Mapa da cidade de LM e estuário (English River) |
Diagrama da linha férrea de LM na costa a Pretória no interior via fronteira de Ressano Garcia / Komatipoort em 1899 |
O objectivo de MGJ com o livro era defender que o Reino Unido (RU) comprasse ou alugasse a Portugal LM e sua região pois havia o risco do Transvaal o fazer antes ou mesmo que invadisse Moçambique para o conquistar. Quando o livro foi terminado em Julho de 1899 o RU tinha de contar com as duas repúblicas independentes boer SAR (Transvaal) e Oranje e com o poder português consolidado no sul de Moçambique devido às vitórias de Mousinho de 1895 a 1897 (o RU tinha nutrido a sublevação de tribos locais mas depois tinha-as abandonado), facto a que MGJ dá a devida nota no livro.
Nos nossos dias podemos imaginar que em meados de 1899 o RU devia estar a preparar a segunda guerra anglo-boer que começou em Outubro desse ano mas MGJ provávelmente não o sabia. É que se soubesse ele adivinharia que o impacto do livro com a provável vitória britânica - depois da surpreendente derrota na primeira guerra - se desvaneceria e certamente ele não se teria dado ao trabalho de o lançar (pouparia ao menos a fase final porque a fazê-lo tinha começado em 1897). De facto depois dumas oscilações iniciais, a partir de 1900 os boers tinham virtualmente sido derrotados pelo RU e como poder político desapareceram de cena (até voltarem a meio do século XX). A partir daí restaram dois dos três poderes na região e Portugal ficou em posição de inferioridade em relação ao RU pois este passou a ter o poder de desviar o tráfego ferroviário do Transvaal da linha e porto de LM para o de Durban (e cabo mais remotamente). Por isso a partir de 1902 (ano da sua vitória contra os boers) o RU podia com custo moderado (teria sempre algum custo dado que LM era o corredor natural para o Transvaal, Durban ficava mais longe e tinha porto com piores condições naturais) controlar o que lhe interessava em LM e sem precisar de se emiscuir demasiado nos assuntos locais. Do outro lado da balança Portugal manteve o poder de fornecer ou não trabalhadores para o Transvaal, os magaíças, que eram mais eficazes que as alternativas de mão de obra que o RU procurou. Assim logo em 1900 o livro de MGJ tinha perdido o seu objectivo principal, mas curiosamente parece ainda relativamente em voga se o pesquisarmos no Google (98 000 resultados).
Mas, sublinho que quando o livro foi escrito havia três poderes na região e que a descoberta do ouro no Transvaal, para além da acicatar a cobiça britânica, tinha reforçado a importância estratégica de LM, do seu porto e do seu caminho de ferro para Pretória e sua região do Rand. O livro mostrava então a forma que o RU teria de transformar esse estado num que lhe fosse mais benéfico.
Tenho ideia que foi Cecil Rhodes, misto de político, arqui-empresário e patriota britânico, o maior proponente da ideia de aquisição de LM a Portugal. Não sei o que MGJ fazia profissionalmente, mas o livro que lhe é dedicado tem toda a aparência de ter sido feito com a benção de Rhodes (talvez mesmo encomendado ou financiado por ele) tentando valorizar LM para o público britânico no intuito de o fazer aceitar que a sua posse seria um desígnio nacional britânico. Para além do porto e linha férrea, por exemplo MGJ falava no livro de imensas descobertas de carvão e de petróleo em volta de LM que ao que me consta se existem nunca se confirmaram ser de valor e em enormes possibilidades agrícolas na região de LM que penso eram exageradas. Falta agora saber se MGJ escreveu isso de boa fé acreditando em fontes pouco fidedignas ou de má fé só para enganar o leitor/público britânico. Noto que Alfredo Pereira de Lima na sua obra "Edifícios Históricos" analisou brevemente o livro de Montague e como resultado chamava-lhe "excelente agente do imperialismo de Cecil Rhodes" ...
Nos nossos dias podemos imaginar que em meados de 1899 o RU devia estar a preparar a segunda guerra anglo-boer que começou em Outubro desse ano mas MGJ provávelmente não o sabia. É que se soubesse ele adivinharia que o impacto do livro com a provável vitória britânica - depois da surpreendente derrota na primeira guerra - se desvaneceria e certamente ele não se teria dado ao trabalho de o lançar (pouparia ao menos a fase final porque a fazê-lo tinha começado em 1897). De facto depois dumas oscilações iniciais, a partir de 1900 os boers tinham virtualmente sido derrotados pelo RU e como poder político desapareceram de cena (até voltarem a meio do século XX). A partir daí restaram dois dos três poderes na região e Portugal ficou em posição de inferioridade em relação ao RU pois este passou a ter o poder de desviar o tráfego ferroviário do Transvaal da linha e porto de LM para o de Durban (e cabo mais remotamente). Por isso a partir de 1902 (ano da sua vitória contra os boers) o RU podia com custo moderado (teria sempre algum custo dado que LM era o corredor natural para o Transvaal, Durban ficava mais longe e tinha porto com piores condições naturais) controlar o que lhe interessava em LM e sem precisar de se emiscuir demasiado nos assuntos locais. Do outro lado da balança Portugal manteve o poder de fornecer ou não trabalhadores para o Transvaal, os magaíças, que eram mais eficazes que as alternativas de mão de obra que o RU procurou. Assim logo em 1900 o livro de MGJ tinha perdido o seu objectivo principal, mas curiosamente parece ainda relativamente em voga se o pesquisarmos no Google (98 000 resultados).
Mas, sublinho que quando o livro foi escrito havia três poderes na região e que a descoberta do ouro no Transvaal, para além da acicatar a cobiça britânica, tinha reforçado a importância estratégica de LM, do seu porto e do seu caminho de ferro para Pretória e sua região do Rand. O livro mostrava então a forma que o RU teria de transformar esse estado num que lhe fosse mais benéfico.
