Jardim botânico, actual Tunduru: "estória" dos muros e gradeamento (47/)

Para além do que pudemos observar nas várias fotografias que encontrámos sobre as entradas e a vedação do jardim botânico Vasco da Gama de Lourenço Marques, actual Tunduru de Maputo, e que iniciámos aqui, a informação escrita que conheço sobre a sua história é limitada a dois autores: 
a. Alfredo Pereira de Lima escreveu no livro Pedras: "... deliberação tomada em sessão de 4 de Agosto de 1897 em que se lê: “ ..tendo-se notado a afluência que vai tendo o Jardim Minicipal que em breve vai ser aberto ao público, que se macadamizem as ruas e se faça a aquisição na Europa de um portão de ferro para a porta do mesmo.”. 
Por isso o primeiro portão foi adquirido em 1897 e não fica esclarecido onde para onde teria sido, provávelmente para a entrada a sudoeste e que era em local diferente do actual como se explicou aqui
b. Lisandra Franco de Mendonça (LFM) escreveu na sua tese de doutoramento nas páginas 399/400 referindo-se à influência de Thomas Honey a partir de 1906: "A parcela do Jardim .... circundada por um muro marcado por colunas de alvenaria, encimado por gradeamento de ferro. O Jardim passou a dispor de seis entradas, com elegantes portões de ferro de fundição inglesa (da Felber Jucker & Co, Manchester) (que podem ser observados no local): a principal na Avenida Samora Machel, uma na Rua da Rádio, duas na Avenida Vladimir Lenine e duas na Avenida Zedequias Manganhela (Fig. 220). Junto à antiga Casa do Jardineiro (na Rua do Jardim) existia também uma entrada mais estreita, de serviço." .
Do texto de LFM deduz-se que as entradas actuais ficaram definidas já no século XX (20) e que tinham portões de ferro. Seria de esperar que o resto do terreno estivesse vedado também, mas nem temos a certeza nem sabemos como o seria. Nas fotos mais antigas (FOTO 4 deste mas talvez fosse da Vila Jóia e FOTOS 6 deste artigos recentes e nas FOTOS 1 a 3 deste) o terreno parecia vedado com rede e/ou arame e com talvez sebe e/ou caniços, mas não parecia existir muro, mas sabe-se que em 1919 como se viu nas fotos de Shantz ele estava construído. Em relação às componentes metálicas da vedação ficamos sem saber se o gradeamento foi fornecido conjuntamente com os portões e é sobre o gradeamento que falaremos agora.. 
A foto seguinte é de um local de Lourenço Marques, actual Maputo que provávelmente é no jardim e que nos foi sugerido ser uma entrada para os sanitários públicos. Estes teriam acesso pelo exterior, seriam subterrâneos e como há separação entre masculino e feminino explicar-se-ia a aparente complexidade da construção e as diversas grades. Em primeiro plano teríamos assim o gradeamento exterior do jardim e ao fundo um caminho no seu interior.


FOTO 1
Provávelmente vista do exterior para o interior do jardim nos anos 50

Podemos ver que este gradeamento corresponde aos aplicados no jardim em diferentes momentos, locais e usos no jardim.


MONTAGEM 1
Gradeamento no jardim Vasco da Gama: desenho, em muro recente,
em lago cerca de 1929 e em muro em 1919
Na imagem de c. 1929 que é dum lago (aqui na FOTO 3) para além do gradeamento vê-se que o muro em pedra tem também o mesmo aspecto do da FOTO 1 reforçando a ideia deste ser também do jardim. Vê-se assim que este padrão de gradeamento foi aplicado no interior e exterior do jardim durante um largo período mas não sabemos se foi todo realizado em simultâneo ou se se foi sendo replicado. Naturalmente à medida que Lourenço Marques se desenvolveu técnicamente, prioritáriamente para responder às necessidades do Caminho de Ferro e do porto, passou a haver pessoal e equipamento capazes de fazer localmente os trabalhos de fundição e serralharia como o que tinha sido encomendado à firma inglesa e pode-se dispensar as importações. Felber Jucker & Co. que forneceu os portões era uma grande empresa sediada em Manchester no epicentro da região mais industrializada do mundo na altura. Podemos ver aqui um dos anúncios do seu departamento de maquinaria têxtil: 
Firma inglesa de Manchester, também fornecedora dos portões do jardim
Deixando o gradeamento e voltando aos elementos em alvenaria da vedação do jardim, quanto às colunas do muro e dos portões de entrada vê-se terem sido de vários tipos. Eis uma amostra em tempos e locais diversos: 

MONTAGEM 1
superior (A): c. de 1910, ao fundo o portão ao meio da Av. Álvares Cabral
médio (B.1): c. de 1929, no lado norte da praceta e entrada principal
inferior (B.2): cerca de 1929, na entrada actual a sudoeste
Na situação A, que será o caso mais antigovia-se as colunas do portão da Av. Álvares Cabral que pareciam diferentes das posteriores e que não havia ainda o muro actual.
Na situação B.1 de cerca de 1929 (e podemos dizer que continuava na mesma em 1939 olhando-se para a FOTO 2 aqui) as colunas do portão e as do muro pareciam respectivamente diferentes das da situação A e das da B.2 (diferentes na largura da parte inferior e no capitel). 
Conclusão é que a partir da observação destas fotos me parece difícil completar a "estória" das vedações do jardim. 

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