Evolução da marginal de Maputo - de c. 1910 aos tempos recentes (2/5)

Continuamos com novos elementos da história da marginal de Maputo, antiga Lourenço Marques neste caso baseados na observação de duas fotos inéditas no HoM e aqui reproduzidas com a devida vénia dos arquivos do Prof. Arq. Luis Lage e informação do livro do Eng. Lopes Galvão "A Engenharia Portuguesa na Moderna Obra de Colonização" nas páginas 79 a 80.

FOTO 1

Em Setembro de 1911 algures entre a barreira e a água que se vê para a direita

A FOTO 1 tem como legenda original "linha férrea cidade  - praia em 1911" pelo que a associei à construção da passagem dessa linha pela base (sopé) do promontório da Ponta Vermelha (PV). Isso pelo aspecto do local e porque se sabe que a linha de caminho de ferro entre a Baixa e a Praia da Polana foi inaugurada em 5 de Outubro de 1911 pelo que é provável que em Setembro de 1911 os trabalhos estivessem no estado (avançado) que a FOTO 1 mostra. De facto a presença da locomotiva com vagão de carga significa que a linha férrea tinha de de estar instalada pelo menos da estação na Baixa até este local e que a base onde assenta a linha (muro de protecção) devia ser já a definitiva, mas parecia estar-se ainda a reforçar o talude da linha e presumo a encher-se o aterro para o lado direito = do mar.

Esta FOTO 1 virá assim complementar a primeira do artigo inicial desta série onde aparecia também a barreira do lado esquerdo e uma faixa com pedras que não se conseguia saber se era natural ou se era resultante de aterro ou se das duas coisas. A grande diferença é ver-se aí o paredão marítimo o que não acontece aqui pois provávelmente estaria mais para o lado direito (assumo que foi construido ao longo de toda a passagem pela base da PV). Mesmo não se tendo a abertura completa na imagem, no local desta foto parece haver mais espaço do que na do artigo anterior. Esta parece-me ser de antes = para oeste da parte mais saliente da PV que seria a ribanceira quase na vertical que se vê por trás da locomotiva, talvez depois da sua parte inferior original ter sido dinamitada para permitir a abertura desta passagem. 
O Eng. Galvão diz que o estudo e construção da linha se fez a partir de decisão tomada no fim de Agosto de 1911, por isso em pouco mais de um mês apesar da dificulade do  contornamento  da falésia da Ponta Vermelha e da distância ser, mesmo assim, de 5 km.

A FOTO 2 seguinte é também inédita no HoM. É datada de Abril de 1919 e veremos relacionar-se com trabalhos em local e com propósito diferentes dos da FOTO 1. 

FOTO 2

Veremos que se trata da barreira da Polana virada para a baía 
com a Ponta Vermelha para a esquerda

Na FOTO 2 vê-se montes de terra entre a barreira (com uma parede de protecção na base) e a linha férrea onde estão os vagões. Trata-se por isso dum local da marginal onde já existia linha férrea por isso onde em 1911 tinham decorrido obras como se viram na FOTO 1. Deduz-se que se aterrava para cá = leste da linha férrea mas não se percebe bem se no limite do aterro junto à praia se está a desfazer um paredão marítimo inicial para se construir outro ou se o que se vê em obra seria o primeiro paredão construído nesta zona. 
Na FOTO 2 via-se na crista da barreira uma grande parede que veremos a seguir faz parte do Miradouro da Polana (era dito que este foi construido nos anos 40 mas vê-se agora que a sua construção foi mais espaçada no tempo) o que permitirá localizar onde decorriam os trabalhos e assim relacioná-los com outros dados. 

