Voltamos à história da marginal de Maputo, antiga Lourenço Marques, usando fotos de diversas origens. Já tinhamos falado do assunto noutros artigos que refaço com base em novas fotos dos arquivos do Prof. Arq. Luis Lage. O essencial dos artigos complementares sobre o combóio a vapor e o carro eléctrico da Baixa da cidade para a praia da Polana mantem-se no entanto, embora lhes tenha feito pequenas alterações.
A primeira foto mostra a construção da primeira passagem na base (sopé) do promontório da Ponta Vermelha (PV) construindo-se aí uma faixa elevada em relação ao nível do mar e que ficou protegida contra a erosão por um paredão. Estes trabalhos devem ser do início da construção da referida linha de combóio e por isso o ano da FOTO 1 deve ser o de 1911.
FOTO 1
Secção transversal mostrando os trabalhos dum paredão marítimo na Ponta Vermelha vistos do lado da Baixa da cidade |
Esta foto era numa zona da PV que me parece ainda ao lado do estuário ficando a baía para a frente. Aqui terá sido necessário:
i. Escavar e alisar a barreira;
ii. Aportar e consolidar pedra para se ganhar espaço na antiga orla marítima. Não se sabe bem como ela era antes constituida mas suponho que nesta zona houvesse uma ribanceira dando directamente para o mar;
iii. Fazer o paredão do lado do mar para suportar o novo aterro a partir da barreira e para protegê-lo das águas.
No artigo seguinte mostraremos outra foto destes trabalhos para aparentemente em local diferente da passagem pela PV.
Temos duas fotos anteriores aos trabalhos de cima dando a vista do alto da barreira da Polana para sul e onde surge a PV, que faz na práctica a separação entre a baía (que fica para a esquerda na FOTO 2) e o estuário (que fica depois da PV para a direita), ao fundo. Em relação à FOTO 1, que foi tirada de oeste para leste, as FOTOS 2 são tiradas aproximadamente de norte para sul e por isso nas FOTOS 2 vê-se o lado da PV contrário ao da FOTO 1.
A FOTO 3 seguinte é de 1910 e foi tirada na mesma direcção das FOTOS 2.
Observando a inclinação do paredão da FOTO 6 (quase vertical) e comparando-a com a do paredão da FOTO 1, penso que se reforça a minha ideia de a passagem pela base da PV foi feita com dois paredões diferentes ou seja em duas fases, Resumindo de novo, na primeira fase a passagem era só para o combóio (a qual foi depois adaptada para o eléctrico) e na segunda fase de c. 1926 como se terá colocado novo paredão mais para o exterior = meio do mar e se fez aterro adicional, a passagem inicial foi substancialmente alargada.
Outro pormenor sobre a evolução desta passagem da marginal e comparando-se agora as FOTOS 5 e 6 é notar-se na segunda (mais recente) que ela é quase plana da barreira ao paredão, enquanto que na FOTO 5 havia dois níveis bem separados. Parece-me assim que após o encerramento da linha do carro eléctrico em 1936 se escavou a faixa mais à esquerda onde as linhas tinham sido colocadas de modo a fazê-la descer para o nível da estrada de 1926, quer dizer para o nível único que existe actualmente.
No artigo seguinte continuaremos o desenvolvimento do assunto.
i. Escavar e alisar a barreira;
ii. Aportar e consolidar pedra para se ganhar espaço na antiga orla marítima. Não se sabe bem como ela era antes constituida mas suponho que nesta zona houvesse uma ribanceira dando directamente para o mar;
iii. Fazer o paredão do lado do mar para suportar o novo aterro a partir da barreira e para protegê-lo das águas.
No artigo seguinte mostraremos outra foto destes trabalhos para aparentemente em local diferente da passagem pela PV.
