Internamento de cidadãos alemães na primeira Grande Guerra - correspondência enviada de LM (4/4)

Continuando o artigo anterior concluo a série sobre o internamento de cidadãos alemães, militares, marinheiros da marinha mercante ou simples civis em Moçambique durante a primeira grande guerra que teve lugar entre 1914 e 1918. 
Podemos seguir a correspondência enviada por eles a partir do campo em Lourenço Marques (LM), actual Maputo para as suas famílias ou conhecidos na Alemanha, olhando para digitalizações de objectos reais com mais de 100 anos de existência e que estiveram ou estão à venda no site delcampe.net ou similares e por isso fácilmente à disposição dos interessados:

BILHETE POSTAL 1
Bilhete postal de prisioneiro de guerra enviado de LM 
via Cruz Vermelha em Genebra em Julho de 1917 
Presumo que o prisioneiro, neste caso um militar, cumprimentava o irmão e perguntava-lhe porque não escrevia. Não percebo porque está escrito em inglês, talvez houvesse instruções para que membros da Cruz Vermelha transcrevessem as missivas para evitar passagem de mensagens em código através desta correspondência.
Sobre a possibilidade de haver limitações no que era escrito pelos prisioneiros alemães, podemos ver um formulário com informação tipo que deve ter sido preparado pela Cruz Vermelha Portuguesa. Este foi preenchido no Depósito de Prisioneiros de Guerra em LM e assinado:por Herman Groth? que era o prisioneiro de guerra número 269.


CARTÃO POSTAL
Cartão postal preenchido em LM a 12 Outubro de 1917 
As instruções para o preenchimento do cartão eram (google translate):
Para além da data e da assinatura, nada pode ser escrito neste cartão.
Se mais alguma coisa for adicionada, o cartão não será enviado.
As linhas que não correspondam devem ser riscadas.
Se possível, as respostas (presumo que da Alemanha para Moçambique) devem ser escritas em inglês, em cartões postais, porque são entregues sem residência (isto seria para facilitar o trabalho do censor português sem ter de se abrir envelopes).
As escolhas de texto feitas por este prisioneiro foram aproximadamente as seguintes:
Estou bem.
Estou em boas mãos.
Espero estar aí em breve.
Deveria receber uma carta o mais rápido possível.
Não tenho notícias deles (?).
A imagem seguinte parece corresponder ao cartão de cima mas a data é-lhe muito posterior:


CORRESPONDÊNCIA PARA PRISIONEIROS
Correspondência enviada de LM para Hamburgo na Alemanha a 8.2.1918
Outro exemplo de correspondência enviada do campo de LM também via Lisboa e Genebra, a sede mundial da organização da Cruz Vermelha / Crescente Vermelho na Suíça. 

ENVELOPE POSTAL 
Enviado pelo prisioneiro n. 280 do Barracão 2 do acampamento de LM 
O envelope de cima foi enviado em Setembro de 1917 para alguém que habitava em Berlim e encaminhado pela Cruz Vermelha primeiro de LM para Lisboa. 
Outro bilhete postal mas diferente do primeiro pelo que não parecia haver grande uniformização para estas mensagens de recurso:


BILHETE POSTAL 2
Enviado de LM pelo prisioneiro n. 457 para Hamburgo, via Genebra

Já tinha referido isso mas nunca tinha reparado num caso tão tardio pois vê-se aqui que mais de 5 anos após o fim da Monarquia continuavam a usar-se bilhetes postais antigos ainda com a estampa do (penúltimo) rei de Portugal, D. Carlos e tarifados na anterior unidade monetária, o real (réis), a qual tinha sido substituido pelo escudo em 1911.

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