A respeito do cerco e
defesa de Lourenço Marques (LM), actual Maputo, um momento crucial da história
da futura cidade começarei por falar do posto de Anguane onde antes e depois do
cerco na segunda metade de 1894 ocorreram acontecimentos importantes.
FOTOS 1 e 2
Anguana (ACTD web_n3247) |
Comando militar de Anguana (ACTD web_n4732) |
Delfim Santos Guerra no livro No paiz dos vátuas de 1896 refere-se com certo detalhe ao "forte de Anguane" que ficaria entre Lourenço Marques e Marracuene, o que se pode confirmar pelo mapa em baixo. O mesmo faz Eduardo Noronha no livro A Rebelião dos Indígenas de LM de 1894 e em "A Defesa de Lourenço Marques" (site malhanga).
Nunca tinha visto foto dessa instalação mas aparecem as duas de cima e quase iguais dum local com nome muito semelhante (Anguana) no conjunto que o ACTD tem das comissões de demarcação de fronteira de LM de 1890/91. Anguane fica longe das fronteiras mas é possível que nas suas deslocações pela região os seus membros, nomeadamente Freire de Andrade e Caldas Xavier tenham lá feito escala e por isso fotografado o local.
Nunca tinha visto foto dessa instalação mas aparecem as duas de cima e quase iguais dum local com nome muito semelhante (Anguana) no conjunto que o ACTD tem das comissões de demarcação de fronteira de LM de 1890/91. Anguane fica longe das fronteiras mas é possível que nas suas deslocações pela região os seus membros, nomeadamente Freire de Andrade e Caldas Xavier tenham lá feito escala e por isso fotografado o local.
Estas fotos de 1890 / 91 mostram uma normal residência de administração portuguesa no mato de Moçambique, sem denotar alguma vocação militar. Segundo Eduardo Noronha tinha uma habitação de madeira e zinco e algumas construções provisórias e palhotas para cipaios e soldados.
Vejamos a posição de Anguana numa carta preparada pela Missão Suíça (que tinha estações em LM, Rikatla e presumo Maçana e daí os sublinhados a vermelho). A sua data é de 1892/93 e por isso é intermédia entre os dois acontecimentos aqui referidos, realização da primeira comissão de fronteira e depois o cerco a LM e as campanhas militares no sul de Moçambique:
CARTA de 1892/93
Azul: Hangwane (Anguane), posto português em terra das Mahotas (MABOTA), para norte de Lourenço Marques Linha vermelha: estrada de LM para norte |
O mapa de cima indica também que Hangwane (Anguane) ficava numa zona ou húmida ou florestada e veremos que essa característica aparece também no relato de Santos Guerra, que dizia que Anguane em linha recta ficava a cerca de 11 km de Lourenço Marques (15 km segundo EN) e estava junto à estrada principal dessa cidade (dese 1887) para norte.
Vejamos então resumidamente o papel de Anguana / Anguane nos acontecimentos do final de 1894. Constataremos o reforço do sítio, depois o seu abandono, uma primeira retomada, novo abandono e nova retomada. Pelo meio deu-se o cerco a Lourenço Marques de que falaremos detalhadamente em artigos seguintes.
O chefe militar das Terras da Coroa que habitava em Anguane era um oficial superior do exército de África que actuava como intermediário entre o governo e os régulos africanos, sendo uma das suas funções prever movimentos insurreccionais. Em 27 de agosto de 1894 após uma reunião em Anguane com indunas da Magaia que terminou mal e na sequência de contenciosos latentes inclusivé relacionados com terras e impostos, iniciou-se uma rebelião de régulos importantes da região que estavam à frente de 16 000 homens armados, que normalmente estariam à disposição do governo português (e fácilmente podiam aumentar para uns 25 000). A partir daí Anguane, posto avançado de presença portuguesa, foi assediada levando o governador-geral da colónia de Moçambique, general de brigada Fernando de Magalhães, que se tinha deslocado da capital na Ilha para o sul dada a gravidade dos acontecimentos, a organisar os seus trabalhos de defesa e deslocaram-se para lá militares e policias adicionais.
Como o campo era enorme, demorando meia hora de onde os soldados estavam instalados até aos extremos, foi decidido restringi-lo a um pequeno quadrado fortificado, uma das faces do qual, apoiando-se no pântano, não tinha necessidade de defesa. O resto foi vedado com arame e foram instalados abrigos com armas nas direcções principais mas atendendo à sua deficiente posição, as capacidades do campo e sua pequena guarnição de fazer face a um ataque eram baixas.
No dia 23 de setembro, os rebeldes aproximaram o cerco, uma patrulha a cavalo tentou afastá-los e num incidente um cabo do Corpo Policial de LM que estava a defender Anguane foi morto, o que foi a primeira baixa de ambos os lados no confronto.
IMAGEM 1
Governador-Geral Fernando de Magalhães e Menezes (wikipedia) |
Como o campo era enorme, demorando meia hora de onde os soldados estavam instalados até aos extremos, foi decidido restringi-lo a um pequeno quadrado fortificado, uma das faces do qual, apoiando-se no pântano, não tinha necessidade de defesa. O resto foi vedado com arame e foram instalados abrigos com armas nas direcções principais mas atendendo à sua deficiente posição, as capacidades do campo e sua pequena guarnição de fazer face a um ataque eram baixas.