Temos duas fotos anteriores aos trabalhos de cima dando a vista do alto da barreira da Polana para sul e onde surge a PV, que faz na práctica a separação entre a baía (que fica para a esquerda na FOTO 2) e o estuário (que fica depois da PV para a direita), ao fundo. Em relação à FOTO 1, que foi tirada de oeste para leste, as FOTOS 2 são tiradas aproximadamente de norte para sul e por isso nas FOTOS 2 vê-se o lado da PV contrário ao da FOTO 1.
FOTOS 2
à esquerda, incrustada: imagem de postal enviado em 1903 mostrando Reuben Point = PV imagem principal: foto de Cunha de 1910/11 da construção do Caracol da Polana |
Vê-se grandes rochedos na base (sopé) da PV. Essa zona parecia diferente da que se via na FOTO 1 por isso os trabalhos de 1911 devem ter tido fases diferentes ou assumido características diferentes conforme as condições do terreno onde a linha foi sendo construída contornando a PV junto ao mar.
FOTO 3
Rampa do Caracol à esquerda, praia da Polana e Ponta Vermelha mais para o fundo, vistas para sul em 1910 |
Ao tempo das FOTOS 2 se houvesse alguma passagem entre a Baixa e a praia da Polana pela base da PV seria um caminho estreito, únicamente para pessoas. Na FOTO 3 de 1910 devido à distância não se consegue ver se os rochedos iniciais da base da PV teriam ou não sido retirados. Mas mesmo parecendo que sim, vê-se que imediatamente para cá da PV (ou seja para norte) e tal como acontecia na FOTO 2 parecia não haver praia dando aí a barreira da PV/Polana directamente para a baía. Assim mesmo que houvesse aí uma possível passagem para a praia da Polana não seria suficiente para meios de transporte modernos. Mas na FOTO 4 que tem a mesma perspectiva das FOTOS 2 e 3 - mas que foi tirada já nos anos 20 pois nela aparece o Pavilhão de Chá no canto inferior esquerdo - esse local estava já radicalmente modificado.
FOTO 4 (geral e pormenor) - clique para aumentar
Vermelho: encosta na Ponta Vermelha (PV)
Castanho claro: faixa larga de aterro entre o Clube Naval e a PV
Amarelo: Clube Naval, inicialmente Grémio Náutico, de 1919
Cinzento: postes da alimentação suspensa
sobre a linha de carro eléctrico inaugurada em 1922
Laranja: terraço do Pavilhão de Chá de cerca de 1921/22
Verde claro: palhota na curva de cotovelo do Caracol de 1910/11
Verde escuro: quartéis da PV
Rosa: esplanada entre o Pavilhão de Chá e o Clube Naval
Azul escuro: baía de Lourenço Marques
Azul claro: embocadura do estuário na baía
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Na FOTO 4 e em relação ao que se via na FOTO 3, entre o Clube Naval e a PV indica-se a faixa larga para leste da barreira e que se vê era limitada do lado da baía por um paredão marítimo - presumo que semelhante ao que estava em construção na FOTO 1 - limitando o aterro feito sobre a baía (e como a barreira terá sido escavada para se obter material para esse aterro, os dois efeitos combinaram-se para se criar essa faixa). Aparece nessa faixa um caminho mas não parece ser uma estrada pavimentada e com as bermas delimitadas. Como o Caracol ligou a praia da Polana à alta da cidade a partir de 1911, quando o Clube Naval foi construído em 1919 deve-se ter considerado que bastava ligá-lo ao Caracol para lhe dar acesso automóvel - no artigo seguinte aparece uma foto de 1919 desses trabalhos, penso. Mas lembro que desde 1911/12 havia o combóio a vapor como transporte público entre a Baixa e a praia da Polana (ou seja para os locais dos futuros Pavilhão de Chá e Clube Naval, muito antes deles existirem) e que a partir de 1922 o carro eléctrico substituíu-o. Recordo que nesse artigo sobre o combóio analisei três mapas/planos que iam de 1903 a 1925 mas concluí que eles não aportam informação muito relevante em relação ao que se pode saber com outros meios.
