 300 - 400 que PG alvitrou. A diferença é tão grande que não me parece possível que se possam ainda descobrir projectos que a preencham, pelo que os números ditos por PG me parecem exagerados. 
Do estudo no mapa das visitas para a Ponta Vermelha que mostro no Anexo 2  passei a considerar a construção seguinte como sendo de PG. É o combóio de casas na Ponta Vermelha aqui em nova foto publicada no Facebook por Patrick Fitzpatrick.
Número 54 no mapa Guedesburgo: casas em seni-círculo na praceta 
na Ponta Vermelha agora atribuídas a Pancho Guedes
Quanto ao mapa das visitas, ele mostra que pode haver bastante ainda para se saber sobre a obra de PG, o que realmente foi construído, o que existe ainda (nos últimos anos terão sido demolidas pelo menos as vivendas da Pala e Sprackette o que lhe tenha sido erróneamente atribuído.
NB: o livro Vitruvius Mozambicanus que acompanhou a exposição do mesmo nome realizada em 2009 tem uma selecção de projetos mais significativos mas não o vi (Wook a 55 EUR mas esgotado ou não disponível). Nas fotos tiradas aos paineis da exposição que estão disponíveis não encontrei nenhum edifício que fosse novidade.
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Anexo 1. Análise "fina" do mapa das visitas para a Baixa
Como mencionei aqui com certo detalhe, apareceu recentemente um mapa de edifícios em LM que PG entregava às suas visitas a Lourenço Marques. Contei muito por alto cerca de 250 marcas de edifícios que se fossem todos de projectos de PG se revolucionaria os números até agora registado nas análises mais detalhadas e se estaria mais perto dos 300 - 400 que foram mencionados por PG como tendo sido construídos. Problema é que não sei o significado exacto das marcas, pois tanto podiam dizer respeito únicamente aos projectos de PG ou à combinação entre esses e os de outros projectistas que PG achasse interessantes. Para mais a cópia que obtive é de fraca resolução e por isso em muitos casos não se consegue ter a certeza se projectos bem conhecidos de PG lá constam ou não. A baixa resolução também não deixa ver a que edifícios corresponderão exactamente algumas marcas no mapa em zonas em que existem vários edifícios e em que nenhum deles se destaca especialmente. Por isso para se retirar informação do mapa tem de se fazer um esforço de interpretação e julgamento o que tento fazer aqui em duas zonas distintas da cidade.
Vamos primeiro ver o que temos nessa mapa relativamente à Baixa da cidade, zona em que se conhece bem a maioria dos edifícios existentes e também, espero eu, a grande maioria dos projectos de PG. Por isso partindo das marcas pretas e vermelhas originais do mapa temos:
marcas originais sem adicional: edifícios projectados de raíz e conhecidos de PG, 
em localização aproximadamente correcta
marcas mais círculo azul: edifícios não atribuídos a PG até agora
mas dos quais que pela época e pelo desenho poderá ter sido ele o autor
marcas mais círculo vermelho: edifícios que em princípio acho que não são de PG
marcas mais círculo amarelo: projectos de renovação e decoração conhecidos de PG 
Conclusões que posso tirar para a zona da Baixa, tentando servir de amostragem para o resto da cidade de Lourenço Marques, actual Maputo:
i. PG fez aí uns 15 edifícios de raíz que conhecemos bem, estão no mapa e são aqueles em que não coloquei marca adicional;
ii. dos edifícios marcados com círculo vermelho adicional, uma parte são contemporâneos de PG mas ao que conste não são de sua autoria e dada sua a relevância presumo que se fossem já se saberia. Por exemplo o II é o Hotel Turismo e o VI o Nauticus, dois importantes edifícios dos anos 50 e 60 que nunca vi atribuídos a/ou reivindicados por PG. Outros dois são anteriores ao início de carreira de PG que foi por volta de 1950, caso do VII que é a Imprensa Nacional do início do século 20 e do V que é o Flying Angel talvez dos anos 30 ou 40. pelo que no máximo PG teria feito remodelações. Sou levado a concluir daqui que pelo menos algumas das marcas no mapa seriam de edifícios recomendados por PG às suas visitas, mas sem terem nada directamente a ver com ele;
iii. os edifícios marcados com círculo amarelo são um projecto de renovação (Fortaleza e um de decoração (Djambu) que PG fez. Não se sabe se PG os teria considerado nos 300 - 400s construídos mas no total em LM/Moçambique são relativamente poucos;
iv. há ainda uns 8 edifícios - os da marca azul - que desconheço serem dele e que veremos detalhadamente a seguir pois é possível que o sejam. Noto que a lista do Consulado pode incluir alguns mas que eu não tenha sido capaz de os localizar por a morada indicada ser imprecisa e pela falta do mapa que complementaria a lista. São estes os edifícios do círculo adicional azul não atribuídos a PG mas que poderão ser dele atendendo ao estilo e idade:
a. sito na Rua Santos Gil, é possivel que seja um destes: esteestesestes (última foto)
b. prédio quadriculado perto da Somorel
c. perto da Cervejaria Nacional, aqui na FOTO 3
d. um dos prédios na Fernão Magalhães lado sul
e. prédio Bridler novo
f. torre dos consultórios médicos
g. prédio INAS
h. perto da esquina entre as Avs Fernão de Magalhães e Barre que não estou a ver qual seja.
