Jardim botânico, actual Tunduru: pequenas pontes de pedra (9/)

Veremos aqui pontes de pedra que existiram antigamente no jardim botânico de Lourenço Marques, actual Tunduru de Maputo. 
A primeira foto mostra uma ponte estreita sobre um curso de água. Pode dizer-se para todas as pontes que aqui veremos que elas estavam na faixa sul do jardim e ligadas aí os seus lagos iniciais (um, dois e três) e que inicialmente funcionavam como reservatórios de água. Penso que não havia nenhum curso de água criado no jardim que por exemplo descesse a encosta (de norte para sul) porque não haveria fonte que lhe assegurasse, fora dos dias de chuva, um fluxo de água mínimo que valorizasse as pontes que o atravessariam. Seria por isso necessário canalizar e bombear continuamente essa água de novo para o lado norte = alto da encosta de modo a fechar o seu ciclo. Ao tempo destas FOTOS de 1 a 5 penso que tal instalação seria demasiado complexa e dispendiosa para tal jardim mas com a evolução mais tarde foi construído um grande reservatorio elevado no canto a nordeste e mais elevado do terreno do jardim.


FOTO 1
Jardim botânico de Lourenço Marques por volta de 1910
Podemos tentar definir este local pelo que se vê mais recuado que se concluirá ser o quarteirão a sul do jardim entre a antiga Av. Álvares Cabral e a antiga Av. da República, actuais Manganhela e 25 de Setembro e do qual o lago grande do jardim é vizinho. 


FOTO 1 com marcas
Laranja: portão do jardim a meio da antiga Av. Álvares Cabral, 
actual Manganhela, que ladeava o jardim a sul
Vermelho (do lado norte ou traseira) e Verde (do lado poente=oeste)
prédio da Fazenda de 1904, actualmente Biblioteca, 
com frente para a actual Av. 25 de Setembro
Roxo e Amarelo: edifícios no complexo das primeiras Obras Públicas,

 nos quais face à Av. da República estava a  "barraca de praia" 
A partir doutras fotos, no artigo seguinte aparece uma ponte que concluímos estar também colocada mais ou menos na direcção este - oeste como a de cima e que tem aspecto semelhante. Estaríamos então nesta FOTO 1 de cima a ver a ponte desse artigo aqui do lado da encosta enquanto que nos fotos desse artigo ela estava a ser vista do lado oposto. A parti daái podáiamos também dizer que se estava aquo próximo do extremo B ou B' do lago longo de que falámos aqui e que ficaria do centro para leste na faixa inferior = a  sul do jardim.
A FOTO 2 seguinte está marcada como sendo de 1908 e é por isso da mesma altura da FOTO 1. Vê-se o jardim para o lado direito e a Baixa da cidade a partir das dunas na Barreira da Maxaquene em direcção à Matola ao fundo. Marco nele o mesmo que se vê na FOTO 1, com excepção da face poente da Fazenda que não se vê desta perspectiva, definindo a posição estimada da ponte como explico melhor através da planta mais em baixo neste artigo.

 FOTO 2
Mesmas cores de cima mais
Azul: "barraca de praia" do complexo da Obras Públicas
Seta castanha: posição estimada da ponte da FOTO 1
Laranja claro: Av. Álvares Cabral, actual Manganhela 
Na foto seguinte de Santos Rufino (SR) publicada em 1929 aparece à esquerda e para o fundo entre as duas palmeiras outra ponte de pedra. Parece-me ser a da FOTO 1 vista do mesmo lado mas mais para a esquerda do que ela = sul neste caso mas..

FOTO 3
SR cerca de 1929: trecho do Jardim Municipal.
Parece-me claramente que a FOTO 3 seria da faixa sul do jardim criada junto ao pântano talvez uns vinte anos antes da FOTO 1. Esta foto seria uma vista para poente pelo que se esta ponte fosse a mesma da FOTO 1, a Av. Álvares Cabral e o portão entre ela e o jardim estariam para a esquerda. Se esta ponte não fosse sobre a ponta dum dos lagos seria então sobre um riacho que os ligasse.
Mostro a seguir outra foto também de SR duma ponte de pedra no jardim. É dificil dizer se é a mesma das fotos anteriores, para mais que cerca de 15 anos se terão passado entre a FOTO 1 e as duas de SR durante os quais para além da natural evolução da vegetação o jardim foi sujeito a redesenho (e que muito o terá beneficiado comparando por exemplo as FOTOS 1 e 3). Mas o aspecto geral delas parecia semelhante. 

FOTO 4
Legenda original: lagos do jardim
(e parecia que tinha chovido muito e o riacho podia ter alargado).
Na planta / foto seguinte de 1946 e retirado com a devida vénia da tese de doutoramento de Lisandra Franco de Mendonça (carregar aqui) marquei o lago do jardim que restava nesses tempos e que é o actual e a avenida que o limita do lado sul, a antiga Av. Álvares Cabral, actual Manganhela. Com essas posições e as outras referências da FOTO 1 (portão para a avenida, edifício das Finanças/Biblioteca e traseiras das Obras Públicas antigas) tentei localizar essa ponte.

Planta do Jardim Vasco da Gama, 1946, CEDH-FAPF com marcas
Castanho: posição estimada da ponte da FOTO 1
Laranja: portão do jardim que se vê na FOTO 1
Azul: lago do jardim que perdura até hoje
Laranja claro: Av. Álvares Cabral, actual Manganhela
Podemos visualizar a zona sul do jardim e onde terá estado a ponte da FOTO 1 doutro lado através da FOTO 5 onde se viam ainda os seus edifícios relevantes. Vê-se aqui a Av Álvares Cabral, actual Manganhela que limita o jardim a sul no cruzamento com a Av. D. Luis, actual Samora e nota-se que nas traseiras da Fazenda/Biblioteca inicial que se via na  FOTO 1 tinha surgido uma extensão.

FOTO 5

Seta castanha: apontando para onde seria a ponte,
mas provávelmente ainda mais para a esquerda
Laranja:
 sobre o portão do jardim que se vê na FOTO 1
Laranja claro: Av. Álvares Cabral, actual Manganhela
Como se tem dito os lagos e riachos criados ao sul do jardim deviam ser uma combinação de antigas estruturas para facilitar a drenagem do pântano, de aproveitamento de fontes naturais para irrigação e de elementos para o seu embelezamento. Mais sobre pontes do jardim aqui.

NB: De lembrar que em 1910 onde agora é a Avenida 25 de Setembro e frente ao Teatro Avenida ainda era estuário quer dizer mar, por isso a água (salgada nesse caso) andava muito perto donde estava por exemplo a ponte de pedra da FOTO 1. 
PS: noto que a FOTO 1 genéricamente foi tirada na transição entre a Monarquia e a República. Os postais nas duas versões apresentadas foram selados já na República pois os selos eram dum Rei (D. Luiz ?) mas foi-lhes aposto o carimbo de República. Como a data do  (único?) carimbo parece ser 7.10.1912 às 9 horas isso significa que dois anos depois da abolição da Monarquia ocorrida em 5.10.1910 se continuavam a aproveitar os selos antigos. A economia devia então fazer parte da ética republicana.  

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