Linha de defesa de LM no século XIX: baluarte de S. João e evolução da sua zona (4/6)

Começamos com uma imagem do livro Xilunguíne do historiador luso-moçambicano Alexandre Lobato (AL) dum desenho da linha de defesa de Lourenço Marques (LM), actual Maputo e feito à data da conclusão da sua construção em 1867.
Baluarte de S. João, o mais importante da linha de defesa de LM, actual Maputo
Nesta imagem a três dimensões o norte = alta da cidade está para "fora" .
Na planta a duas dimensões que lhe está associada no esquema completo que mostro em baixo, o norte = alta da cidade está para "cima". 
Para além do Baluarte de S. João aparece à esquerda a Porta da Linha ou da Cidade já bem conhecida dos artigos anteriores.

Esquema da linha de defesa de Lourenço Marques de 1860, 
vista como se estivessemos dentro do burgo 
à esquerda: Porta da Linha ou da Cidade que ficava na direcção da actual Av. Marx
à direita: Baluarte de S. João.
Vermelho: forma pentagonal do baluarte S. João.
Rosa: duas construções rodeando a rampa de acesso do baluarte S. João
pelo lado seguro ou seja o da ilha ou do burgo
No mapa desses tempos a posição exacta dos dois elementos que vimos estes baluartes (ou fortes), que ficavam no limite superior da "ilha" original rodeada de pântano a norte, é:

Mapa de 1876 
Laranja: baluarte da Linha (4)       
Vermelho: baluarte de S. João (5)
De facto no desenho da linha de defesa e nas fotos de que dispomos não aparece o baluarte da linha, presumo que essa posição no mapa indicasse simplesmente a Porta da Linha.
O luso-moçambicano Alfredo Pereira de Lima (APL) sobre o Prédio Avenida/Pott (ou Avenida Buidings) no seu livro "Edifícios Históricos de Lourenço Marques" escreveu o seguinte que pudemos visualizar melhor com o esquema de cima e com a FOTO 1 em baixo: Foi em Janeiro de 1860 que se abriram os alicerces do chamado "baluarte do centro" chamado "S. João".  Em Abril desse ano comunicava-se ao governador-geral que estava pronto e que se podiam montar oito bocas de fogo de grande calibre. Como dispunha só de quatro solicitava-se o envio das quatro que faltavam. Aos lados da rampa do baluarte havia à direita uma casa para a guarda, podendo acomodar doze soldados e à esquerda um pequeno paiol, mas parece que essas obras não chegaram a ser concluídas. Esse baluarte de S. João foi demolido pouco antes de Gerald Pott haver requerido a concessão do terreno por aforamento.
A FOTO 1 é uma secção da foto de Fowler tirada cerca de 1886 da zona do jardim botânico para a Baixa (para sudoeste) e que vimos noutras ocasiões. Apareciam aí os trabalhos de secagem do pântano e ao fundo casas e muros no limite dum burgo de matriz europeia (com influência indo-portuguesa) implantado em África, fazendo face à natureza e à vizinhança nativa.
Destaca-se nessa fronteira o Baluarte de S. João e estaríamos aqui a dois anos da desactivação da linha que aconteceu em 1888. Em 1890 o baluarte deve ter sido demolido pois nesse ano foi demolida a Fonte Castilho que lhe ficava imediatamente do lado oeste para se libertar o espaço ocupavam no que estava planeado vir a ser avenida actual 25 de Setembro. Essa lado da avenida já aberto aparece nas FOTOS 3 e 4 que vimos aqui.


FOTO 1 de c. 1886 (com destaque do Baluarte de S. João)
Preto: Rua da Linha
Laranja: muro da linha de defesa
Verde escuro, à esquerda:  Rua (ou Travessa) da Fonte
Castanho claro: primeira casa na Rua da Fonte nessa altura
Vermelho: Baluarte de S. João de forma pentagonal como no esquema de cima
Preto no baluarte: os canhões como no esquema de cima 
(na ampliação da foto vê-se mais um encostado a uma das casas)
Rosa (2x): casas para a guarda e paiol do baluarte
Amarelo: telhado piramidal de casa na Rua da Linha 
que fará ligação com a posição das fotos em baixo
Na foto seguinte de cerca de 1890 tirada mais alto na barreira e de mais longe que a FOTO 1, ainda se consegue distinguir o baluarte de S. João com a sua casa e paiol apesar de 1890 ter sido o seu último ano de existência. 

