Linha de defesa de LM no século XIX: Porta da Fonte vista do alto e mais sobre fortes (6/6)

Para completar a série sobre portas e linha de defesa de Lourenço Marques (LM), actual Maputo, temos mais uma foto até agora pouco conhecida na net pelo que com ela recuamos alguns anos no conhecimento da cidade. É aqui reproduzida de original da Universidade de KwaZulu-Natal fazendo parte da Colecção Campbell 
Ela terá sido tirada das redondezas da Igreja Paroquial então em construção e as palhotas à vista estariam onde agora é a parte mais alta = norte do jardim botânico Tunduru, antigo Vasco da Gama que não tinha sido ainda criado. Ao fundo está a então vila de LM na sua "ilha" e neste caso mostrando-a mais a leste = nascente do que na foto da mesma origem e que vimos no artigo 5 anterior (não há ponto de contacto entre elas no que respeita a imagem da linha de defesa).

FOTO 1
Ao fundo da encosta o pântano rodeando pelo norte a "ilha inicial" 
e as casas da vila com a linha de defesa e Rua da Linha em frente.

Na foto para lá da margem sul da "ilha" está um grande navio (veleiro) ancorado no estuário e mais ao fundo a costa da (k) Catembe, margem sul do estuário então chamado do Espírito Santo. 
Vejamos mais de perto zona do Forte de S. João e da Ponta da Rua (ou Travessa) da Fonte, que vimos relativamente bem no passado e presente no primeiro artigo com a sua FOTO 2 e a imagem de Google Earth que se lhe seguia. 

FOTO 1 pormenor
Laranja médio: muro exterior da linha de defesa
Laranja claro: muros e paredes de casas do lado interior = sul da Rua da Linha
Preto: Rua da Linha
Verde escuro: caminho atravessando o pântano (tracejado), 
Porta da Rua da Fonte no círculo e Rua da Fonte virando depois à direita = sul
Vermelho: traseiras do Baluarte de S. João
Castanho claro: espaço de parte da actual Praça 25 de Setembro, 
mas muito mais curto do que actualmente 
Roxo, à esquerda: lado oeste = poente do prédio da Obras Públicas

Vê-se nesta FOTO 1 pormenor aqui a continuação da Estrada das Mahotas (verde escuro tracejado) que descia para a zona baixa a atravessar o pântano chegando na perpendicular à linha de defesa aproximadamente por onde está agora o Teatro Scala. Por isso a Porta da Rua (ou Travessa) da Fonte ficava por onde é agora a Av. 25 de Setembro algures em frente à fachada a norte do prédio Santos Gil, o que tem o Café Continental no canto a noroeste. Para se ir daí para o interior da povoação e para o estu'ario tinha entâo de se seguir um pouco para a direita = oeste na Rua da Linha e depois virar-se para sul para a Rua da Fonte cujo eixo central estaria actualmente entre o Café Continental e o prédio novo do BM, isto no lado sul da Av. Samora (actualmente é nesta zona no Google Maps). 

Vamos comparar esta FOTO 1 pormenor com duas conhecidas fotos de Fowler de cerca de 1886 nomeadamente para as casas que estavam do lado direito = oeste da Rua da Fonte. 

MONTAGEM 1
Verde escuro: Rua (ou Travessa da Fonte)
Castanho claro: prédio da Farmácia na Rua da Fonte, nao estava lá na FOTO 1

 por isso foi construído depois e até c. 1886
Círculo verde escuro: Porta da Rua da Fonte
Roxo: edifício das Obras Públicas a leste aa Porta da Rua da Fonte

