Kiosk na Praça em Lourenço Marques (visto para sudeste), esboço por Montague George Jessett (MGJ) em 1899 |
Depois da primeira e segunda partes, continuo a resenha do livro "The Key To South Africa: Delagoa Bay" de Montague George Jessett (MGJ) publicado em 1899 e agora disponível em pdf.
Como já tinha dito em artigo anterior, o livro fala do cosmopolitismo da população de Lourenço Marques (LM) actual Maputo sendo de notar que os portugueses não eram considerados europeus: The town has considerable business activity. There are two or three hundred Europeans in business — Dutch, German, French, and English; the remainder of the population, of some thousand inhabitants, consists of Portuguese, Creoles, Banyans (or Arabs), and native Africans.' Since this was written the population has largely increased. According to the official census of the population at the end of December 1897 there were 2 242 Europeans and Americans, 913 Asiatics, and 1 747.
O cosmopolitismo da população notava-se também na arquitectura na cidade e "pitoresco" era um termo muito usado nas descrições. Óbviamente que os britânicos podiam usar Durban como termo de comparação e LM ficava nítidamente a perder.
Como já tinha dito em artigo anterior, o livro fala do cosmopolitismo da população de Lourenço Marques (LM) actual Maputo sendo de notar que os portugueses não eram considerados europeus: The town has considerable business activity. There are two or three hundred Europeans in business — Dutch, German, French, and English; the remainder of the population, of some thousand inhabitants, consists of Portuguese, Creoles, Banyans (or Arabs), and native Africans.' Since this was written the population has largely increased. According to the official census of the population at the end of December 1897 there were 2 242 Europeans and Americans, 913 Asiatics, and 1 747.
O cosmopolitismo da população notava-se também na arquitectura na cidade e "pitoresco" era um termo muito usado nas descrições. Óbviamente que os britânicos podiam usar Durban como termo de comparação e LM ficava nítidamente a perder.
MGJ descrevia as condições climáticas na cidade em pormenor e concluía que em geral não eram más e que como as condições sanitárias tinham melhorado muito depois início do aterro do pântano, cujo trabalho estava todavia a ser lento, a profissão de cangalheiro não teria grande procura (aqui MGJ pensava já na futura colonização por britânicos).
Refere o jardim e kiosks na Praça 7 de Março (o da sua gravura em cima é o quiosque Chalet que passamos a saber agora será de 1899 ou anterior) e ao Jardim Botânico de que falaremos separadamente.
Refere o jardim e kiosks na Praça 7 de Março (o da sua gravura em cima é o quiosque Chalet que passamos a saber agora será de 1899 ou anterior) e ao Jardim Botânico de que falaremos separadamente.
MGJ mencionava o paiol, a igreja paroquial e o hospital em volta do mesmo largo, o quartel do Alto-Maé e a casa amarela (do governador). A maioria das casas era de ferro, havia avenidas largas (menciona as actuais 25 de Setembro, Samora, Lenine, Marx, Lumumba para a PV) e também fala duma Rua Guato y Castero (Canto e Castro !) que saía do cais e que ia ter ao Plaza (Praça 7 de Março). Dizia que havia ruas pavimentadas com passeios e árvores mas outras estavam em areia. Deve ter visto o mercado provisório e viu o Cemitério de S. Teotónio.
MGJ dizia que a alfândega era um caos (o jornal madeirense Diário do Commercio em 1896 e o Alto-Comissário António Enes que saíu em 1895 tinham dito o mesmo e ele cita-os) e que em 1897 uma armada britânica tinha vindo ao porto aparentemente para alertar/fazer pressão para se resolver o problema, o que em parte tinha conseguido. Havia também queixas moderadas sobre a estação dos CF (já havia a de dois pisos desde 1895) e gravíssimas sobre o funcionamento do primeiro cais que por ser pouco profundo obrigava ao uso de barcaças (lighters) para os navios amarrados no meio do estuário tendo-se de aguardar pela maré alta, mas tinha havido ligeiras melhoras recentemente. A alfândega tinha os barracões e espaço vedado e o cais tinha sido equipado de sete guindastes a vapor (era a situação que se via aqui). Tinha passado a haver mais pilotos da barra e o porto tinha sido iluminado. Na parte final o livro descreve em pormenor o caso da construção, nacionalização e indemnização da linha de caminho de ferro para Ressano Garcia com ligação a Pretória a que já referi.
MGJ dizia que a alfândega era um caos (o jornal madeirense Diário do Commercio em 1896 e o Alto-Comissário António Enes que saíu em 1895 tinham dito o mesmo e ele cita-os) e que em 1897 uma armada britânica tinha vindo ao porto aparentemente para alertar/fazer pressão para se resolver o problema, o que em parte tinha conseguido. Havia também queixas moderadas sobre a estação dos CF (já havia a de dois pisos desde 1895) e gravíssimas sobre o funcionamento do primeiro cais que por ser pouco profundo obrigava ao uso de barcaças (lighters) para os navios amarrados no meio do estuário tendo-se de aguardar pela maré alta, mas tinha havido ligeiras melhoras recentemente. A alfândega tinha os barracões e espaço vedado e o cais tinha sido equipado de sete guindastes a vapor (era a situação que se via aqui). Tinha passado a haver mais pilotos da barra e o porto tinha sido iluminado. Na parte final o livro descreve em pormenor o caso da construção, nacionalização e indemnização da linha de caminho de ferro para Ressano Garcia com ligação a Pretória a que já referi.
Na página 26 MGJ dava grande importância aos efeitos que a electricidade teria na cidade mas penso eu que combinados com os que viriam da sua passagem para o Reino Unido: "With the advent of electric trams, and the other benefits conferred by electricity, in addition to the electric light installation it now enjoys, Lourenço Marques will awake from her lethargy and will take her rightful place among the flourishing towns of South Africa".
No mesmo tom MGJ fala da maravilha que era o abastecimento de água e de como iria ainda melhorar - ver texto aqui, ao fundo com linguagem rude para os nossos dias (re. kafir).
No mesmo tom MGJ fala da maravilha que era o abastecimento de água e de como iria ainda melhorar - ver texto aqui, ao fundo com linguagem rude para os nossos dias (re. kafir).
Os bares de alcoól e com "ladies" proliferavam em LM e deveriam ser reduzidos. Em geral a população tanto de origem europeia como africana parecia seguir pouco os preceitos "calvinistas" pelo que MGJ se fosse Deus condenaria todos pelos seus pecados: "Blacks still monopolise the public thoroughfares, and both whites and blacks seem afraid of hard work; while all of them, irrespective of age or sex, appear to regard life as a mere long period of enjoyment, having no sorrows and no serious drawbacks.". MGJ faz mais referência aos nativos africanos principalmente em longas descrições da página 87 e à 96, naturalmente com o "mindset" racista e supremacista da época.
Ao longo de todo o livro há considerações históricas e políticas sobre Portugal e Moçambique mas o último capítulo é grandemente dedicado ao tema e como o resto da obra deve ser de muito interesse para os historiadores.
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