Na revista laurentina O Ilustrado de Novembro de 1933 apareceu uma reportagem da visita a Lourenço Marques (LM), actual Maputo de dois submarinos italianos, o Toti e o Sciesa, que me despoletou o interesse em certos aspectos da "estória" local e da história internacional que desconhecia. No final como veremos muito fica por saber da estória local ligada à sua comunidade italiana mas no geral penso que se avançou.
Benito Mussolini subiu ao poder em Itália em 1922 e a partir daí procurou como é tradicional em regimes ditatoriais e militaristas a afirmação das forças armadas nomeadamente através da modernização dos seus meios tecnológicos em conjunção com a indústria nacional. Nesse capítulo são de destacar as travessias do Atlântico feitas por grandes esquadrilhas de hidroaviões, a primeira em 1930 para o Brasil (ver neste site em português) e a segunda em 1933 para Chicago nos Estados Unidos e que tiveram destaque mundial. Presumo que a Regia Marina, que também participou nessas travessias mas com papel secundário, e era uma arma muito mais antiga que a Força Aérea, quisesse chamar também a atenção para as suas capacidades, o que em parte terá estado na génese desta sua missão a África e no sexto artigo vamos descrevê-la melhor e no sétimo último artigo veremos outras justificações e propósitos.
Sobre o contexto em que tais realizações nasciam no complexo quadro italiano e internacional dos anos 30, ainda em período de paz mas com crescente agressividade por parte da Alemanha nazi, há aqui um texto muito interessante sobre a "miriade de poderes, grandes ou pequenos, que giravam em torno do poder maior de Mussolini" pois não podemos esquecer que a Itália era uma monarquia e que era ao Rei que as forças armadas, para mais de pendor tradicionalista, deviam obediência.
Passemos então às fotos publicadas em LM nessa altura mostrando as forças armadas italianas episódicamente na cidade:
Benito Mussolini subiu ao poder em Itália em 1922 e a partir daí procurou como é tradicional em regimes ditatoriais e militaristas a afirmação das forças armadas nomeadamente através da modernização dos seus meios tecnológicos em conjunção com a indústria nacional. Nesse capítulo são de destacar as travessias do Atlântico feitas por grandes esquadrilhas de hidroaviões, a primeira em 1930 para o Brasil (ver neste site em português) e a segunda em 1933 para Chicago nos Estados Unidos e que tiveram destaque mundial. Presumo que a Regia Marina, que também participou nessas travessias mas com papel secundário, e era uma arma muito mais antiga que a Força Aérea, quisesse chamar também a atenção para as suas capacidades, o que em parte terá estado na génese desta sua missão a África e no sexto artigo vamos descrevê-la melhor e no sétimo último artigo veremos outras justificações e propósitos.
Sobre o contexto em que tais realizações nasciam no complexo quadro italiano e internacional dos anos 30, ainda em período de paz mas com crescente agressividade por parte da Alemanha nazi, há aqui um texto muito interessante sobre a "miriade de poderes, grandes ou pequenos, que giravam em torno do poder maior de Mussolini" pois não podemos esquecer que a Itália era uma monarquia e que era ao Rei que as forças armadas, para mais de pendor tradicionalista, deviam obediência.
Passemos então às fotos publicadas em LM nessa altura mostrando as forças armadas italianas episódicamente na cidade:
FOTOS 1
Submarinos "gémeos" italianos Toti e Sciesa no estuário do Espírito Santo frente à Baixa de LM |
Surgem agora os elementos locais de nacionalidade ou origem transalpina que deram as boas vindas aos submarinos:
FOTO 2
Visitantes junto à tripulação (com farda de serviço) na coberta do vaso de guerra atracado na zona reservada da ponte-cais Gorjão |
Vê-se das legendas do artigo que nessa altura o Cônsul de Italia em LM era Gaspar Buffa e que o Secretário do Fascio, que seria a delegação local do Partido Nacional Fascista (PNF) italiano de Mussolini, era Giuseppe Buffa. Não é dito em O Ilustrado mas presumo que os apelidos completos dos dois seriam Buffa Buccellato. Como identificaremos melhor depois, o cônsul era o senhor de fato escuro e gravata e o seu presumível parente mais militante estava à esquerda com o traje do PNF, a camisa negra. O civil mais baixinho de fato claro sem gravata no grupo era o porta bandeira, a qual me parece que seria uma variante partidária da de Itália e do tipo desta pois teria algo inserido na vertical na faixa branca, mas não me parece que seja o fascio que aí se vê por isso assunto em aberto.
Às autoridades portuguesas não devia causar grande confusão esta afirmação pública dum partido estrangeiro no seu território porque as bases ideológicas dos dois regimes, ditatoriaisn nacionalistas e anti-comunistas, o fascista em itália e o do Estado Novo em Portugal (constituição aprovada no início desse ano de 1933) eram em muitos aspectos coincidentes (veremos todavia no quinto artigo que essa atitude do lado português pode ter mudado mais tarde).
