"Filosofei" aqui sobre o que penso das fotos de riquexós (rickshaw) mas vou continuar a procurar o local em que foram tiradas. Temos dois postais do mesmo local e que devem ser de cerca de 1910 e que estão à venda no ebay - pickclick e mostro aqui o primeiro:
FOTO 1
Lourenço Marques - "Rapazes" dos Riquexós
Vê-se à esquerda primeiro um edifício "castanho" com duas montras envidraçadas largas, uma varanda alpendrada e por isso teria primeiro andar, depois dele um muro baixo fechado com grade e depois um prédio claro e longo que iria até uma esquina.
A rua onde os riquexós estavam não tinha continuação para a frente embora não se visse bem o que se passava ao fundo.
Por isso quanto ao local nada de muito evidente à primeira vista mas atentando aos pormenores vê-se a ponta duma chaminé larga e alta por cima do telhado do prédio claro. Vamos compará-la com as duas maiores chaminés desse tipo na cidade coeva da foto:
Por isso quanto ao local nada de muito evidente à primeira vista mas atentando aos pormenores vê-se a ponta duma chaminé larga e alta por cima do telhado do prédio claro. Vamos compará-la com as duas maiores chaminés desse tipo na cidade coeva da foto:
FOTOS 2 e 3
A chaminé na FOTO 1 era a do Hugh Le May "roxo". Não era a da Central Geradora da CGd'E junto ao Bazar "azul escuro" |
O Hugh Le May era uma oficina electromecânica e de reparação naval que ficava do lado oriental da Baixa para leste da Fortaleza e da feitoria Allen Wack e na FOTO 2 via-se a sua fachada virada para o estuário e por isso a chaminé ficava do seu lado de terra. Esta comparação das chaminés dá-nos uma primeira ideia que a FOTO 1 era na zona oriental da Baixa e não da do Bazar onde muitos riquexós tinham sido fotografados (por exemplo aqui e aqui no HoM).
O Hugh Le May e a sua chaminé aparecem na foto seguinte de c. 1920 do ARPAC de Moçambique. Esta foto é assim uns 10 anos posterior às FOTOS 1 e 2 mas mantinha-se a chaminé, essa oficina e as ruas envolventes, apesar de aparecer feito para a esquerda e para o fundo um grande aterro sobre antigo estuário:
FOTO 4
Mancha azul: terrenos onde onde tinha sido estuário ao tempo da FOTO 1
(trabalho de aterro concluído cerca de 1920)Verde claro: Rua da Imprensa
Azul claro: Rua Joaquim Lapa, actual Slovo
Laranja: Rua NS da Conceição, depois Alexandre Herculano, actual de Timor Leste
Rectângulo cinzento: chaminé do Hugh Le May e da FOTO 1
Roxo: Hugh Le May
Castanho escuro: lado do armazém do Allen Wack virado para o estuário, aparecia marcado a azul nas primeiras fotos daqui Castanho claro: entrada no Allen Wack virada para a Rua NS da Conceição Vermelhos: ver no mapa em baixo |
Lembro que a oficina do Hugh Le May a quem a chaminé pertencia estava instalado em terreno onde passaram depois a estar representações de automóveis como vimos aqui, a GM da Pendray e Sousa, a Daihatsu e parece que mais recentemente a Renault.
Passamos para um mapa de 1903, talvez de alguns anos antes da FOTO 1 mas para o caso não tem importância. Marcamos nele linhas e curvas vermelhas relacionadas com a chaminé do Hugh Le May e que "determinam" onde poderia ter sido fotografada a FOTO 1:
MAPA de 1903
Rectângulo cinzento: posição da chaminé das FOTOS 1 e 2
Roxo: oficina do Hugh Le May com essa chaminé
Verde claro: Rua da Imprensa (Nacional), continuação para sul da actual Lenine
Azul claro: Rua Joaquim Lapa, actual Slovo
Laranja: Rua NS da Conceição, depois Alexandre Herculano, actual de Timor Leste
Rosa: Travessa do Jornal Notícias, antiga Baptista de Carvalho e do Baluarte
Preto: construção "esverdeada" que estaria na transversal ao fundo da FOTO 1
Castanho escuro: lado do armazém do Allen Wack virado para o estuário
Castanho claro: entrada no Allen Wack virada para a Rua NS da Conceição
Verde médio: Fortaleza, ainda aberta (sem muralha acima do pátio) do lado do estuário
Esquina branco e carmesim: ver explicação a seguir
Traços e seta vermelha: ver explicação a seguir
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Quanto às curvas e linhas vermelhas (e tendo em conta que do lado oposto ao tempo da FOTO 1 era estuário e por isso não podia ser lá e para a direita não havia uma rua aberta que tornasse a foto possível)
a. o interior do ângulo marcado a vermelho na FOTO 4 e no mapa era a única possibilidade de onde a FOTO 1 ter sido tirada para se ver a chaminé como na FOTO 1;
b. os dois arcos definem a distância à chaminé, nem muito perto nem muito longe dela,
c. as duas rectas definem a orientação da rua na FOTO 1. Ela teria de ser paralela à rua marcada a *verde claro" na FOTO 4 mas para a direita dela para se ver a chaminé à sua esquerda e assim chegamos à zona da mancha vermelha.
Olhando depois para outros pormenores da FOTO 1 e da que mostraremos no artigo seguinte chegamos à posição e orientação indicada pela seta a vermelho e que está no cruzamento da actual Travessa do Jornal Notícias com a Rua Lapa.
a. o interior do ângulo marcado a vermelho na FOTO 4 e no mapa era a única possibilidade de onde a FOTO 1 ter sido tirada para se ver a chaminé como na FOTO 1;
b. os dois arcos definem a distância à chaminé, nem muito perto nem muito longe dela,
c. as duas rectas definem a orientação da rua na FOTO 1. Ela teria de ser paralela à rua marcada a *verde claro" na FOTO 4 mas para a direita dela para se ver a chaminé à sua esquerda e assim chegamos à zona da mancha vermelha.
Olhando depois para outros pormenores da FOTO 1 e da que mostraremos no artigo seguinte chegamos à posição e orientação indicada pela seta a vermelho e que está no cruzamento da actual Travessa do Jornal Notícias com a Rua Lapa.
O edifício "castanho" com as montras envidraçadas à esquerda da FOTO 1 teria de ser então o que marquei no mapa na esquina a "branco" e a "carmesim", sendo do lado desta cor o que estava visível na foto.
Tema conclui-se no próximo artigo.
Tema conclui-se no próximo artigo.
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