FOTO 2 (clique na imagem para aumentar)
Vista para sudoeste (clique na foto para aumentar)
A FOTO 2 tem as mesmas indicações da FOTO 1 mas permite ver a linha de defesa (azul)
em muito maior extensão em volta da "ilha". Pela data estava ja em fase de desmantelamento e numa altura em que o pântano começava a ficar enxuto embora o seu aterro não tivesse sido iniciado. Como o muro da linha era baixo não era muito visível na FOTO 2 se existiria ainda ou não, os muros que se vêm bem são os dos terrenos que faziam face à Rua da Linha mas do seu lado sul, o lado da povoação.
Podemos ainda acrescentar outra foto de Fowler de c. 1886 e uma de APL e focar mais na porta dessa zona que era uma simples abertura no muro.  

FOTOS 3
Preto: Rua da Linha
Circulo verde escuro: local aproximado da Porta da Rua da Fonte
Linha verde escuro contínua: Rua da Fonte
Linha verde escuro tracejada: caminho que vindo da alta atravessava o pântano
 e através da porta ligava ao interior da povoação
Roxo: edifício das Obras Públicas, construído pela expedição de 1877
Vamos agora imaginar como se terá desenvolvido este local junto ao Baluarte de S. João depois da sua demolição e fazer a ligação ao Prédio Avenida/Pott que era o tema central do texto de APL.

FOTO 4 - evolução da FOTO 1 pós 1885/86
Azul: espaço para a futura Av. da República, actual 25 de Setembro
sobre a Rua da Linha e para o lado direito da foto em parte sobre o antigo pântano
Verde escuro (à esquerda): Rua (ou Travessa) da Fonte, onde agora está 

a parte central da Av. Samora para sul da Av. 25 de Setembro
Carmesim (para a direita): espaço para a futura Av. Aguiar, actual Samora
Branco (bico à direita): futura esquina a sudeste do prédio Pott/Prédio Avenida
Amarelo: posição de referência entre todas estas fotos
Castanho claro: casa na Rua da Fonte existente em 1886
Castanho escuro: casa (acrescentada) pois foi depois feita 
na esquina da Rua da Fonte  com a Av. da República
Desenhei na FOTO 4 as marcas azul (Av. da República) e carmesim (Av. Aguiar) para o centro dessas avenidas e a marca branca (esquina sudeste do Prédio Avenida) tendo em conta as, por mim estimadas, largura da futura Av. da República e a distância entre as esquinas do Prédio Avenida e do da Rua da Fonte (castanho). Tomei também em conta a relação entre a esquina do Prédio Avenida e o baluarte que aparecia aqui no plano de 1887. Diria que essas marcas têm mais ou menos 10 metros de tolerância, entre outras coisas porque a perspectiva na foto não é boa (e como disse também não é solução seguir os mapas porque não têm grande precisão).
APL diz também que o terreno de Pott teve de ser aterrado o que é crível pois ficava completamente dentro do antigo pântano. Dá-me ideia que as Obras Públicas depois de o drenarem fizeram primeiro um aterro geral ao pântano mas que depois o aterro de cada lote de terreno concedido aos particulares tever de ser por eles complementado à medida das necessidades. Neste artigo pode-se ver esse local anos depois olhando da direcção da Av. Aguiar para a Rua da Fonte a sul e a casa que marquei a castanho em cima está lá marcada a roxo. Quanto ao terreno de Pott, face à Av. da República mas para a direita = oeste da esquina estava já uma construção (vista aí pelas traseiras) e havia tapumes na sua área mais para leste norte = do lado do fotógrafo em que o terreno parecia mais húmido e talvez a necessitar ainda de aterro adicional.
No artigo seguinte veremos a Porta da Travessa da Linha e os baluartes para oeste dela.
No artigo final desta série reveremos a Porta da Rua da Fonte e a zona em volta.
Os artigos da série completa sobre a linha de defesa e seus fortes aparecem aqui.

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