Estação telegráfica e cabos submarinos em LM - edifício separado da Ponta Vermelha (12/13)

Continuo a série sobre as instalações da Eastern Telegraph (ET) em Lourenço Marques (LM), actual Maputo últimamente com artigos analisando as fotos da Campbell Collections da Universidade de Kwazulu-Natal. Introduzo aqui uma nova foto dum edifício separado com função auxilar que combinada com as anteriores permite fazer melhor ideia das instalações definitivas da companhia na zona mais a sudeste da Maxaquene ou Ponta Vermelha.

FOTO 1
Edifício separado do principal da Estação Telegráfica da ET
Esta FOTO 1 e a também FOTO 1 do artigo anterior com o edifício principal visto de frente estão juntas na origem e a sua legenda diz duas coisas que não sei como se relacionam: "Depicts telegraph station - quarters as kitchen, Lourenco Marques" e "African Telegraph boy's station, Lourenco Marques". Para além da menção à cozinha não entendo muito bem o significado do resto, mas "achismo do HoM" é que no edifício principal haveria também residência para os funcionários e que os "quarters" ou aposentos para os "boys" (os jovens empregados locais que tratariam dos serviços domésticos e/ou de levar os telegramas aos destinatários) seriam no edifício auxiliar que serviria também de cozinha..
Recordo aqui a foto do artigo anterior onde já se via um edifício separado para a esquerda do principal da estação, este ainda em construção:

FOTO 2
New telegraph station in construction, Delagoa Bay
Analisando estas duas fotos constata-se que o edifício separado da FOTO 1 tem uma chaminé no telhado e a partir desse elemento podemos ligá-lo ao que aparece à esquerda da FOTO 2 e ao que aparecia em artigo anterior nas suas duas primeiras fotos, as quais na montagem seguinte re-denomino como FOTOS A e B.

MONTAGEM 1 (clique para aumentar)
Vermelho: frente do edifício principal da estação telegráfica, 
à vista nas FOTOS 1, A e B e indicada pela seta a sua posição na FOTO 2
Amarelo e laranja: lados diferentes do edifício separado, longo e curto respecivamente
Traço e seta preta: chaminé do edifício separado
Verdes (árvores simples e dupla)duas árvores de tamanhos e em posições
 diferentes em relação ao edifício separado
Branco: vedação à frente do jardim da estação, ao lado da Estrada da PV
Castanho claro: caminho em forma de "L" 
que ia do portão na estrada até ao edifício principal
Castanho escuro: crista da barreira no limite da plataforma da PV e Maxaquene
Note-se que nas FOTOS 1 e 2 o caminho interno ainda não existia enquanto que nas FOTOS A e B ele estava já definido e pavimentado e o mesmo se passava com o desenvolvimento do jardim. 
A planta cadastral de 1897 do Arquivo Histórico Ultramarino que cobre esta zona da Maxaquene e Ponta Vermelha mostra os dois edifícios (principal e separado / auxiliar ) conforme o que vemos nas fotos da MONTAGEM. As posições do conjunto de árvores e dos edifícios observados nas fotos de cima seriam como mostro em baixo mas é de notar por exemplo em relação aos edifícios vizinhos dos da ET que a FOTO 1 é muito anterior a 1897 e que por isso eles não estavam aí à vista.


 Planta cadastral de 1897 do AHU
Vermelho: edifício principal da estação telegráfica com a frente 
 para sudoeste, do lado da Baixa da cidade
Amarelo e laranja: edifício separado / auxiliar 
Preto: chaminé do edifício separado / auxiliar
Árvores simples e dupla: representam as duas árvores maiores marcadas nas fotos
Roxo: estrada da Ponta Vermelha, actual Av. Lumumba
Cinzento escuro: Rua do Telégrafo, actual Nduda
Branco: vedação à frente do jardim, ao lado da estrada da PV
Castanho escuro: crista da barreira no limite da plataforma da PV e Maxaquene
Castanho claro: caminho em forma de "L", do portão até ao edifício principal
Rosa: primeiro Hotel Cardoso original
Nesta planta o lado "amarelo" do edifício separado que aparece à sua esquerda apontava para a zona central da cidade, o que transferindo para a FOTO 1 permite orientarmo-nos sobre a posição da plataforma da Maxaquene que se vê para norte da crista da barreira.
Como disse em relação à primeira estação da ET em LM, os equipamentos de transmissão do cabo submarino precisavam de alimentação que viria dum grupo-gerador eléctrico. A sua máquina teria de ter uma chaminé para expelir o fumo de combustão de suponho carvão e (a partir daqui achismos do HoM) seria essa a função principal da chaminé que vemos nas fotos de cima no edifício separado. É mais pequena que eu esperaria mas a potência do grupo gerador para esta estação, apesar da alta voltagem necessária, não se compararia por exemplo com a da central geradora da cidade. Como o grupo gerador faria muito ruido e vibração seria lógico colocá-lo separado do edifício principal e os quadros da ET podiam chamar a esse edifício auxiliar "cozinha" por ela estar lá também usando o calor das fornalhas a carvão do grupo gerador. 
Um pouco a confirmar estes "achismos" podemos ver em pormenor o edifício separado que se constata era em chapa ondulada.


FOTO 1 pormenor
Edifício separado do principal na estação da ET na Ponta Vermelha
Vê-se saliente da parede exterior da parte do edifício virada a "leste - sudeste" um tanque que certamente conteria líquido por se ver uma torneira e tubagens. Ora ele está precisamente do lado do edifício onde está a chaminé e por isso onde estariam as fornalhas e caldeiras para se criar vapor para o grupo gerador. Presumo então que o tanque seria de água dado que de fuel não podia ser pois nessa altura não havia motores de combustão de tipo moderno. Vê-se do lado "norte" do edifício as portas de correr correspondentes a esse compartimento bem abertas e depois mais duas portas mais fechadas que não sei se corresponderiam à cozinha e aos aposentos dos jovens funcionários ou a outra coisa qualquer,
Terminam aqui (para já) os artigos da série sobre a estação da Eastern Telegraph em Lourenço Marques. O site da Campbell Collections tem muitas outras fotos sobre Ilha de Moçambique e outros locais da costa moçambicana por onde o cabo submarino foi lançado que presumo sejam desconhecidas dos eruditos.

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