A parte da estrada marginal marítima entre a Baixa e o Clube Naval passando pela base da Ponta Vermelha terá sido só feita em 1926 como se pode também ler no artigo seguinte. A FOTO 4, onde havia aterro mas não parecia have estrada ainda, pode por isso ser de um pouco anterior a Outubro de 1926.
JORNAL de OUTUBRO de 1926
A destacar: Engenheiro Brion e Dr. Elisário Monteiro e os senhores que pagaram os impostos para financiar estes desenvolvimentos |
Ao referir a doca de abrigo dos barcos de pesca (que depois deu origem à do Clube de Pesca) fica claro que fez parte destes trabalhos a passagem pela base da Ponta Vermelha depois do que a estrada para a Baixa da cidade estava feita. Não temos fotos dos trabalhos de 1926 entre a PV e o Clube Naval mas podemos ver o seu resultado na foto seguinte que será por isso de entre 1926 (ano da construção da estrada marginal conforme a notícia) e 1929 (ano da publicação dos álbuns de Santos Rufino onde a FOTO 5 foi incluída). Mostra-se aí precisamente a passagem na base da PV em direcção à Praia da Polana, que se atingiria seguindo cerca de 1.5 km mais ou menos em linha recta depois da curva à esquerda que se vê ao fundo.
FOTO 5
A linha de eléctrico ia junto à barreira e suponho que no traçado original da linha de combóio e a estrada com dois sentidos de rodagem foi construída posteriormente do lado do mar. Pode-se ver que neste ponto o novo corredor aberto para a marginal ficou bastante amplo. O paredão marítimo está no limite à direita fazendo a curva para nordeste - norte e constata-se que nesta altura ainda não havia passeio pedestre mas estava-lhe reservado o espaço.
A distância entre o paredão marginal e a barreira não é sempre a mesma ao longo da passagem na base da PV mas a FOTO 6 dos anos 60 penso que dá a ideia geral. Parece-me que a curva pronunciada à esquerda da FOTO 5 seria a mesma curva que na FOTO 6 se vê ao fundo, o que seria num ponto em que do lado direito da FOTO 6 se vêm algumas rochas acima do nível da água (ver aqui artigo seguinte sobre essa zona e com mais detalhe). Sendo a FOTO 5 de entre 1926 e 1929 pode-se ver a grande diferença em relação ao tempo da FOTO 1 que seria de 1911 e em que a faixa de passagem entre o paredão marítimo e a barreira (encosta/ribanceira) eram muito mais estreitas. O alargamento desta faixa deve ter sido em parte conseguido por escavação (adicional) na barreira mas pelo que se pode ver (embora do paredão na FOTO 5 só se veja o cimo por isso não se pode comparar bem os dois) penso que nos trabalhos de 1926 deve ter sido construído um novo paredão mais para dentro do mar do que o da FOTO 1 (novo paredão esse que deve ser o que existe actualmente e que aparece na FOTO 6). O paredão da FOTO 1 terá por isso ficado soterrado algures para o meio da passagem que se via na FOTO 5 e que básicamente será a passagem actual da estrada marginal. Esta é então a avenida marginal nos "bons velhos tempos" na passagem pela base da PV rodeada por passeios, com um parapeito no topo do paredão marítimo, a vegetação natural na encosta e os embelezamentos com árvores e bancos. |
FOTO 6
Marginal de Lourenço Marques, actual Maputo nos anos 60 |
Outro pormenor sobre a evolução desta passagem da marginal e comparando-se agora as FOTOS 5 e 6 é notar-se na segunda (mais recente) que ela é quase plana da barreira ao paredão, enquanto que na FOTO 5 havia dois níveis bem separados. Parece-me assim que após o encerramento da linha do carro eléctrico em 1936 se escavou a faixa mais à esquerda onde as linhas tinham sido colocadas de modo a fazê-la descer para o nível da estrada de 1926, quer dizer para o nível único que existe actualmente.
No artigo seguinte continuaremos o desenvolvimento do assunto.
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