Volto às vivendas antigas de Maputo a
propósito do que me parece ser um capítulo de um livro chamado "Shading in
Architecture and its Relation with Natural Cooling: Learning from Maputo,
Mozambique" (aqui). Segundo a introdução esse texto fala das técnicas de sombreamento e arrefecimento
natural que eram seguidos no passado em África, lições essas que podem ser úteis para os edifícios do presente em que as considerações energéticas voltam a estar na ordem do dia depois de décadas de abuso de "ar condicionado".
Os seus autores são Rui
Nogueira Simões e Pedro Ressano Garcia que abordarão a práctica dos arquitectos e engenheiros portugueses nas paragens tropicais das costas do Índico. Falarei aqui um pouco do seu tema mas aproveito para juntar a foto duma vivenda modernista que está no livro à colecção do HoM:
Vivenda de Lourenço Marques, actual Maputo, aparentemente bem preservada mas mal conservada |
Quanto à vivenda de cima não sei o que é relevado relativamente ao tema do artigo / livro mas uma coisa que entretanto aprendi é que em construções como esta de terraço plano, para evitar o sobre aquecimento por não haver telhado, entre a placa superior e o pavimento do terraço era colocada uma grossa camada de areia servindo de isolante térmico. Se essa era uma soluçâo muito comum ou não e qual seria o seu grau de eficácia não sei dizer
Para a vivenda seguinte à primeira vista parece haver maior justificaçâo para estar no livro / artigo pois aparecem quebra-sóis numa varanda. Como já a conhecemos bem daqui podemos dizer que o seu propósito era de controlar o sol da tarde, considerado mais quente. O facto de os "brise-soleil" estarem em posiçâo horizontal também terá a sua explicação mas ...:
Vivenda dos anos 40 na Polana / Carreira de Tiro |
Ainda sob a perspectiva do controle de temperatura no último piso havia um terraço coberto do lado direito, o que foi agora fechado descaracterizando por completo a estética do edifício. Este fica na esquina a nordeste do cruzamento das antigas Av. Massano de Amorim e Princesa Patrícia de Lourenço Marques, actuais Tung e Allende de Maputo. A fachada principal que se vê na foto de cima está virada para a actual Av. Tung.
O artigo / livro trata então de um tema muito complexo que terá sido tratado na altura por vezes de forma empírica, por vezes de forma científica tendo em conta a termo e a aero dinâmica, os materiais e a climatologia. Duma forma ou de outra as soluções adoptadas eram cruciais para a qualidade de vida dos habitantes da cidade de cimento dado que os aparelhos de ar condicionado prácticamente não existiam em residências particulares e mesmo as ventoinhas não eram muito comuns, entre outras coisas por o preço da electricidade ser elevado.
Lembro que este tema foi muito bem estudado por Jéssica Marques Bonito na tese de mestrado "ARQUITECTURA MODERNA NA ÁFRICA LUSÓFONA - Recepção e difusão das ideias modernas em Angola e Moçambique". Jessica detalha por exemplo para o projecto de Pancho Guedes do Bloco Prometheus, edifício de uma "geração" posterior à que vemos nestas duas vivendas, a forma como a ventilação e arrefecimento naturais foram aí tratados.
No artigo / livro de que falamos aqui os autores focam também em Pancho Guedes que dizem combinava a tecnologia moderna com as tradições construtivas locais que óbviamente tinham já estes aspectos ambientais em consideração.
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