Colocando esse sete possíveis numa montagem:
Alguns dos edifícios não atribuídos normalmente a PG, mas como
 estão marcados no seu plano da Baixa poderiam ser dele
Serão estes mesmo de PG ou estariam no plano simplesmente como recomendação para que as suas visitas, colegas e estudantes vissem o que outros profissionais iam fazendo na cidade? 
Assumindo a partir deste mapa que havia na Baixa sete edifícios de PG não atribuidos anteriormente, o número de projectos realizados de PG na Baixa passaria dos 15 confirmados no HoM até agora para 22. Extrapolando esse aumento de 47% (22-15=7/15) da Baixa para toda a cidade (e redondezas para simplificar), os 112 projectos que registei em artigos no HoM passariam a ser 165 e daí o total de construídos em Moçambique seria de 222 (165 + 10 no resto do território + 47 do banco ST), o que seria superior aos 184  (130 na lista do Consulado + 7 extra fora de LM e Gaza + 47 do ST) que tinha primeiro usado para a comparação com os que PG alvitrou. Estar-se-ia então mais próximo do limite inferior da gama dita por PG (300 projectos construídos em Moçambique) mas ainda muito longe dela e note-se que estamos agora a incluir projectos cuja garantia de que pertençam a PG é mínima pois em nenhum lado há essa informação, salvo essa possível interpretação do mapa (para além de incluir 47 do ST que certamente será muito menos).
Para evitar estas elucubrações procurei saber se haverá por exemplo anotações ao mapa que permitam saber o que lá está marcado. Todavia a fonte do mapa, a Fundação Couto, não deu reposta à minha pergunta.   

Anexo 2. Análise "fina" do mapa das visitas para a Ponta Vermelha
Posso avaliar um pouco mais o mapa de PG para as visitas (à esquerda da MONTAGEM seguinte) comparando-o com o do Guedesburgo que resulta da investigação do Arq. Miguel Santiago (à direita) para a zona da Ponta Vermelha. 
Dessa zona constam nas listas já referidas os nomes de muitos projectos de PG aos quais não tinha conseguido associar edifícios concretos, através de imagens antigas ou recentesque permitissem fazer um artigo no HoM, pois a sua localização não era bem indicada. Nestes mapas aparecem alguns edifícios que pelo desenho e idade podem ser de PG (repito que a posição das marcas não é muito precisa por isso é preciso analisar cada marca e o possível edifício nessa posição caso a caso) e por isso corresponderem aos das listas e que eu não tinha localizado e por isso registado no HoM. 
Relembro ainda que da análise do mapa para as visitas para a Baixa tinha concluído que nem todas as suas marcas corresponderão a edifícios de PG mas se esse mapa tiver marcas comuns com as do Guedesburgo então aumenta a probabilidade de o serem. Na legenda destaco alguns edifícios já conhecidos como sendo de PG e outros que deduzo serem-no:


MONTAGEM ("das visitas" à esquerda e Guedesburgo de MS à direita)
Verde:  zona do Governo/Presidência como referência comum
Cor de vinho (53): prédio do Eng. Moffa de PG. 