FOTOS 3 (clique para aumentar)

à esquerda: saliência arredondada no Miradouro com escadas 
de cada lado em vista para leste (na altura tudo em estado calamitoso)
ao centro: localização dessa saliência do Miradouro em vista para oeste e que ficava (fica) na direcção da Av. Pinheiro Chagas, actual Mondlane
à direita: pormenor da FOTO 2 com essa saliência vendo-se passando em baixo 
a rampa descendo da PV para a praia da Polana (ver aqui para o fim do artigo)

Vamos ter em conta o ângulo em que na FOTO 2 se vê a parede que identificámos ser do Miradouro e demais dados das FOTOS 3 e olhar para o mapa de 1925/26 (que é uns anos posterior à FOTO 2 mas penso que isso não trás problema). Concluo daí que estes trabalhos em 1919 decorriam no litoral da baía entre o Clube Naval (que foi construído nesse mesmo ano) e a entrada no Caracol (que ligava a Praia da Polana ao alto da cidade para o trânsito automóvel). Como já aí existia a linha férrea, a FOTO 2 mostra então o alargamento e/ou consolidação dessa faixa de passagem para se lhe juntar uma estrada para os automóveis na base da barreira da Polana entre o Clube Naval e o local do futuro Pavilhão de Chá. Sendo a legenda original da FOTO 2 de 1919 "início das obras na marginal" compreendemos agora que se refere a um seu troço simples e curto pois o resto da marginal para a Praia da Polana ligando o Clube Naval à Baixa que necessitava da abertura da passagem mais difícil pela base da Ponta Vermelha só foi feito em 1926.

MAPA/PLANO de 1925/26 para a Praia da Polana

Vermelho: zona da saliência arredondada no Miradouro das FOTOS 3
Castanho: rampa descendo da PV para perto do Pavilhão de Chá 
e que se vê nas FOTOS 3
Amarelo: Clube Naval, primeiramente Grémio Náutico
Laranja escuro: Pavilhão de Chá
Rosa: esplanada marítima entre o Pavilhão de Chá e o Clube Naval
Laranja claro: Av. Pinheiro Chagas "continuada" pela Rua Santa Maria
Círculo preto: donde foi tirada a FOTO 2 (veremos em baixo)
Traço - ponto na marginal: linha de eléctrico existente a partir de 1922 
com término pouco antes do Pavilhão de Chá
Azul escuro: baía
Azul claro: embocadura do estuário na baía ao lado da Ponta Vermelha

Mais em pormenor parece-me que a FOTO 2 foi tirada do molhe que saía da plataforma construida sobre a baía onde foi instalado o Clube Naval, o que explica o que se vê no seu canto inferior. Como se pode ver num artigo sobre a esplanada nas suas fotos mais antigas viamos a barreira mais a oeste, depois a linha do combóio que foi transformada em eléctrico e que foi feita em 1911/12, e depois a curta estrada para o Clube Naval com a esplanada suportada do lado leste = nascente por um paredão marítimo e que devem ter resultado do que aqui se via presumo que ao início da construção em 1919.

Dando um salto no tempo podemos ver a estrada marginal da Praia da Polana mais para sul entre a base da Ponta Vermelha da FOTO 1 e a zona do Clube Naval da FOTO 2 numa foto dos anos 50 reproduzida por Magno Antunes no FB Alto-Maé. Seguindo no sentido de norte para sul este é o ponto onde a estrada atinge a muralha marítima depois de ter passado junto à barreira ao lado do Clube Naval. A partir deste ponto a estrada marginal seguirá junto ao mar e contornará a base da Ponta Vermelha até chegar às cercanias da doca do CPD. 

FOTO 4

Vista para sul na estrada marginal entre a baía à esquerda e barreira da Polana à direita 

Ao fundo da FOTO 4 vê-se a zona de espera dos navios para atracar no porto e que ficava entre a baía e a entrada no estuário do Espírito Santo, actual de Maputo.

Na última foto deste artigo (reproduzida do site delcampe.com) podemos ver a estrada marginal nos anos 50 na base da PV tal como muitas outras fotos mostradas aqui. Estamos aí na estrada marginal de costas para a barreira e olhando para o litoral:

FOTO 5

Marginal na transição entre a baía para a esquerda e o estuário para a direita