No dia 23 de setembro, os rebeldes aproximaram o cerco, uma patrulha a cavalo tentou afastá-los e num incidente um cabo do Corpo Policial de LM que estava a defender Anguane foi morto, o que foi a primeira baixa de ambos os lados no confronto.
A 25 de setembro e perante o receio de que os rebeldes atacassem LM e dada a falta de unidades para a defender, o governador-geral reuniu o conselho em que tomaram lugar o governador do districto, o comandante da corveta Rainha de Portugal, o director do caminho de ferro e tenente-coronel de artilharia Araújo e o comandante da policia. Unânimemente foi decidido evacuar o campo concentrando todas as tropas e equipamento na cidade, tendo sido lançado à lagoa em Anguane o que não pudesse ser transportado e enterradas munições, algum armamento e seis canhões encravados mas a retirada foi pacífica mas pouco ordeira..
LM que estava barricada desde cerca de 13 de setembro foi atacada a 14 de outubro. O ataque foi repelido mas o cerco continuou até abrandar e ser levantado pouco antes das esperadas tropas de Angola e de Portugal terem chegado a 12 e 13 de novembro. Pouco tempo depois chegaram mais navios de guerra portugueses, a corveta Afonso de Albuquerque e a canhoneira Rio Lima.
Com as novas forças disponíveis o governador do distrito Canto e Castro resolveu reocupar Anguane para iniciar uma ofensiva na sua região. A 5 de dezembro depois de pequenas escaramuças as tropas portuguesas encontram a posição abandonada pelos rebeldes que tinham vandalizado e roubado as instalações. As tropas portuguesas retiraram-se pouco depois, Anguane voltou a ser ocupada por rebeldes que voltaram a abandoná-la a 28 (ou 31?) de janeiro de 1895 sob ataque das tropas portuguesas chefiadas por Caldas Xavier (wikipedia). Estas dirigiam-se a Marracuene que tinha sido identificado como principal foco de resistência e para aí partiram pouco depois. Foi aí quando estavam acampadas em posição defensiva que na madrugada de 2 de fevereiro de 1895 foram atacadas pelos rebeldes africanos travando-se um dos combates mais determinantes do que acabou por ser a campanha de Gaza contra Gungunhana / Ngungunyane.
Como se poderá imaginar pela urbanização acelerada da região, actualmente Anguane é uma zona densamente povoada que se pode ver aqui. À esquerda = oeste da imagem de satélite vê-se uma zona verde que se compreende fazer parte do vale do Infulene e ao seu início. No entanto esse vale no mapa de 1892 estava bastante mais para a esquerda = oeste por isso provávelmente estava aí marcado imprecisamente. Para além de pântano, era também mencionado por Santos Guerra na zona haver uma lagoa e uma floresta que devem ter desaparecido com as "alterações climáticas".
Com as novas forças disponíveis o governador do distrito Canto e Castro resolveu reocupar Anguane para iniciar uma ofensiva na sua região. A 5 de dezembro depois de pequenas escaramuças as tropas portuguesas encontram a posição abandonada pelos rebeldes que tinham vandalizado e roubado as instalações. As tropas portuguesas retiraram-se pouco depois, Anguane voltou a ser ocupada por rebeldes que voltaram a abandoná-la a 28 (ou 31?) de janeiro de 1895 sob ataque das tropas portuguesas chefiadas por Caldas Xavier (wikipedia). Estas dirigiam-se a Marracuene que tinha sido identificado como principal foco de resistência e para aí partiram pouco depois. Foi aí quando estavam acampadas em posição defensiva que na madrugada de 2 de fevereiro de 1895 foram atacadas pelos rebeldes africanos travando-se um dos combates mais determinantes do que acabou por ser a campanha de Gaza contra Gungunhana / Ngungunyane.
Como se poderá imaginar pela urbanização acelerada da região, actualmente Anguane é uma zona densamente povoada que se pode ver aqui. À esquerda = oeste da imagem de satélite vê-se uma zona verde que se compreende fazer parte do vale do Infulene e ao seu início. No entanto esse vale no mapa de 1892 estava bastante mais para a esquerda = oeste por isso provávelmente estava aí marcado imprecisamente. Para além de pântano, era também mencionado por Santos Guerra na zona haver uma lagoa e uma floresta que devem ter desaparecido com as "alterações climáticas".
FOTO 3
Zona de Anguane a norte da cidade de Maputo e junto à Estrada Nacional N1 para Marracuene |
Não sei o que aconteceu ao posto / comando militar depois desses acontecimentos de 1894/95 mas é provável que tenha continuado como propriedade do Estado e que seja ainda possível identificar o local no que exista por aí do sector público.
PS: Anguana aparece também na carta alemã de 1892 baseada na de Jeppe de 1890:
PS: Anguana aparece também na carta alemã de 1892 baseada na de Jeppe de 1890:
CARTA de 1892/90
Azul: Anguana, tendo abaixo o Campo Militar
Vermelho: Lourenço Marques
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