Já localizado no HoM e noto que está deslocado no mapa de MS
Roxo (54): casas em semi-círculo na praceta que vimos na primeira foto 
e que por esta informação passei assumir que é de PG
Castanho claro (55): provávelmente na esquina 
e que será de PG, o que já tinha assumido anteriormente 
Amarelo: museu para a ampliação do qual PG fez um esboço
 mas o projecto foi entregue a Tinoco. Não conta como realizado por PG
Cinzento: Hotel Cardoso, nada tem a ver com PG ao que se saiba
As conclusões que posso tirar desta MONTAGEM para a Ponta Vermelha e que em parte são semelhantes às a que cheguei para a Baixa são:
i. haver no mapa para as visitas de PG edifícios que ele projectou, o que era de esperar!. Caso confirmado pelas listas é o do 53;
ii. haver no mapa edifícios que não são de PG como é o caso do Hotel Cardoso ou da ampliação do Museu. Daí conclui-se logo que não podemos contar com todos os pontos do mapa das visitas (cerca de 250) como sendo todos de PG. Aparece também marcado no mapa das visitas o Clube de Pesca Desportiva que tinha o muro poente do bar e piscina e que segundo a informação que tenho também não foi projectado por PG e seria por isso, como os outros nesta categoria, um dos que ele simplesmente recomendava às visitas. 
iii. haver no mapa Guedesburgo edifícios que quando iniciei o HoM desconhecia serem de PG mas que passei a considerar como tal pois aparecem também no mapa das visitas e têm desenho e época compatíveis com essa atribuição. É o caso dos marcados no Guedesburgo com os números 54 55. 
iv. Há marcas comuns nos dois mapas para os números 56 e 57 o que aumenta a probabilidade de serem de PG mas não tenho fotos que permitam avaliar se os seus desenhos parecem compatíveis com serem de PG ou não. 
v. De notar haver inconsistências entre estes mapas por exemplo a respeito do edifício número 51 no mapa Guedesburgo, os apartamentos Simões Ferreira. Suponho que sejam do início dos anos 60 e que por isso já existiriam ao tempo do mapa das visitas mas não estão lá representados. Em contraste há três marcas nessa zona no mapa das visitas que não estão no Guedesburgo e que eu desconheço como sendo de PG. Podem tratar-se de edifícios que PG indicava às visitas sem ser o autor deles mas parto aqui do princípio de que um deles será o dos apartamentos Simões Ferreira.
Tenho então na zona coberta pelos mapas 4 projectos que estão agora registados nos 112 do HoM e de acordo com o mapa das visitas poderia haver mais uns 10. Mas ao contrário da Baixa não sei como serão e por isso quantos à primeira vista poderiam ser de PG ou se se diria que não serão tendo em conta por exemplo a idade ou o estilo. Por outro lado é nesta zona que tive maior dificuldade em encontrar (localizar precisamente e ter fotos) projectos que estão nas listas e por isso já esperava que aqui houvesse projectos que eu não tivesse conseguido incluir nos meus 112. Como para a comparação final estou a usar os números do consulado que são uns 184 projectos construídos em Moçambique, acima dos meus "cálculos" que eram de 169, aí estou já a dar margem para haver muitos adicionais na Ponta Vermelha. Por outras palavras não faz sentido dizer que como na Ponta Vermelha tenho registados 4 e no mapa das visitas estão 14 que teria de aplicar um aumento de 250% (10/4) ao total de 112 que tenho registado para todo o distrito de LM porque primeiro não pude ver se esses 10 potencialmente adicionais podem-no ser ou não e segundo porque é na PV que já esperava ter a maior concentração de desconhecidos (fora dos meus números). A conclusão daqui é então mais contida e seria que aumentaria os meus 112 para 122 por causa da Ponta Vermelha pelo que passaria a ter 122 nos distritos de LM e Gaza + 10 fora + 47 do ST = 179 projectos construídos em Moçambique. Isso continuaria a estar muito longe dos 300 do mínimo da gama de PG e por isso deixando muita tolerânca para haver mais desconhecidos no resto da cidade e manter ainda a ideia, que tinha antes de ver este mapa, de que os números adiantados por PG na entrevista a Ulli Beier e a partir daí aparentemente considerados como verdade absoluta plea "intelligentsia" arquitectónica parecem exagerados. 

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