Membro da loja maçónica Cruzeiro do Sul em Lourenço Marques

Falei da maçonaria em Lourenço Marques, actual Maputo nestes artigos e sobre o tema pode ver-se uma curiosidade que esteve à venda na leiloeira bestnet. Trata-se da digitalização do diploma maçónico em pergaminho e de 1905 para um membro da loja em Moçambique (clique para aumentar):
Diploma passado em nome de António Lopes Cabrita
da Loja Cruzeiro do Sul de Lourenço Marques
Do irmão António Lopes Cabrita, que seria então um dos maçónicos laurentinos, não encontro mais informação. 
Quanto aos signatários do diploma em Lisboa, o Grão Mestre do Grande Oriente Lusitano Unido era Luís Augusto Ferreira de Castro o que se confirma por aqui e como se vê era militar. O presidente do conselho da Ordem era Luís Filipe da Mata (Luiz Filippe da Matta), era comerciante, funcionário e político e depois deve ter sido Grão Mestre como se vê aqui
O diploma de cima servia para que todos os membros da maçonaria regular do Universo (e por isso estava escrito também em Inglês e Francês) se "reconheçam e protejam, como os da maçonaria portuguesa fariam a quem lhes invocasse o auxílio". Como as palavras "reconhecer" e "proteger" podem ser lidas em sentido lato pelo menos na tradição portuguesa, não é para admirar que as carreiras dos dois dirigentes tivessem tido certo progresso depois da instauração da República em Portugal, dado que a maçonaria teve papel preponderante na queda da monarquia e nos primeiros anos do regime republicano pós 1910. Pode perceber-se isso melhor com a tese de Mestrado de LILIANA RAQUEL RODRIGUES FERNANDES com título MAÇONARIA E IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA de que extraio o seguinte (páginas 148 e 149): 
"Denuncia Morais que “[o] Grande Oriente não temia já (ainda na monarquia) intervir, directa e abertamente, nos centros políticos, nos quartéis e na vida social, numa acção incansável de desgaste e erosão – um trabalho que a Maçonaria Regular (de que a Grande Loja de Inglaterra se constituíra matriz) vedava aos seus membros em Loja e constituía, formalmente pelo menos, motivo de excomunhão da Ordem Maçónica (…). Mas isso era o que estipulavam Constituições e Regulamentos;coisa bem diferente era a prática, tanto em Portugal como em Inglaterra” (395).
Com efeito, entre as novas autoridades (republicanas) abundavam os maçons, a começar pelo Governo Provisório, do qual faziam parte os irmãos Teófilo Braga, António José de Almeida, Afonso Costa, Correia Barreto e Bernardino Machado, isto é, metade do elenco ministerial. Por todo o país o panorama era semelhante: nas comissões administrativas das câmaras municipais, nos governos civis, nos diversos cargos de nomeação governamental, muitos membros da Maçonaria, e que eram, simultaneamente, republicanos de projecção regional ou local, passaram, naturalmente, a ocupar aqueles lugares (396). 
Oliveira Marques afirma mesmo que mais de metade dos ministérios da Primeira República foi presidida por maçons e que a totalidade do seu tempo de governo se elevou a mais de 65% do período completo da República Democrática (397).
De facto, uma das consequências mais sensíveis da mudança de Regime para a Maçonaria foi o rápido aumento das Lojas e Triângulos em todo o território nacional, incluindo as colónias, bem como do número de iniciações."
395 MORAIS, Jorge, Com Permissão de Sua Majestade – Família Real Inglesa e Maçonaria na Instauração da República em Portugal. Via Occidentalis Editora, Lda., 2005, p. 66.
396  Cf. VENTURA, António, “A Maçonaria e a República”, in: João Medina (dir.), História de
Portugal – Dos Tempos Pré-Históricos Aos Nossos Dias. Amadora, Clube Internacional do Livro, 1998, p. 320 - 321.
397  Cf. MARQUES, A. H. de Oliveira, História de Portugal. Imprensa Nacional – Casa da Moeda, p. 136."
Pois se depois da implantação da República terá havido muitos membros que foram iniciados à espera de eventuais benesses, certamente que os anteriores como seria o caso de António Lopes Cabrita se fossem oportunistas achar-se-iam com "prioridade" em as receber. Por isso seria interessante saber quem era esse "irmão" e o que lhe aconteceu depois de 1910 em LM ou na "Metrópole".

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