Falamos nos cinco artigos anteriores mais específicamente sobre a estada dos submarinos italianos Antonio Scesa e Enrico Toto em Lourenço Marques (LM) em 1933 e sobre a comunidade italiana que os recebeu. Vamos agora falar mais em geral da viagem de que essa visita fez parte usando mais informação da net e dum artigo publicado na revista dos antigos marinheiros militares italianos "Marinai d'Italia" em 1989 e que tinhamos usado até agora únicamente para clarificar pequenos pontos. Uma das fotos deste artigo é também reproduzida daí.
Diz este artigo muito completo que a Itália tinha tradição na construção de submarinos e que para o final dos anos 20 tinha a pretensão de vir a ter a quarta maior frota do mundo. O primeiro passo foi a encomenda aos seus estaleiros OTO dos submarinos oceânicos da classe Balilla de 1 427 toneladas à superfície e 86.5 metros de comprimento a que o Sciesa e o Toti pertenciam e que poderiam operar independentes no Corno de África onde a Itália tinha colónias e por onde passavam importantes rotas de navegação civil (ver texto técnico mais em baixo).
Como dissemos antes a viagem que passou por LM não foi de rotina pois serviu de teste adicional às capacidades da classe Ballila depois de terem operado satisfatóriamente no Atlântico Norte e fez parte duma viagem de circum-navegação de África. A partida foi da base naval italiana de La Spezia no Mar Mediterrâneo e seguiram no sentido dos ponteiros do relógio como se pode ver na FOTO 1. Esse périplo no total demorou cerca de cinco meses e meio e teve cobertura informativa especial pelo que podemos ver por exemplo um filme do seu regresso à base:
Como dissemos antes a viagem que passou por LM não foi de rotina pois serviu de teste adicional às capacidades da classe Ballila depois de terem operado satisfatóriamente no Atlântico Norte e fez parte duma viagem de circum-navegação de África. A partida foi da base naval italiana de La Spezia no Mar Mediterrâneo e seguiram no sentido dos ponteiros do relógio como se pode ver na FOTO 1. Esse périplo no total demorou cerca de cinco meses e meio e teve cobertura informativa especial pelo que podemos ver por exemplo um filme do seu regresso à base:
Podemos ver neste mapa o trajecto da viagem (obtido desta publicação):
Na parte superior do mapa pode ver-se os emblemas e os lemas dos dois submersíveis que homenageavam dois heróis italianos relativamente recentes na altura:
Périplo de África entre Setembro de 1933 e Fevereiro de 1934 |
- à esquerda, o do Enrico Toti que tinha sido um soldado amputado duma perna e que lutou contra os austríacos na WW1. O lema do Toti por isso era "Vincere ad ogni costo", que quer dizer "ganhar a qualquer custo". ou "vencer a qualquer preço".
- à direita, o do Sciesa que tinha sido um revolucionário milanês contra os austríacos que ocupavam a sua cidade. O seu nome próprio era para ser Amatore mas foi escrito António e por isso o submarino ficou assim. O lema do Sciesa era "Tiremm innanz", o que tinha sido dito por Sciesa em dialecto milanês antes de ter sido fusilado e que parece querer dizer "andemos para a frente".
No quadro seguinte estão as datas e os dados principais sobre a viagem que se vê durou precisamente 163 dias, dos quais 78 a navegar e 85 nos portos e totalizou 15 947 milhas náuticas percorridas:
Quadro da revista Marinai d'Italia |
Como esta missão foi em tempo de paz, os submarinos navegaram normalmente à superfície e pode ver-se que as cerca de 92 milhas percorridas em submersão representaram só 0.6% do total e corresponderia aos períodos de teste das embarcações e de treino da equipagem.