Outras cores: mais coincidências

Em relação às 
casas que estavam do lado direito = oeste da Rua da Fonte, a diferença entre a foto da Campbell Collections, presumívelmente anterior = mais antiga, para as de Fowler é tão radical que achei por bem reconfirmar o local. Isso é possível pois na foto da Campbell Collections e numa das de Fowler aparece o primeiro edifício das Obras Públicas (o qual aparecia neste artigo em duas fotos rodeado a verde e acabou por ficar frente à actual Av. 25 de Setembro quando esta foi aberta em 1890). 
As fotos da Campbell Collections foram tiradas a partir de 1879 e como dissemos em relação a uma da igreja paroquial essa terá sido tirada entre 1882 e 1883. Isso levaria a esperar que a FOTO 1 que aqui mostramos fosse dessa altura mas poderá ser anterior e assim explicar-se-ia melhor a diferença em relaçâo à situação do local em 1886, visto nas fotos de Fowler.
Quanto à situação do pântano a FOTO 1 não trás elementos novos. Certamente os diques nas suas extremidades teriam já sido construídos e ele estaria já parcialmente drenado mas não se vê por exemplo canais a atravessarem-no para se acelerar o processo. 
Repito a sobreposição do mapa de 1876 (transparente com linhas a cor de vinho) com o de 1925/26 (linhas cinzentas com as ruas preenchidas a cor de rosa) e onde o pântano foi pintado a esverdeado:

MAPAS SOBREPOSTOS
Laranja médio: muro exterior da linha de defesa
Semi-círculos 1 a 6: baluartes da linha de defesa
Verde escuro: Porta da Rua da Fonte

O baluarte número "5", chamado forte de S. João, na FOTO 1 aparece à direita (para oeste = poente nos MAPAS) da Porta da Linha e da direcção da Rua da Fonte (ela no mapa antigo aparece como Travessa Nova da Fonte) mas vê-se mal. 
Do lado oposto da Porta da Rua da Fonte e já na parte da linha de defesa perpendicular ao estuário e do lado leste da "ilha". vê-se nos mapas que devia existir um baluarte marcado com o número 6. O seu nome era "Baluarte de 14" e como se vê na sobreposição de mapas actualmente ficaria na Rua da Imprensa em frente ao edifício recente das Águas. Essa zona aparece na foto original de Fowler que está no meio da MONTAGEM 1 (mostrando mais para a esquerda do que na que aí se vê) e que como é de cerca de 1886 ainda o devia ter captado, mas não o consigo identificar aí.

FOTO 2 de c. 1886
Rosa: por onde deveria estar o Baluarte de 14
Laranja: muro exterior da linha de defesa
Preto: Rua da Linha
Roxo, à esquerda: prédio da Obras Públicas
Amarelo: Casa Amarela

Na zona "rosa" por onde deveria estar o Baluarte de 14 havia construções mas um tanto incaracterísticas e também não conheço o desenho desse baluarte pois Alexandre Lobato só reproduziu no livro Xilunguine o esquema da linha do Forte de S. João para oeste.
Como fui dizendo, para além das observações das fotos, nestes artigos usei muita informação das duas fontes luso-moçambicanas usuais, Alexandre Lobato e Alfredo Pereira de Lima que realmente investigaram este assunto. Aqui com os dados de Alexandre Lobato no livro Xilunguíne um resumo com adaptações minhas para concluir o tema: A linha de defesa de LM que aparecia ainda nestas fotos no seus últimos anos foi necessária pois antes tinha havido ataques frequentes à povoação e porque as protecções anteriores (palissada de madeira) estavam decrépitas. Note-se que as tribos leais vizinhas ou pelos menos as suas mulheres e crianças também se refugiavam dentro da linha quando as suas terras eram atacadas por invasores ou inimigos internos. A nova construção foi posta à prova pouco depois da sua conclusão em 1867 pois a 21.3.1868 pois houve um grande ataque e LM ficou depois cercado pelo lado de terra durante quase 3 meses. Havia então escaramuças sempre que era preciso sair da linha para se ir buscar água potável a uma fonte perto da esquina entre as actuais Avs. Samora e Fernão de Magalhães. Em 16.6.1868 houve um ataque final que chegou a penetrar pela Porta da Rua da Fonte mas que foi rechaçado tendo os sitiantes retirado depois.

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