Tenho ideia que foi Cecil Rhodes, misto de político, arqui-empresário e patriota britânico, o maior proponente da ideia de aquisição de LM a Portugal. Não sei o que MGJ fazia profissionalmente, mas o livro que lhe é dedicado tem toda a aparência de ter sido feito com a benção de Rhodes (talvez mesmo encomendado ou financiado por ele) tentando valorizar LM para o público britânico no intuito de o fazer aceitar que a sua posse seria um desígnio nacional britânico. Para além do porto e linha férrea, por exemplo MGJ falava no livro de imensas descobertas de carvão e de petróleo em volta de LM que ao que me consta se existem nunca se confirmaram ser de valor e em enormes possibilidades agrícolas na região de LM que penso eram exageradas. Falta agora saber se MGJ escreveu isso de boa fé acreditando em fontes pouco fidedignas ou de má fé só para enganar o leitor/público britânico. Noto que Alfredo Pereira de Lima na sua obra "Edifícios Históricos" analisou brevemente o livro de Montague e como resultado chamava-lhe "excelente agente do imperialismo de Cecil Rhodes" ...
Li o livro de MGJ (demasiadamente) rápido e não consegui distinguir que opções ele propunha para o objectivo essencial de controlar o porto e caminho de ferro de LM, sendo o resto um tanto acessório. Mas parece-me que MGJ defendia o controle total de LM e sua região pois essa seria a chave (the key to) para o RU manter o seu poder na África do Sul na altura restrito ao Cabo e de Natal/Durban.
Para quem quiser ler o livro em profundidade de notar que os britânicos tanto chamavam Delagoa Bay (DB) à baía como à cidade. Todavia MGJ no mapa que vemos em cima chamava à cidade Lourenço Marques e DB à baía, mas no texto nem sempre parece coerente.
Relembro que Portugal tinha nacionalizado em 1889 a linha de caminho de ferro que pertencia a uma companhia privada inglesa e que quando o livro saíu em 1899 o valor da indemnização estava ainda para ser decidido por arbitragem suíça (ver aqui, aqui e aqui - corrigi umas datas). Era esperado pelo RU que o valor fosse tão elevado que Portugal teria dificuldade em pagá-lo, uma pressão extra que jogaria a favor do que MGJ propunha. Do lado português já nessa altura uma corrente defendia que o melhor seria entregar a linha em vez de indemnizar a nacionalização. No que se refere não só à linha mas incluíndo também o porto de LM por exemplo Freire de Andrade, antigo Governador-Geral de Moçambique de que falei aqui e que ocupou depois altos cargos diplomáticos em Portugal também a defendeu essa entrega embora muito mais tarde, quer dizer noutras circunstâncias (cerca de 1920) e por pouco tempo e parece que referindo-se simplesmente à infraestrutura e não à soberania sobre o território. De qualquer modo a proposição de MGJ de venda por Portugal ao RU, pelo menos da infraestrutura que lhes era essencial, não era tão obtusa como pode agora parecer.
MGJ terá junto os dois diagramas de cima ao livro (aqui com "coloridos" HoM) para fazer compreender ao público britânico, para quem LM seria totalmente desconhecido, o que ele explicava no texto, que a baía a que o porto de LM se ligava era naturalmente protegida do oceano e que a linha de caminho de ferro tinha grande extensão ligando a costa a não só a Pretória mas também a Johannesburg que devia ser o nome mais apelativo da África do Sul para os leitores.
Para quem quiser ler o livro em profundidade de notar que os britânicos tanto chamavam Delagoa Bay (DB) à baía como à cidade. Todavia MGJ no mapa que vemos em cima chamava à cidade Lourenço Marques e DB à baía, mas no texto nem sempre parece coerente.
Relembro que Portugal tinha nacionalizado em 1889 a linha de caminho de ferro que pertencia a uma companhia privada inglesa e que quando o livro saíu em 1899 o valor da indemnização estava ainda para ser decidido por arbitragem suíça (ver aqui, aqui e aqui - corrigi umas datas). Era esperado pelo RU que o valor fosse tão elevado que Portugal teria dificuldade em pagá-lo, uma pressão extra que jogaria a favor do que MGJ propunha. Do lado português já nessa altura uma corrente defendia que o melhor seria entregar a linha em vez de indemnizar a nacionalização. No que se refere não só à linha mas incluíndo também o porto de LM por exemplo Freire de Andrade, antigo Governador-Geral de Moçambique de que falei aqui e que ocupou depois altos cargos diplomáticos em Portugal também a defendeu essa entrega embora muito mais tarde, quer dizer noutras circunstâncias (cerca de 1920) e por pouco tempo e parece que referindo-se simplesmente à infraestrutura e não à soberania sobre o território. De qualquer modo a proposição de MGJ de venda por Portugal ao RU, pelo menos da infraestrutura que lhes era essencial, não era tão obtusa como pode agora parecer.
MGJ terá junto os dois diagramas de cima ao livro (aqui com "coloridos" HoM) para fazer compreender ao público britânico, para quem LM seria totalmente desconhecido, o que ele explicava no texto, que a baía a que o porto de LM se ligava era naturalmente protegida do oceano e que a linha de caminho de ferro tinha grande extensão ligando a costa a não só a Pretória mas também a Johannesburg que devia ser o nome mais apelativo da África do Sul para os leitores.
Veremos mais dos argumentos de MGJ nos próximos artigos da série e mencionaremos como ele via o futuro de LM sob controlo britânico. Mas para mim o maior interesse do livro está na descrição que me parece ser única que ele faz da cidade e das suas infraestruturas mais importantes no final do século XIX (19).
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