Pântano do Maé, águas e saneamento em Lourenço Marques, actual Maputo (4/4)

Na última mensagem vimos alguns factos e fizemos alguma especulação e nesta vamos encontrar uma coisa interessante que não sei se era já publicamente conhecida. Continuamos no Maé (agora Alto-Maé B) em tempos também conhecido por zona industrial da Baixa e que actualmente seria mais apropriado chamar-se de actividades dado ter havido muita transformação dos pavilhões indústriais para armazéns de comércio. Mas aqui estamos a falar dos anos 20 ou 30 em que a zona não passava ainda de antigo pântano aterrado.
Voltamos à foto das mensagens precedentes que é reprodução de original do ARPAC-Instituto de Investigação Sócio-Cultural de Moçambique com as seguintes indicações: Cx. Maputo - Cidade, XI, Monumentos e Locais Históricos; Pasta do Serviço Nacional de Museus e Antiguidades, Arquivo Museológico, Edifícios da Capitania do Porto, IX, e mostramos agora sómente uma parte dela:
Vista do Quartel ao alto da barreira para sul depois de 1923. 
Depósito de máquinas à esquerda - ao fundo com três pavilhões paralelos

Vamos observar na foto com mais atenção o que está na zona baixa a uns 200-300 metros de distância do alto da barreira. Temos aí um armazém, um reservatório cilíndrico vertical, um horizontal soterrado e outro similar aparentemente em construção, tudo dentro dum grande terreno vedado por cerca e que se imagina no futuro iria corresponder pelo menos a boa parte dum quarteirão completo.
Olhando para os mapas da cidade, um de cerca de 1910 e da firma Delagoa Bay Development Corporation (DBDC) e outro de 1925/26, podemos rever o que se passava e como evoluiu esta zona nesse periodo:  

MAPAS
Carmesim: vilas dos Caminhos de Ferro na zona ocidental da Baixa
Laranja: Av. da República, actual 25 de Setembro
Traços castanhos: barreira do Alto-Maé - Malanga, aproximadamente
Verde claro: rua Paulino dos Santos Gil (PSG), na foto a faixa larga sem pavimento
que não chegava perto da barreira como está nos mapas erradamente
Verde escuro: Av. Henrique Macedo, depois Alves Correia 
e actualmente da Zâmbia, é só na zona alta
Castanho claro: actual Av. Josina, perto da crista da barreira
Azul: MAHÉ PUMPING STATION e depois FOSSA
Rosa: face sul do quartel do Alto-Maé

As construções da FOTO 1 correspondem à dos círculos marcados a azul nos mapas. Vê-se que o pavilhão fica a certa distância para a esquerda = nascente da Rua PSG e face a uma rua mais estreita perpendicular à PSG e que é a Av. Fernão de Magalhães aqui no seu término.

Os mapas identificam os círculos azuis como sendo instalações ligadas primeiro ao abastecimento de água e depois ao saneamento. Lembro termos falamos aqui brevemente da distribuição de água na cidade com base precisamente no mapa de 1910,  que tinha esses pormenores porque a DBDC era a concessionária nessa altura. 
Sabemos por Alfredo Pereira de Lima que o quartel do Alto-Maé foi inicialmente (fim do século XIX, início do XX?) alimentado por água captada em baixo da barreira onde devia haver uma fonte, poço ou furo. Assim é possível que a DBDC ao tornar-se a concessionária da água tenha "herdado" o sistema de abastecimento inicial do quartel e por isso estava escrito no círculo de 1910 "estação de bombagem", dentro do quartel havia o MAHE RESERVOIR e entre eles havia traços correspondentes a canalizações. 
Segundo Lisandra Mendonça que estudou bem o sistema das águas na cidade, em 1906 a cidade passou a ser alimentada do Rio Umbelúzi. Por isso presumo que a dada altura a estação de bombagem do Maé tenha sido desactivada e que essas instalações tenham sido reaproveitadas para o saneamento, explicando-se o que se vê no mapa de 1925/26 (FOSSA). 
E como a FOTO 1 é posterior a 1923 o que estaremos a ver é uma ou várias fossas de saneamento. Se bem me lembro cada habitação ou prédio na cidade tinha a sua fossa séptica e vinham os camiões tanque dos "machopes" aspirá-la quando necessário. Mas talvez nesta zona industrial houvesse um sistema mais elaborado de saneamento, mas continuo a não saber exactamente para que servia e como funcionava. Seria uma estação de tratamento de esgotos e/ou efluentes industriais e haveria uma conduta para os despejar no estuário? Já se usava disso na altura? De qualquer maneira nesta foto dos anos 20/30 conseguimos identificar uma instalação importante na infraestrutura da cidade que aparecia nos mapas antigos e de que eu não tinha imagem. 
Mais sobre o pântano abaixo do quartel e as águas aqui.
Ver aqui sobre as prováveis instalações dos serviços de águas na base da barreira da Maxaquene em 1919/1920.

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