Jardim botânico, actual Tunduru: muros a leste e reabilitação de 2015 (46/)

Continuamos falar sobre a vedação do jardim botânico Vasco da Gama de Lourenço Marques, actual Tunduru de Maputo com este quarto artigo sobre a face a leste do jardim. Veremos fotos anteriores e posteriores à dita reabilitação de 2014 e 2015. Primeira uma foto anterior à reabilitação e mostrando porque ela era necessária:

FOTO 1
Entrada do canto a sudeste do jardim com o portão original pré reabilitação
Na coluna da esquerda termina o muro do lado sul que ladeia a Av. Manganhela. Entre as colunas, olhando para interior do jardim e ao cimo do caminho - aqui ainda com o pavimento em pedra - vemos para o fundo uma arcada da Vila Jóia. À direita do muro vê-se o passeio da Av. Lenine e depois mais para leste a sua faixa de rodagem subindo para a alta da cidade.
A foto seguinte é da mesma zona mas no exterior do jardim e um pouco acima da esquina. Vê-se aí a ligação entre o muro do jardim e o da Vila Jóia cujo terreno é circundado pelo jardim em três lados, exceptuando-se o da avenida.

FOTO 2
Vista do jardim a partir da Av. Lenine para noroeste 
(foto de Orlando Rodrigues pós reabilitação)
Nota-se bem nesta foto que o declive da faixa a sul do jardim para a sua plataforma intermédia que é indicado pela Vila Jóia é mais acentuado nesta face do quarteirão do que na face a oeste da Av. Samora
Subindo pela Av. Augusto de Castilho, a certa altura Av. Elias Garcia e actual Lenine chega-se então ao nível da Vila Jóia, actual Tribunal Constitucional. Na foto antiga seguinte mas sem data precisa vê-se esse edifício com um muro e gradeamento de ferro que era igual ao do jardim.


FOTO 3
Vila Jóia acima da sua entrada principal vedação igual à do jardim
O muro actual do jardim já existia em 1919 (visto aqui nas FOTOS 5 e 8 de Shantz) mas não sei quando foi construído. Inicialmente a Vila Jóia não teve esse muro mas sabemos que cerca de 1929 já o tinha (vê-lo na terceira foto aqui). O mais provável é que tenha sido construídos simultâneamente antes de 1919 mas ... 
De notar que o limite actual a leste do quarteirão que é em parte do jardim e em parte do terreno da Vila Jóia até cerca de 1914 pertencial totalmente à Vila Jóia. Por isso quando olhamos para fotos antigas deste lado do quarteirão temos de ter em atenção que o jardim podia ainda não chegar até aí. É o caso da foto seguinte tirada pelos missionários suíços disponibilizada no site da Universidade Southern California (USC). Na FOTO 4 estaríamos ao lado da Vila Jóia de que se só vê um portal no seu exterior à direita. Pode ver-se que a Vila Jóia tinha em frente uma sebe (mal tratada) e que abaixo do terreno que tinha sido levantado para a sua construção aparentemente a mesma sebe continuava em direcção a sul. Como disse é de crer que por esta altura todo este terreno até à actual esquina a sudeste do Jardim vista na FOTO 1 fosse ainda da Vila Jóia. 


FOTO 4
Baixa para o fundo da Av. Augusto de Castilho, actual Lenine.
Cruzamento com Av. Álvares Cabral, actual Manganhela ao fundo da encosta 
A foto seguinte é dos Lazarus e por isso de entre 1899 e 1908 mas será provávelmente da segunda metade desse período. Suponho que todo o terreno deste lado fosse ainda da Vila Jóia e nota-se aí um muro em frente ao edifício (não dá para ver se igual ou não ao da FOTO 3). Acima desse muro parece haver primeiro vedação em rede e depois o começo de vedação em arame. Esta seria do tipo da que se podia ver muito bem aqui abaixo da Vila Jóia (lembro também que vimos esta zona aqui em fotos antigas e modernas).


FOTO 5
Quarteirão do jardim e da Vila Jóia à direita. Para se localizar, 
comparar as suas palmeiras ao fundo, à esquerda e à direita, com as da FOTO 4
Então das FOTOS 3 e 4 ficámos com ideia do que existiu neste lado do quarteirão provávelmente enquanto ainda pertencia completamente à Vila Jóia. Seria de esperar que quando os lotes de terreno acima e abaixo da Vila Jóia passaram para o jardim que a vedação existente não tenha sido logo modificada. Vimos aqui nas FOTOS 6 que no limite a norte do jardim e não longe do local da FOTO 5 e mais ou menos na mesma época parecia existir uma vedação feita em caniço.
A foto recente seguinte (de Orlando Rodrigues) é como a anterior da zona acima da Vila Jóia. Mas foi tirada no passeio que na FOTO 5 estava à direita e que fica ao lado do muro limitando o jardim do lado leste = nascente. Um pouco abaixo deste local deve estar uma das entradas no jardim de que não me lembro.


FOTO 6
Muro do jardim em subida e a cerca de 100 metros da sua esquina a nordeste
 com o cruzamento da Av. Lenine com a Rua da Rádio para a esquerda
Apresentado o muro do lado leste falaremos agora do tratamento dado aos muros nos trabalhos gerais de reabilitação do jardim realizados em 2014 e 2015 apresentando a opinião de Lisandra Franco de Mendonça na sua tese de doutoramento (carregar daqui) na página 331 foi: "...Muros e pilares (rematados com adornos) da vedação foram, na grande maioria, demolidos e refeitos indiscriminadamente, prevendo-se a demolição definitiva de um trato do muro que margina a Av. Zedequias Manganhela e da entrada (e portão de ferro) nessa frente, para dar lugar aos edifícios previstos no projeto (lojas e restaurantes), exatamente na parte mais antiga do Jardim".
No que concerne a segunda parte da citação já nos referimos às novas construções na face sul aqui. Quanto à primeira parte da citação tenta-se comparar em baixo o muro nas duas fases e precisamente nos locais que temos visto aqui. À primeira vista pareceu-me que no muro pós reabilitação continuavam as colunas originais mas de facto o capitel parece agora ligeiramente diferente pois no seu motivo geométrico o "buraquinho" entre os triângulos de vértice virados para baixo estará agora mais alargado. Isso poderá ser constatado (se o for!) na MONTAGEM seguinte onde a cores está uma coluna actual pós reabilitação e no canto inferior direito está a preto e branco uma coluna antiga e que era a do portão da entrada da FOTO 1 (assumo para esta comparação que o motivo geométrico nas colunas do muro fosse exactamente igual ao do portão da entrada mas ...).


MONTAGEM (clique para aumentar)
foto a cores: muro e gradeamento actual (autor Orlando Rodrigies)
inserção a preto e branco: coluna e capitel em 1929 (filme da Cinemateca Portuguesa)
quadrados brancos: pormenor dos motivos no capitel
Nota-se também a mudança na cor do muro que penso sempre tinha sido o tradicional creme, mas ...
No próximo artigo concluimos o tema com uma apreciação mais global.

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