Em 1933/34 a Itália ainda pertencia ao grupo de aliados da Primeira Grande Guerra incluindo Portugal, a França e a Inglaterra (a Espanha tinha sido neutral) que dominavam as costas africanas. Por isso o grupo dos dois submarinos podia fácilmente contar com abastecimentos e reparações e em caso de necessidade de eventual socorro ao longo de toda a viagem mas pelos vistos tal não foi necessário. Quando ao abastecimento de combustível diesel aqui é dito que tinham autonomia para 13 000 milhas náuticas mas noutro site a informação era de 7 050 milhas náuticas, a 8.5 nós de velocidade à superfície e lógicamente de menos autonomia se a velocidade aumentasse. Duma forma ou de outra tendo percorrido 15 947 mn tiveram de ser reabastecidos algures dado que não foi planeado encontrarem-se com navio tanque durante a viagem.
Agora duas fotos do sargento Vittorio Vacca que fez parte da tripulação do Enrico Toti na volta a África. A primeira é da estada em Durban, a primeira escala depois de LM e onde os marinheiros italianos devem ter dado uma volta turística:
Em 1933/34 a Itália ainda pertencia ao grupo de aliados da Primeira Grande Guerra incluindo Portugal, a França e a Inglaterra (a Espanha tinha sido neutral) que dominavam as costas africanas. Por isso o grupo dos dois submarinos podia fácilmente contar com abastecimentos e reparações e em caso de necessidade de eventual socorro ao longo de toda a viagem mas pelos vistos tal não foi necessário. Quando ao abastecimento de combustível diesel aqui é dito que tinham autonomia para 13 000 milhas náuticas mas noutro site a informação era de 7 050 milhas náuticas, a 8.5 nós de velocidade à superfície e lógicamente de menos autonomia se a velocidade aumentasse. Duma forma ou de outra tendo percorrido 15 947 mn tiveram de ser reabastecidos algures dado que não foi planeado encontrarem-se com navio tanque durante a viagem.
Agora duas fotos do sargento Vittorio Vacca que fez parte da tripulação do Enrico Toti na volta a África. A primeira é da estada em Durban, a primeira escala depois de LM e onde os marinheiros italianos devem ter dado uma volta turística:
Boa disposição generalizada durante visita étnico-cultural a aldeia zulu |
Outra foto mostrando a chegada à Cidade do Cabo, passando do Oceano Índico para o Atlântico:
Recepção aos submarinos por barcos com italianos emigrados, suponho que tendo içada a bandeira do Reino de Itália |
No artigo seguinte daremos mais detalhes sobre a chegada ao Cabo que vimos em cima. Cerca de um mês depois de terem daí partido, o Toti e o Sciesa tinham chegado a Dakar na capital do Senegal francês (daqui):
No cais o E. Toti à esquerda e o A: Sciesa (SC grande na ponte) à direita com a Douanes (alfândega) ao fundo das instalações portuárias |
Voltamos às fotos da revista Marinai d'Italia, agora mostrando os dois submarinos prestes a iniciar a parte final da viagem no Oceano Atlântico.
Sciesa e Toti em Las Palmas nas Ilhas Canárias em 1934 |
Las Palmas foi possívelmente a última escala do grupo antes de Gibraltar (Gibilterra em italiano) por onde voltaram ao Mar Mediterrânio donde tinham saído pelo lado oriental passando através do canal de Suez. No entanto pelo mapa parece ter havido antes um certo circuíto no Arquipélago das Canárias e talvez os submarinos se tenham aí temporáriamente separado.
Resumindo o que vi nas muitas fotos e postais da viagem que estiveram ou estão à venda no site delcampe e que complementam as que mostro aqui direi o seguinte. Há nessas fotos varias dos submarinos, de acontecimentos no mar e em terra. Estas últimas incluem infraestruturas encontradas no percurso como o canal de Suez e os portos e actividades nos tempos de lazer. Vemos assim visitas da tripulação em maior ou menor número a "atracções turísticas" e a edifícios relevantes e a instituições ligadas à Itália nas localidades tocadas na viagem e suas redondezas. Nalgumas deve ter participado toda a tripulação, noutras só os oficiais e talvez nem todos pois presumo que a maioria da tripulação tivesse de manter ou reparar os dois submersíveis nessas paragens.
