Fotos de riquexós em locais antigos de Lourenço Marques (5/5)

A partir da chaminé visível num postal antigo com riquexó (rickshaw) e de cerca de 1910, no artigo anterior antevi que a foto tivessse sido tirada a oriente da Baixa de Lourenço Marques, actual Maputo e estabeleci depois mais precisamente a zona.  
Mostro agora o segundo postal da mesma série e que está à venda no ebay - pickclick e é bastante parecido com o primeiro:


FOTO A
Lourenço Marques - "Rapazes" dos Riquexós
Pelo posição e distância da chaminé (que aparece também ao fundo desta FOTO A mas não se vendo aí o seu topo que foi importante para decidir a zona) e configuração do local estimado, dissemos então no artigo anterior que os riquexós estavam na actual Travessa do Notícias. Olhando para as duas fotos e para a distância ao fundo da Travessa podemos intuir que o edifício castanho com as montras (via-se que havia duas na foto do artigo anterior) estaria na esquina dessa Travessa com a Rua Lapa, actual Slovo.
Foi isso que marcámos no mapa de 1903:


MAPA de 1903
Rectângulo cinzento: chaminé das FOTOS 1 e 2
Roxo: oficina do Hugh Le May com essa chaminé
Verde claro: Rua da Imprensa, continuação para sul da actual Lenine
Linha azul clara: Rua Joaquim Lapa, actual Slovo
Mancha azul: estuário a leste da Baixa antes de 1920
Laranja: Rua NS da Conceição, depois Alexandre Herculano, actual de Timor Leste
Rosa: Travessa do Jornal Notícias, antiga Baptista de Carvalho e do Baluarte
Preto: construção que se vê na transversal ao fundo da FOTO 1 do artigo anterior. 
Nesta FOTO A não se vê o fundo da travessa. 
Castanho escuro: lado do armazém do Allen Wack virado para o estuário
Castanho claro: entrada no Allen Wack virada para a Rua NS da Conceição
Verde médio: Fortaleza ainda sem muralha acima do pátio do lado do estuário
Esquina branco e carmesim: onde estava o edifício castanho da FOTO A, 
sendo a fachada aí visível a marcada a "carmesim"
Seta preta e vermelha: posição e direcção em que a FOTO A foi tirada
Da esquina "branco e carmesim" marcada no mapa conhecemos (achamento HoM aqui) uma foto publicada em 1929 onde aparece um edifício visto mais ou menos na mesma direcção das duas fotos de riquexós de c. de 1910 mas com maior ângulo de visão. Podemos compará-lo com elas e a partir do que se vê para a direita da esquina (marca "carmesim") pode dizer-se que é o mesmo edifício "castanho" com duas montras:

FOTO B
Azul claro: Rua Joaquim Lapa, actual Slovo, para a esquerda seguindo para leste
Rosa: Travessa do Jornal Notícias
Verde claro: Rua da Imprensa, passa a leste = oriente do quarteirão do Grande Hotel
Esquina branco e carmesim: correspondendo à posição indicada no mapa 
Seta vermelha: como no MAPA com o edifício castanho à esquerda
Vê-se então que o edifício "castanho" das fotos dos riquexós, passados uns 20 anos era um hotel e podemos tentar ver o que estava escrito nos vidros da sua montra da FOTO A pelo lados de fora e de dentro:

FOTOS C
Em cima a montra vista como na FOTO A (cores invertida e normal)
Em baixo como seria a montra vista pela lado de dentro

Um site muito interessante diz que a única palavra em inglês que termina em TRING é STRING (fio) por isso seria essencial perceber a segunda palava da montra. Mas se os escritos fossem para ser lidos pelo lado de dentro (para quê podia-se questionar, mas ...) parece aparecer ROO(M)S escrito mas óbviamente seria ou STRINGS ou ROOMS. Isto deixa-me com a sensação que o significado rondará por aí, mas pela montra não sei o que havia nesse edifício "castanho". Reflectindo sobre o que actualmente se passa com os hotéis de muitas estrelas que frequentemente têm uma paragem de táxis perto, se em 1910 fosse já um hotel como era em 1929 estaria explicada a concentração de senhores dos riquexós no local.
Curiosamente esse prédio continua a existir com mais ou menos alterações como se vê neste artigo pois mantém as duas montras grandes do lado da Travessa, as três colunas estreitas de ferro e a varanda alpendrada. Para o fim do tempo provincial português foi a Casa Pfaff, agora é uma instituição cultural privada (Mediateca  do BCI - Espaço Joaquim Chissano) e fica na esquina para leste da do Jornal Notícias - vê-se aqui um canto da varanda antiga na quarta foto. Como mostramos ele será de cerca de 1910 pelo menos e bastará ser anterior a 1920 para ser património protegido mas por outros exemplos tal não valerá grande coisa se o banco BCI resolver fazer "money".
Eis o edifício das fotos dos riquexós recentemente (ver aqui quando esteve bastante degradado)


FOTO D

À direita = sul da esquina a parte do prédio com as duas montras como antigamente
Ao tempo desta FOTO D, à direita do prédio do lado da Travessa continuava a existir um terreno com a frente livre com vegetação que por exemplo nas FOTOS A e B aparecia murado com grade. Pelo Google Images parece manter-se aí ainda um pequeno espaço verde e seria curioso ver se actualmente o muro e a grade seriam ainda os mesmos dessas fotos e por isso de há mais de 100 anos.
Ficamos assim com melhor ideia da zona que Alexandre Lobato dizia ser antigamente conhecida por Arrabalde dada a sua distância ao centro da Baixa.
Série completa e outros artigos com riquexós / rickshaws aqui em etiqueta do HoM.

Comentários

Anónimo disse…
Caro Curioso,
Excelente trabalho de investigaçao.
Kanimambo Machaka
Rogério Gens disse…
Obrigado, mas por mim chamar a isto "investigação" é manifestamente exagerado. Fico feliz por isto interessar a alguém, para além de mim próprio ...
Anónimo disse…
Caro Curioso.
Investigaçao, esclarecimento, aclaraçao, que mais dá.
O que é evidente e importante, é que o seu trabalho interessa aos Madalas que, como eu, disfrutamos com o reviver nomes, pessoas, empresas e sitios que, com o passar do tempo, ja estavam metidos no arquivo dos esquecidos.
E por verificar que ainda fica gente que vive Moçambique, por isso, Kanimabo Machaka.
Rogério Gens disse…
Quanto à primeira parte certamente cada um de nós entende o que o outro quer dizer. Quanto ao impacto do que faço é claro que a nivel pessoal, tanto de alguns leitores como de mim próprio que desconhecia antes talvez 90% do que falo aqui, eu diria que é relevante. Mas em termos gerais de avanço do conhecimento "académico" dos outros sobre o passado "laurentino" presentemente tenho muitas dúvidas que tenha algum efeito. Mas não é por isso que deixarei de fazer o que acho que posso ainda fazer e por isso cá continuarei com mais uns artigos.
Cumprimentos