Notícia em "O Ilustrado"
"O Ilustrado" de 15.11.1933 |
A visita de cortesia do Governador-Geral português, o experiente oficial de cavalaria e administrador colonial José Cabral, foi feita num dos dias seguintes à chegada e dela temos duas imagens, que mostram com ele o cônsul de Itália Gaspar Buffa de fato escuro e gravata e o comandante do submarino Sciesa, o Capitão de Fragata Savio.
FOTOS 3
Governador José Cabral de visita ao Sciesa junto do Comandante Savio, os dois em farda oficial, primeiro com e depois sem boné |
A partir da imensa informação disponível na net sobre esta viagem, podemos dizer que o Comandante Savio chefiava aqui não só o submarino Sciesa mas também o grupo ou secção que formava com o Toti. Iremos conhecê-lo melhor com outras fotos mas ele estava já na FOTO 2 recuado ao centro esquerda entre os dois italianos locais.
Pode-se ver das FOTOS 1 à 3 uma tenda de lona montada em estrutura metálica que tinha sido acoplada aos bordos do(s) submarino(s). Como veremos depois, foi uma das poucas adaptações feitas aos submarinos para a viagem, aqui era usada de modo a receber-se mais confortávelmente os visitantes dado que o interior do submarino tinha espaço muito limitado, mas podia ser também usada pela tripulação quando navegavam à superfície.
Lembro que em 1933, à data destas fotos, a Itália tinha colónias africanas no Corno de África, na Eriteia e Somália Italiana (para além da Líbia desde 1912 e que foi aumentada em 1934). Foi a sua tentativa de expansão nessa região com a conquista da Abissínia, agora Etiópia, em 1935/36 que levou a Itália a antagonizar-se com os seus antigos aliados da primeira grande guerra (França, Inglaterra, Rússia e o "pequeno" Portugal) e a aderir em 1936 ao Eixo com a Alemanha Nazi e o Japão Imperialista, isso cerca de três anos depois do que vimos aqui. O agravamento do confronto entre essas duas partes nos três anos seguintes conduziu à segunda grande guerra mundial de 1939 a 1945 em que Portugal se manteve neutro. Note-se no entanto que mesmo depois do início da guerra com o ataque da Alemanha à Polónia e nos meses que antecederam o seu ataque à França, Bélgica e Holanda, a França tentou que a Itália abandonasse a aliança com a Alemanha mas não teve sucesso e a Itália acabou por declarar guerra à França (quando viu que esta ia ser derrotada ...).
Por fim imagem da visita dos comandantes dos submarinos ao quartel do Alto-Maé, Esquadrão dos Dragões:
Pode-se ver das FOTOS 1 à 3 uma tenda de lona montada em estrutura metálica que tinha sido acoplada aos bordos do(s) submarino(s). Como veremos depois, foi uma das poucas adaptações feitas aos submarinos para a viagem, aqui era usada de modo a receber-se mais confortávelmente os visitantes dado que o interior do submarino tinha espaço muito limitado, mas podia ser também usada pela tripulação quando navegavam à superfície.
Lembro que em 1933, à data destas fotos, a Itália tinha colónias africanas no Corno de África, na Eriteia e Somália Italiana (para além da Líbia desde 1912 e que foi aumentada em 1934). Foi a sua tentativa de expansão nessa região com a conquista da Abissínia, agora Etiópia, em 1935/36 que levou a Itália a antagonizar-se com os seus antigos aliados da primeira grande guerra (França, Inglaterra, Rússia e o "pequeno" Portugal) e a aderir em 1936 ao Eixo com a Alemanha Nazi e o Japão Imperialista, isso cerca de três anos depois do que vimos aqui. O agravamento do confronto entre essas duas partes nos três anos seguintes conduziu à segunda grande guerra mundial de 1939 a 1945 em que Portugal se manteve neutro. Note-se no entanto que mesmo depois do início da guerra com o ataque da Alemanha à Polónia e nos meses que antecederam o seu ataque à França, Bélgica e Holanda, a França tentou que a Itália abandonasse a aliança com a Alemanha mas não teve sucesso e a Itália acabou por declarar guerra à França (quando viu que esta ia ser derrotada ...).
Por fim imagem da visita dos comandantes dos submarinos ao quartel do Alto-Maé, Esquadrão dos Dragões:
FOTOS 4
Comandantes Carlo Savio e Alberto Battaglia de capacete colonial, acompanhados do Cônsul Gaspare Buffa e militares portugueses |
Continuação da "estória" da comunidade italiana local e da história internacional em torno desta visita noutro artigo.
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