Falaremos nestes artigos das portas da povoação de Lourenço Marques (LM), actual Maputo no século XIX (19). Essas portas eram passagens na linha de defesa, um muro de pedra e cal com alguns fortes ou baluartes, possibilitando assim o acesso entre o exterior e o interior da "ilha" a que a povoação, que em 1876 foi elevada a vila, limitava nesses tempos. Embora não se veja nas fotos, pelas descrições e desenhos da época, nas duas passagens havia portas de ferro que eram fechadas quando necessário. As duas portas de LM existiram até a linha de defesa ter sido desmantelada o que mais ou menos coincidiu com o início da drenagem do pântano que a rodeava.
Alfredo Pereira de Lima diz que houve quatro portas mas outra informação é que o Governador que decidiu a construção da linha só permitiu duas e duas são as que aparecem nas plantas da época.
Primeiro uma foto (de origem holandesa na wikimedia) em que está um carro de bois a passar pela Porta da Linha e a que junto a legenda de Alexandre Lobato (AL) no livro Xilunguíne:
FOTO 1 (pormenor e completo)
AL: antigas Portas da Cidade, à entrada da Travessa da Porta da Linha (TPL) |
A Travessa da Porta da Linha (TPL) que AL associa à FOTO 1 saía da porta respectiva no limite da "ilha" na direcção da Travessa da Catembe (que pode ver-se aqui passando ao lado de onde estão as árvores). Do lado oposto ao da povoação, essa porta (ou portas, conforme os autores) levava a um caminho de areia que atravessava o pântano e ligava depois, no Alto das Machambas, à antiga Estrada do Lidenburgo (ou Lidemburgo), que viria a ficar concluída em 1874. É o início desse caminho de areia que está em primeiro plano na FOTO 1 antes da Porta da Linha ou Porta da Cidade. Como por aí se tinha acesso directo à zona do Presídio, local onde a cidade se tinha formado e se mantinha o seu núcleo, é natural que a Porta da Linha ou Porta da Cidade fosse a mais importante.
A outra abertura na linha de defesa ficava mais para leste = nascente e ligava à Travessa da Fonte nao tinha colunas monumentais como as que que se viam na FOTO 1.
Marquei as duas portas com círculos verdes nesta sobreposição que apareceu primeiro aqui do mapa de 1876 (transparente com linhas a cor de vinho) e do de 1925/26 (linhas cinzentas com as ruas preenchidas a cor de rosa) e onde o pântano foi pintado a esverdeado. De notar que o resultado da sobreposição é um tanto impreciso e ela serve por isso de guia para o que se vê também nas fotos.
PLANTAS SOBREPOSTAS de 1876 e de 1925/26
A linha de defesa estava colocada no limite a sul do pântano ou a norte da "ilha" (por onde passava a Rua da Linha) e era constituida na maior parte por um muro fortificado a espaços belos baluartes de que nesta secção mais central aparecem os números 3 , 4 e 5 e de que falaremos com mais detalhe depois.
A FOTO 2, de Fowler e de cerca de 1886 (original aqui) foi tirada digamos do centro do actual jardim Tunduru para a baixa da cidade mas olhando para sudoeste e via-se a Porta da Rua da Fonte (uma simples abertura no muro da linha de defesa). Novidade em relação a artigos anteriores é que penso conseguir agora identificar na foto o local da Porta da Linha usando como referência a casa de parede branca de topo triangular no lado virado para o pântano e que se vê à esquerda na FOTO 1. Julgo que pelo desenho e cor essa casa aparece nesta FOTO 2, para mais correspondendo visualmente a sua distância à Porta da Travessa da Fonte aproximadamente aos 190 metros que separavam essas duas travessas dentro da "ilha".
A FOTO 2, de Fowler e de cerca de 1886 (original aqui) foi tirada digamos do centro do actual jardim Tunduru para a baixa da cidade mas olhando para sudoeste e via-se a Porta da Rua da Fonte (uma simples abertura no muro da linha de defesa). Novidade em relação a artigos anteriores é que penso conseguir agora identificar na foto o local da Porta da Linha usando como referência a casa de parede branca de topo triangular no lado virado para o pântano e que se vê à esquerda na FOTO 1. Julgo que pelo desenho e cor essa casa aparece nesta FOTO 2, para mais correspondendo visualmente a sua distância à Porta da Travessa da Fonte aproximadamente aos 190 metros que separavam essas duas travessas dentro da "ilha".
FOTO 2 (original reduzido de 25% no eixo horizontal)
O que se conclui daqui é que na FOTO 2 do lado da TPL (verde claro) não se viam as colunas de porta que existiam na FOTO 1. Como elas terão sido retiradas em 1883 para permitir a passagem de carretas para/do vinham do Transvaal, sendo esta FOTO 2 de cerca de 1886 tudo parece jogar certo. Disto conclui-se também que a FOTO 1 é o mais tardar de 1883 ou seja de há mais de 136 anos (em 2019) pelo que a sua qualidade é assinalável.
Podemos perceber melhor as localizações que vimos em cima na cidade actual com a informação seguinte:
Google Earth actual com situação do século XIX, muito aproximadamente
(visto no google maps no sentido oposto)
(visto no google maps no sentido oposto)
Mostra-se aqui que a Rua da Fonte passaria actualmente entre o Café Continental e o BM, no lado sul da Av. Samora. O caminho para a porta respectiva vinha da alta (Estrada das Mahotas) e atravessava o pântano aproximadamente por onde está agora o Teatro Scala e por isso a Porta da Rua da Fonte ficava por onde é agora a Av. 25 de Setembro algures em frente à fachada a norte do prédio Santos Gil, o que tem o Café Continental no canto a noroeste.
Mais a leste = oriente, para o fim desse quarteirão a Travessa da Porta da Linha (TPL) estava onde agora é a parte à esquerda da actual Av. Marx, para quem se dirige da Av. 25 de Setembro para o lado do porto. Do lado oposto, o respectivo caminho pelo pântano seguia também onde agora é a Av. Marx, para norte da Av. 25 de Setembro e por isso a Porta da Linha ou Porta da Cidade ficava entre os actuais Centro Cultural Brasileiro e o Hotel Turismo.
O desenvolvimento deste tema continua no próximo artigo.
Os artigos da série completa sobre a linha de defesa e seus fortes aparecem aqui.
Os artigos da série completa sobre a linha de defesa e seus fortes aparecem aqui.
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