Continuando a falar do salão de festas do Palácio da Rádio do Rádio Clube de Moçambique (RCM) inaugurado em 1952 em Lourenço Marques, actual Maputo coloco aqui uma foto que tinhamos visto antes. Acho agora que ela não "fazia justiça" completa a esse salão pelo que vimos nas fotos de um artigo publicado por "Ramblin' Randy" pois aqui o tecto parecia acastanhado e pelas fotos recentes era azulado, cor que é confirmada por texto de 1959 que veremos em baixo.
FOTO 1
Agora o salão de festas visto da entrada em foto a preto e branco também nos anos 50 (ver a fonte em baixo):
FOTO 2
Salão de festas no último andar do Palácio da Rádio |
Ao fundo da FOTO 2 vê-se o palco com um dos nichos que identificamos nas fotos de Randy e deduz-se destas duas fotos que havia uma peça decorativa do tipo árvore de natal de cada lado. Na foto recente de Randy do artigo anterior vê-se só a peça que estava do lado esquerdo por isso não sei se se mantém as duas no local ou não.
Agora duas capturas de écran tiradas de reportagem filmada da RTP em 1964 com imagens desse salão, numa quando estava desocupado e noutra durante uma festa. Nas duas situações aparecem essas peças decorativas.
MONTAGEM 1 (filme RTP)
Penso que em cima se vê as duas peças e na de baixo do lado direito aparece a que ficava à direita na FOTO 1 |
No filme vê-se que que a peça decorativa colocada à direita da entrada funcionava como fonte e não dá para se ver se eram as duas absolutamente iguais ou não. Olhando para a FOTO 1 compreende-se também que a imagem de baixo da MONTAGEM foi feita a partir do soalho mais elevado, o qual estava limitado por uma grade para lá da qual estava a "árvore de natal" e depois o pequeno palco. Nas fotos recentes de Randy não dá para perceber quanto destes pormenores do salão foram mantidos ou não.
Mais duas imagens da RTP do salão de festas a ser usado:
MONTAGEM 2 (filme RTP)
Grupo de música jazz no pequeno palco com os dois nichos acústicos ao fundo, vendo-se um motivo de céu e lua na borda do da imagem da esquerda |
O texto do RCM de 1959 que acompanha a FOTO 2 diz: "aspecto parcial do salão de festas do RCM. É um vasto e belo salão que pelas suas cores suaves e bem distribuídas, pelo fulgor dos seus dourados e pela mancha azul do teto, onde lucilam lâmpadas a imitar estrelas nos transporta a um mundo de sonho e fantasia".
O SIPA (site oficial português sobre património de sua origem) fala principalmente da estrutura do edifício do antigo RCM e a sua equipa parece não visitado o edifício em profundidade pois não mostra fotos do interior. A ligeira referência que faz à decoração pode ser relativa ao que se vê da entrada: "destacando-se os vitrais estilizados, em estilo art deco e os três baixo-relevos em bronze da autoria do escultor António Duarte, com figuras masculinas aludindo à música e ao teatro", figuras essas de que falámos aqui (FOTO 5). Mas na cronologia apresentada mais em baixo pelo SIPA referem-se "decorações murais da autoria de José Mergulhão e vitrais do estúdio-capela da autoria de Tossan".
Já conhecemos José Mergulhão pelo seu trabalho como decorador na construção do Teatro Manuel Rodriques (TMR) e de que vimos exemplos aqui (IV) e aqui (VIII). Relembro o que de essencial a wikipedia dizia sobre ele:"José Frei Mergulhão foi um dos cenógrafos mais conhecidos em Portugal, tendo ganho vários prémios de cenografia, por ter participando em peças de teatro muito conhecidas.... José Mergulhão pintou as paredes do teatro Gil Vicente e também pintou muitos locais em Moçambique." Não é aí referido expressamente que ele tenha feito trabalho nem no TMR de 1946 a 1948 nem no RCM de 1950 a 1951. Como as paredes do RCM devem ter ficado prontas para decoração cerca em 1950, no intervalo enre a conclusão do TMR e o início do trabalho no RCM José Mergulhão pode ter estado ocupado com o trabalho de cenógrafo (ou cenarista) no TMR, onde na altura esteve como residente uma companhia de teatro profissional.
