Instalações portuárias em LM até 1965 - planos para futuro, vento e direcções (7/7)

O pequeno livro dos CFM de que temos vindo a falar mostra também planos de desenvolvimento pós 1965 das nstalações portuárias em Lourenço Marques (LM), actual Maputo. Esses planos abrangiam as duas margens do estuário numa extensão de cerca de 13 km de comprimento, por isso uma grande zona compreendida entre:
- perto da foz dos Rios Tembe e Matola (aqui ao centro, no desenho no canto inferior esquerdo) 
- a ligação entre o estuário e a baía um pouco para sul da base da Ponta Vermelha (aqui ao centro, no desenho à direita).
Zonas castanhas: instalações portuárias existentes em 1965
 na Baixa de LM e na Matola, na maioria resultantes de aterros no estuário
Zona azul: formato do estuário depois das margens serem regularizadas 
com os trabalhos planeados em 1965
Zonas brancas: áreas que seriam intervencionadas, pelo menos em parte 
para  se adicionarem às instalações portuárias / cais

Vê-se que a regularização das margens nalguns casos implicava escavaçáo / dragagem do pré-existente, por exemplo na margem norte do estuário seriam criadas o que parece ser novas docas para o porto na curva do vale do Infulene (por aqui) o que iria estender e ligar as duas zonas de cais então existentes. 
Na margem sul na maioria ir-se-ia conquistar terra ao estuário e fica-se sem saber se seria também para expansão do porto que até 1965 estava só na margem norte (aqui, marcado Cais Gorjão no desenho) ou para outros objectivos. Noto que nessa margem sul da zona da (k) Catembe para o lado da baía frente à Ponta Vermelha estava previsto aterro para "Docas e Estaleiro Naval" (ver aqui sem essas alterações). Algures para a direita (leste) estaria o fim desse aterro pois mesmo que ele terminasse logo a seguir seria já enorme.
Quanto à cidade na margem norte, na base da Ponta Vermelha estava também previsto algum alargamento mas não era muito claro até onde iria para o lado leste = da baía (ver aqui sem essas alterações) pois aplica-se o mesmo comentário de cima pos da ideia que se esqueceram de marcar onde terminariam os trabalhos. 
De notar também que nesse ponto do plano está indicada a direcção Norte mas tal seria uma "simplificação" também muitas vezes adoptada no HoM, de facto a direcção que devia ter sido aí indicada é Nordeste (NE) como se verá melhor na imagem em baixo.
Segundo o livro "A Engenharia Portuguesa na Moderna Obra de Colonização" do Eng. Lopes Galvão publicado em 1940, o plano geral do Eng. Silvério de 1899 compreendia na margem da (k)Catembe a continuação das obras já começadas para regularização das correntes de vasante do porto, a fim de evitar assoreamentos. 
Não temos texto explicando o propósito do plano de 1965 visto em cima mas parte dele vem ao encontro desse objectivo do Eng. Silvério, porque ao afunilar-se o estuário a seguir à foz dos rios Tembe e Matola estava a dificultar-se o fluxo dessas águas para o lado da baía. Daí reduzir-se-ia a sua velocidade de transporte de areia e cascalho e por isso aumentar-se-ia a formação de depósito de aluvião antes da curva do estuário para leste e por isso reduzir-se-ia o assoreamento em frente ao cais Gorjão e mais para jusante na ligação entre o estuário e a baía. Com o estreitamento do estuário para a faixa azul, o plano de 1965 favoreceria então o aterro do vale do Infulene na margem norte e na margem sul o aterro até à ponta da Catembe (nesta zona). Mas se de facto o plano de 1965 visto em cima estava ainda ligado à ideia de 1899 do Eng. Silvério ou não, não o sei dizer.
Pelo menos no pequeno livro dos CFM não era adiantada previsão de execução para esse plano de 1965. Como comentei acima, só o que está desenhado seria obra extremamente complexa e dispendiosa e de facto não sei oficialmente em que estado de desenvolvimento e de aprovação oficial estaria. Facto é que se algo do que daí constava foi implementado nos dez anos que se seguiram a 1965 até â Independência de Moçambique terá sido uma percentagem mínima do previsto, pois para além da extensão da ponte-Gorjão para montante digamos em c. de duas centenas de metros para o terminal de contentores (aqui actualmente), o resto terá sido posto de lado. E o plano terá sido esquecido depois da independência, sendo de notar que a ponte entre as duas margens recentemente construída não estava lá indicada e penso que se estivesse prevista estaria, mesmo que não dissesse directemente respeito ao porto.
O pequeno livro dos CFM contém um diagrama dos ventos que presumo fosse um dado importante para o funcionamento do porto e é uma informação interessante. Ao lado coloco uma carta da cidade com uma boa rosa dos ventos para nos orientarmos geográficamente:  


DIAGRAMA DOS VENTOS e orientação no porto e na cidade
Azul escuro: direcção em que o vento soprava mais frequentemente 
(e que era do estuário para terra, se entendo bem o diagrama)
Azul normal: segunda direcção em que o vento soprava mais frequentemente 
(e que era de terra para o estuário para terra, se entendo bem o diagrama)
Púrpura: direcção das avenidas "verticais" na cidade, 
perpendiculares ao cais, na direcção aprox. NE- SO (ou SW), 
Verde claro: direcção das avenidas "horizontais" na cidade, 
paralelas ao cais, na direcção aprox. NO (ou NW) - SE
R: deduzo que direcção da linha de ponte-cais no diagrama dos ventos,
marquei também a "preto" na carta da cidade
O diagrama indicará que durante os vinte anos de medições houve vento principalmente do lado da ligação do estuário à baía para a cidade e do lado digamos da Praia da Macaneta para o centro da cidade. Soprando do interior norte para o lado do Índico havia pouco vento e penso que se mantém mais ou menos assim.
Juntei ao diagrama dos ventos o mapa da parte central da cidade (em 1926) para se ter ideia mútua das direcções. É importante notar que a quadrícula da cidade está orientada aproximadamente nas direcções SudOeste - NordEste (vertical à baixa, actual Av. Guerra Popular) e NorOeste - SudEste (horizontal à Baixa, Av. 24 de Julho). Isso quer dizer que quando normalmente se diz nos artigos do HoM que para "cima" da cidade antiga (para o lado das Mahotas por exemplo) temos o Norte, etc estamos a simplificar, pois de facto nessa direcção temos o NE (NordEste).
Por fim recordo aqui elementos do design dos CFM em 1965:

CFM - desenho alusivo ao porto de 1965 e logo

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