LM foi a única cidade de que aparecem dois eventos sociais elaborados e que certamente foram exclusivos para os oficiais, o baile de gala e a recepção em Marracuene que vimos neste artigo. Ao mesmo nível vejo só que em Durban esteve um salão preparado para uma festa e que uma recepção foi oferecida pelo Governador da Eritreia (Italiana) com a presença de algumas damas europeias (e é referida a hipótese de dança mas não sei se se concretizou). De resto vê-se almoços mais banais com algumas autoridades e actividades com populações africanas por exemplo a assistência a batuques.
Não sendo completa a amostra de fotos que temos, dá-me a impressão que pelo menos os oficiais devem ter ficado satisfeitos com a visita a LM. Para o resto da tripulação não sei qual foi o programa mas devem ter apreciado a organização e qualidade de vida da cidade que comparando aos outros portos do périplo de África, e embora fosse mais pequena que elas, estaria a nível próximo de Durban, Cape Town e de Las Palmas (e talvez Dakar estivesse também a esse nível). Em LM duma forma ou de outra todos devem ter beneficiado do acolhimento da colónia italiana e seria interessante ver relatos feitos pelos elementos das tripulações há cerca de 86 anos mas desconheço se existem.
No mapa de cima vê-se que os submarinos passaram pelo Lobito em Angola, no total passaram por todos os territórios do ultramar africano português com excepção do forte de S. João Baptista de Ajudá. Das fotos no delcampe vê-se que as autoridades portuguesas do Lobito parecem ter-se esforçado na recepção, houve uma caçada presumo que para um pequeno grupo e talvez para maior número houve um grande picnic e uma viagem a Catumbela de combóio (12 km). No fim a tripulação "compensou" esse esforço realizando para um grupo de autoridades e afins que tinha seguido os submarinos até ao largo do Lobito a imersão de um deles. Não sei se isso terá sido possível em LM ou por perto tendo em conta a grande extensão e pouca profundidade do estuário e baía.
Veremos mais sobre os submarinos Toti e Sciesa no próximo artigo,
LM foi a única cidade de que aparecem dois eventos sociais elaborados e que certamente foram exclusivos para os oficiais, o baile de gala e a recepção em Marracuene que vimos neste artigo. Ao mesmo nível vejo só que em Durban esteve um salão preparado para uma festa e que uma recepção foi oferecida pelo Governador da Eritreia (Italiana) com a presença de algumas damas europeias (e é referida a hipótese de dança mas não sei se se concretizou). De resto vê-se almoços mais banais com algumas autoridades e actividades com populações africanas por exemplo a assistência a batuques.
Não sendo completa a amostra de fotos que temos, dá-me a impressão que pelo menos os oficiais devem ter ficado satisfeitos com a visita a LM. Para o resto da tripulação não sei qual foi o programa mas devem ter apreciado a organização e qualidade de vida da cidade que comparando aos outros portos do périplo de África, e embora fosse mais pequena que elas, estaria a nível próximo de Durban, Cape Town e de Las Palmas (e talvez Dakar estivesse também a esse nível). Em LM duma forma ou de outra todos devem ter beneficiado do acolhimento da colónia italiana e seria interessante ver relatos feitos pelos elementos das tripulações há cerca de 86 anos mas desconheço se existem.
No mapa de cima vê-se que os submarinos passaram pelo Lobito em Angola, no total passaram por todos os territórios do ultramar africano português com excepção do forte de S. João Baptista de Ajudá. Das fotos no delcampe vê-se que as autoridades portuguesas do Lobito parecem ter-se esforçado na recepção, houve uma caçada presumo que para um pequeno grupo e talvez para maior número houve um grande picnic e uma viagem a Catumbela de combóio (12 km). No fim a tripulação "compensou" esse esforço realizando para um grupo de autoridades e afins que tinha seguido os submarinos até ao largo do Lobito a imersão de um deles. Não sei se isso terá sido possível em LM ou por perto tendo em conta a grande extensão e pouca profundidade do estuário e baía.
Veremos mais sobre os submarinos Toti e Sciesa no próximo artigo,
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