Mailana Agrícola, Lda - Quinta da Boa Sorte entre Boane e Goba na margem do Rio Umbelúzi

Veremos aqui a exploração agrícola e pecuária da Mailana Agrícola, Lda - Quinta da Boa Sorte que ficava entre Boane e Goba na margem do Rio Umbelúzi. Já tinhamos usado uma foto desta quinta para ilustrar o que era uma abegoaria na cidade tratando-se de fotos de Santos Rufino que foram publicadas em 1929.
Mailana Agricola - Quinta da Boa Sorte
Estábulo na Mailana Agrícola
Vacas leiteiras na Mailana Agrícola
Nora da quinta para puxar e distribuir água

Tanque carracicida para evitar doenças dos animais
e canal de irrigação para as cultura na Mailana
Pomar na quinta
Produtos da quinta
Temos um mapa de 1958 que nos mostra a região da Mailana:
Azul: apeadeiro de Caminhos de Ferro (CF) da Mailana, 
com uma casa comercial (cantina) próxima
Vermelho: estação terminal de CF perto da fronteira da Suazilândia
Castanho: estrada de Boane para Goba Fronteira paralela à linha férrea
Roxo: curva apertada no rio Umbelúzi, ver em baixo

Estão registados no mapa os nomes de várias quintas nas margens do Rio Umbelúzi que vem da Suazilândio a oeste = esquerda e que neste troço sobe virando para nordeste para ir passar em Boane. No entanto não aparece referenciada nem a Mailana Agricola Ltda - Quinta da Boa Sorte nem o da Sociedade Agricola e Pecuária da Mailana. Nota-se que muitas dessas quintas pertenciam a membros da família Cardiga referida aqui e também com o prédio aqui numa das fotos mas bi também informação de que a Mailana Agricola pertencia ao Padre José Vicente do Sacramento.
Pode ver-se actualmente a zona aqui, tendo surgido uma grande povoação para leste do apeadeiro e notando-se junto ao rio as zonas de cultivo com irrigação. Essa localidade fica a sul da albufeira da barragem dos Pequenos Libombos que começa a notar-se mais a partir da curva no rio marcada a roxo no mapa.
Numa publicação Portugal Missionário de 1928 sobre uma missão no Maputo muitíssimo pormenorizada encontram-se algumas referências geográficas à Mailana:
"a. De noroeste para sudoeste da região do Maputo, separando-a dos territórios ingleses, vêem-se os Montes Libombos. Toda a região compreendida entre os Libombos e o rio Tembe, da Mailana até Estatwene e daqui até Katwane, é argilosa, tem muita pedra e possue boa madeira, produzida pela «nkaya» (passou para português como micaia, do ronga m'kaia), árvore espinhosa, muito rija, de tronco direito, de 3 a 4 metros, em geral, de altura. 
b. As vias de comunicação terrestre são as estradas: Bela VistaCatembepela praia: Bela Vista — Catembe, directa, pelo Kamuzay; Bela Vista— Catembe, pelas terras do antigo regulo, Mabay; Bela Vista — Manyóka, passando, além rio, peia povoação comercial de Salamanga e pela séde da antiga Missão de Santo Antonio de Makasane; Bela Vista — Porto Henrique, passando pela Missão de S. Roque de Matutwini; Porto Henrique a Estatwene e Porto Henrique a Umbeluzi; Bela Vista a Katwane, seguindo pelas terras do regulo Zantaka e Ndlhabende, até á lagoa Nkwane, que se atravessa em um lanchão, e da lagôa até à séde do posto de Katwane: Posto de Salamanga ao rio Futi, onde existe uma ponte, com taboleiro de madeira, assente em pilares de madeira : Posto da Manyóka ao rio Futi, onde se encontra uma ponte, também de madeira, assente em estacas de madeira: Posto da Manyóka ao rio Maputo, onde se faz a travessia em um pequeno barco e daqui a Katwane: Katwane a Estatwene; Estatwene a Goba e Estatwene a Mailana: Catembe a Porto Henrique e Catembe a Joel. Todas estas estradas estão por macadamisar: o seu leito, porem, em boa parte, é de argila, permitindo, assim, facilmente, o trânsito de automóveis, etc. Em todo o território do Maputo há, aproximadamente, 500 quilómetros de estrada. 
c. O Maputo tem, principalmente, às margens dos rios, largos tractos de terreno, próprio para a cultura de milho, e onde o algodão cresce e se desenvolve bem. A região de Katwane e a da Mailana são as mais ricas e abundantes em terras próprias para a agricultura. Apesar disso, como a irrigação tem que ser feita artificialmente e o regimen das chuvas é irregular, a agricultura é dificil e arriscada em tais regiões. 
Para os europeus, a agricultura é muito arriscada por falta de irrigação natural e por a artificial ser muito dispendiosa; por ser cara a mão de obra indígena e por falta de protecção oficial. Os indígenas, também, cultivam pouco e por processos os mais rudimentares. Para eles a charrua, ou o mais rudimentar arado, é desconhecido. Por isso a riquesa, em terras, do Maputo, pouco lhes aproveita."


O texto de Santos Rufino de 1929 (do Tenente Costa muito provávelmente) para o álbum 4 onde estavam as fotos de diversas quintas da região de Maputo no distrito de Lourenço Marques dizia o seguinte:
"Na maioria do distrito de Lourenço Marques, onde a mão do homem ainda não desbravou, lançando o arádo à terra, ou limpando-a para a abertura de uma estrada, predomina o mato espinhoso, constimido por árvores de pequeno porte cuja altura média não vai além de 3 a 4o pés, produzindo uma madeira extremamente rija e de cerne preto ou vermelho. 
A flora do distrito dispõe no seu conjunto de grande número de espécies lenhosas e de árvores produtoras de bôa madeira, se bem que se não encontrem florestas densas em quantidade digna de registo. Mas onde a mão do homem pôde desbravar, a agricultura tem-se desenvolvido intensamente. 
Os indígenas têm a sua cota parte no desenvolvimento agrícola, dedicando-se ás culturas do amendoim, milho, feijão, batata doce, mandioca e outras que, com pequeno ou mesmo nenhum trabalho, a terra se encarrega de fazer viver e produzir. 
Entre os europeus, predominam as culturas do milho, feijão, algodão, arroz, rícino, mafurra, hortaliças e árvores, bananas e outras espécies, exportando as suas colheitas para a cidade de Lourenço Marques com quem mantém largo comércio, e, ainda, para a vizinha União Sul Africana. A pecuária assinala-se por número elevado de cabeças de gado, onde predomina a espécie bovina, cujo número ultrapassa já hoje as 284 000 cabeças, oferecendo Lourenço Marques boas condições naturais para a sua criação."

Continuam o textos e fotos de quintas na região do Maputo no próximo artigo.

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