Linha de defesa de LM no século XIX: Porta da Linha vista do alto e fortes a ocidente (5/6)

Continuando a falar sobre a linha de defesa e suas portas, temos uma foto até agora pouco conhecida na net e reproduzida de original da Universidade de KwaZulu-Natal fazendo parte da Colecção Campbell. Como já dissemos esse grupo de fotos será de entre 1879 e 1887 e estas estão marcadas no site como sendo de 1887 mas como numas delas se vê a Porta da Linha que foi demolida em 1883 para simplificar considero que seja de cerca de 1882.
A foto mostra ao fundo a Baixa da povoação de Lourenço Marques, que em 1876 tinha sido elevada a vila mas estava ainda quase limitada à "ilha" rodeada de estuário pelo lado sul e de pântano no resto. 

FOTO 1 
Foto tirada da zona entre actuais bairros Central e Alto Maé 
com uma aldeia africana em primeiro plano

Essa foto, depois da encosta e da zona pantanosa, mostra a linha de defesa de LM numa grande extensão, digamos da sua parte central para a mais a oeste: Foi "percorrendo-a" que encontrei a Porta da Linha como mostrei aqui ao centro da FOTO 2. 
Aproximemo-nos da linha para a ver com mais em pormenor:

FOTO 1 pormenor (clique para aumentar)
Laranja médio: muro exterior da linha de defesa
Verde claro, à esquerda = leste: Porta da Linha, na actual zona 
entre o Centro Brasileiro e Hotel Turismo

Segue-se uma das já conhecidas sobreposições do mapa de 1876 (transparente com linhas a cor de vinho) e do de 1925/26 (linhas cinzentas com as ruas preenchidas a cor de rosa) e onde o pântano foi pintado a esverdeado:

MAPAS SOBREPOSTOS
Laranja médio: muro exterior da linha de defesa
Semi-círculos 1 a 6: baluartes da linha de defesa
Verde claro: Porta da Linha, a que se vê na FOTO 1
Verde escuro: Porta da Rua da Fonte, 
ficaria mais para a esquerda do que a FOTO 1 mostra
Castanho claro: orla do estuário ao tempo destas fotos 
anteriores aos aterros para o porto

No mapa mais antigo (o das linhas e letras cor de vinho) vê-se em curva suave de oeste para norte da ilha, o seu lado oposto ao estuário que é aí indicado como RIO DO ESPÍRITO SANTO, a linha de defesa que marquei a laranja. 
No que respeita aos seus baluartes na FOTO 1, como se vê a Porta da Linha (círcunfer^ncia verde claro) deveria ver-se o Baluarte "4" que deveria ficar ao seu lado, mas como nunca o vi em fotos provávelmente foi algo registado no mapa mas que na práctica foi substituido pela porta. 
Daí para a direita da FOTO 1, o que nos MAPAS seria para a esquerda, vê-se o muro da linha de defesa prolongando-se para oeste = poente mas não se vislumbram os fortes que o reforçariam. Atendendo aos MAPAS pelo menos os baluartes 2 e 3, que estavam virados para a parte alta da cidade de onde a FOTO 1 foi tirada, deveriam ser visíveis nela. Não sei se isso não acontece por os fortes / baluartes serem de pequeno gabarito ou se por eventualmente estarem nas extensas partes da FOTO 1 em que a linha de defesa foi obstruída à vista pelas árvores existentes na encosta descendo para o pântano. O baluarte 1 estaria mais virado para oeste e talvez para lá (para a direita) do que foi captado na FOTO 1 e também não se vê.
Não conheço (outras) fotos desses três baluartes numerados de 1 a 3 que ficavam para oeste da Porta da Linha mas o livro Xilunguíne de Alexandre Lobato mostra os seus desenhos. Na legenda indico a sua localização aproximada na cidade actual, a partir do que se observa nos MAPAS.

IMAGEM 1
(1) Baluarte de 31 de Julho: estaria ao centro-oeste 
do que agora é a Praça dos Trabalhadores
(2) Baluarte de S. Pedro (aqui): estaria para o lado de dentro
 do local do Prédio José Antunes na Av. 25 de Setembro 
(3) Baluarte de Santo António: estaria entre a porta principal 
do Mercado Municipal a norte e a Travessa da Palmeira a sul 

Ficaram de fora nestes três desenhos as posições previstas no muro da linha de defesa para a colocação de canhoneiras, que seriam entre os baluartes e espaçadas de talvez uns 10 metros Seriam aberturas no muro com pavimento reforçado do lado interior, o da povoação, mas nas fotos não as consegui confirmar por isso não sei se realmente existiram ou não. 
Já sumarisei anteriormente o que disse Alfredo Pereira de Lima no livro "Pedras Que Já Não Falam" em que discorre sobre a linha de defesa com certo detalhe começando por dizer que teve gestação incrívelmente difícil. Juntando mais informação e para me concentrar nas datas mais próximas, em 1860 era feita de paus putrefactos e tinha muitas rupturas e as peças de artilharia muitas estavam em mau estado (a tal palissada de que falei). O governador apelou então à boa vontade dos habitantes e deu-se início à construção em pedra, cal e barro começando-se precisamente pelo baluarte ao centro da linha que veio a ser chamado de S. João e que foi concluido em 1861. Em 1867 continuava a ser esse o único baluarte construído e para o resto nem palissada havia. Foi então prosseguida a obra com os fundos que deviam ter sido para a igreja paroquial (que por sua vez se atrasou), tendo sido concluido em segundo lugar o Baluarte de Santo António (o "3" do esquema que seria em frente ao agora e de que nunca vi foto) e depois o resto. Mesmo inacabada a linha teve em 1868 o seu baptismo de guerra devido ao ataque do Zixaxa (o ataque que AL descreve). Era então uma muralha de alvenaria com altura para permitir do interior tiro de espingarda (quer dizer teria uns cerca de 1.2 m de altura) reforçada pelos baluartes onde estavam colocadas peças de artilharia e entremeada por quatro grandes portas de ferro que eram fechadas à noite. 
Continuando diz APL mais ou menos "ipsis verbis" - e já o comentei sobre o texto de António Sopa colocado ao fim do artigo anterior - que uns anos mais tarde a linha de defesa teve de ser progressivamente desmantelada para se expandir a Baixa da cidade. Em 1883 a entrada pelas Portas da Cidade (junto ao Baluarte da Linha sito perto da actual Av. Marx) foi alargada para facilitar o acesso às carretas da estrada para o Transvaal, em 1885 foi demolido um troço da linha junto ao Baluarte de S. João para facilitar o acesso ao alto da cidade, em 1886 chegou a vez do Baluarte de S. João para se instalar um tramway que transportava terras para aterrar o pântano e em 1887 foi demolido o baluarte 31 de Julho para se construir a primeira estação de caminho de ferro (actual Praça dos Trabalhadores) tendo nesse ano sido solicitada pelas Obras Públicas a demolição completa do "muro do recinto da vila" restante.

Os artigos da série completa sobre a linha de defesa e seus fortes aparecem aqui.

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