É assim muito provável que as decorações murais referidas pelo SIPA digam também respeito à decoração do salão de festas do RCM. O facto de ele ser cenarista (quatro filmes) explicará porque as fotos de Randy do salão de festas automáticamente me fizeram lembrar cinema, o tal "mundo de sonho e fantasia" do texto de 1959 do RCM. Noto aqui também a grande diferença de estilos entre o trabalho no RCM claramente alegre e de gosto internacional e o trabalho no TMR mais austero e tradicional português misto com elementos africanos.
Para concluir e como este salão não nasceu por acaso penso nas decisões que a ele conduziram e nas pessoas que estiveram por trás delas. Quando isso aconteceu estávamos para o final dos anos 40 e a opção mais segura teria sido fazê-lo com um aspecto convencional e pesado mas os dirigentes do Rádio Clube optaram pelo oposto. Terá sido fácil essa decisão para pessoas que normalmente seriam estéticamente conservadoras? E numa análise mais política é claro que esta estética "americana" era contra a que era proposta pelo regime autoritário do Estado Novo de Salazar, que na altura era de revivalismo das "tradições" portuguesas. Como o Rádio Clube era privado mas muito ligado ao Estado, óbviamente que num regime muito dogmático e opressivo a divergência entre a escolha do clube e a estética estatal não teria sido possível. O que se terá passado? Conclusões?
Já conhecemos José Mergulhão pelo seu trabalho como decorador na construção do Teatro Manuel Rodriques (TMR) e de que vimos exemplos aqui (IV) e aqui (VIII). Relembro o que de essencial a wikipedia dizia sobre ele:"José Frei Mergulhão foi um dos cenógrafos mais conhecidos em Portugal, tendo ganho vários prémios de cenografia, por ter participando em peças de teatro muito conhecidas.... José Mergulhão pintou as paredes do teatro Gil Vicente e também pintou muitos locais em Moçambique." Não é aí referido expressamente que ele tenha feito trabalho nem no TMR de 1946 a 1948 nem no RCM de 1950 a 1951. Como as paredes do RCM devem ter ficado prontas para decoração cerca em 1950, no intervalo enre a conclusão do TMR e o início do trabalho no RCM José Mergulhão pode ter estado ocupado com o trabalho de cenógrafo (ou cenarista) no TMR, onde na altura esteve como residente uma companhia de teatro profissional.
É assim muito provável que as decorações murais referidas pelo SIPA digam também respeito à decoração do salão de festas do RCM. O facto de ele ser cenarista (quatro filmes) explicará porque as fotos de Randy do salão de festas automáticamente me fizeram lembrar cinema, o tal "mundo de sonho e fantasia" do texto de 1959 do RCM. Noto aqui também a grande diferença de estilos entre o trabalho no RCM claramente alegre e de gosto internacional e o trabalho no TMR mais austero e tradicional português misto com elementos africanos.
Para concluir e como este salão não nasceu por acaso penso nas decisões que a ele conduziram e nas pessoas que estiveram por trás delas. Quando isso aconteceu estávamos para o final dos anos 40 e a opção mais segura teria sido fazê-lo com um aspecto convencional e pesado mas os dirigentes do Rádio Clube optaram pelo oposto. Terá sido fácil essa decisão para pessoas que normalmente seriam estéticamente conservadoras? E numa análise mais política é claro que esta estética "americana" era contra a que era proposta pelo regime autoritário do Estado Novo de Salazar, que na altura era de revivalismo das "tradições" portuguesas. Como o Rádio Clube era privado mas muito ligado ao Estado, óbviamente que num regime muito dogmático e opressivo a divergência entre a escolha do clube e a estética estatal não teria sido possível. O que se terá passado? Conclusões?
Dois textos com informação do slide share que acompanham por exemplo a FOTO 2 e provenientes de folheto de Rádio Clube de Moçambique (1959)
Sobre o mencionado estúdio-capela do artista Tossan com vitrais religiosos tenho ideia de ter lido que tinha sido desmantelado depois da independência e constata-se que na reportagem fotografica feita por Randy do interior do RCM não aparece.
Concluiremos no artigo seguinte este acompanhamento, feito com a devida vénia, do artigo publicado em agosto de 2018 pelo bloguista "Ramblin' Randy" olhando para certas instalações mais técnicas neste Palácio da Rádio, edifício sede do Rádio Clube de Moçambique, actual Radio Moçambique construído em Lourenço Marques, actual Mapu
Descrição completa da constituição e utilização do edifício em 1959, após a conclusão do salão de chá (o salão de festas é mencionado separadamente) |
Obras de arte no Palácio da Rádio e nos emissores da Matola. José Mergulhão: autor das "decorações murais de interiores" |
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