A foto seguinte é reproduzida de original da Universidade de KwaZulu-Natal fazendo parte da Colecção Campbell e mostra um cais no porto de Lourenço Marques (LM), actual Maputo no seu início. Delago(a) Bay da legenda original era o nome que os ingleses davam a LM não fazendo por isso distinção entre a baía e a cidade.
FOTO 1
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| Legenda: Munições para os boers apreendidas (paradas) em Delagoa Bay |
A foto tem de ser de entre meados de 1899 e 1902 período durante o qual aconteceu a segunda guerra Anglo-Boer. O porto de LM era então o único por onde os Boers ou Africaners, cujas duas repúblicas (ZAR do Transvaal e Estado Livre de Orange) não tinham costa marítima e cujos acessos internacionais alternativos estavam sob administração britânica, se podiam abastecer especialmente em armamento e munições essenciais para a continuação da sua defesa.
Olhando para o pormenor seguinte dessa foto presumo que os caixotes com as munições apreendidas estão ao fundo. Teriam sido içados por guindastes de barcaças que os teriam trazido dum navio ancorado no meio do estuário e sido depois depositados no cais.
FOTO 1 pormenor
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Verde: pilha de caixotes que presumo fossem os das munições apreendidas
Vermelho: telhado dum armazém só coberto, do lado esquerdo = oeste
Castanho: fachada lateral dum armazém fechado, do lado direito = leste
Laranja claro: passagem entre esses dois armazéns
e ao lado da qual estavam empilhados os caixotes
Azul: limite da plataforma do cais face ao estuário
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As pessoas e a barcaça que se vêm em primeiro plano na FOTO 1 não me parece que teriam relação directa / imediata com os caixotes dado que, como estes parecem estar já bem empilhados, o seu desembarque deveria ter acontecido algum tempo antes da foto ter sido tirada.
Na FOTO 1 vê-se ao fundo à direita e projectando-se do lado de terra para o do estuário o lado a oeste da plataforma em alvenaria do Cais da Alfândega (CA), a que viamos por exemplo aqui precisamente desse lado. Como confirmaremos em baixo, o cais mais longo que aparece na FOTO 1 estaria por isso para oeste do CA cerca de 1900. e pouco tempo depois foi nessa zona mas mais para a direita = em águas do estuário mais profunda construída a ponte-cais Gorjão, a que existe ainda.
Para nos localizamos na actualidade, a marca "castanho escuro" estaria na direcção da rua chamada na altura da Alfândega / Canto e Castro, a que fica do lado oeste = à esquerda da praça agora 25 de junho. Actualmente vê-se aqui o lado da praça mais próximo do porto e essa rua e podemos imaginar que o lado mais a sul e virado para a Catembe da plataforma do Cais da Alfândega (algures para a direita e para o fundo da FOTO 1) estava aproximadamente onde está agora a via entre as duas construções que aparecem aqui ao centro, para o fundo da praça.
Há outra foto e que será do final de 1899 que mostra a apreensão de munições para o Transvaal no porto de LM durante a mesma guerra. Nela vê-se caixotes ainda a ser descarregados no cais por um guindaste e a serem depois empilhados por estivadores um pouco para leste. A sua pilha estava à direita duma passagem entre dois armazéns, por sinal os mesmos que se viam na FOTO 1. Há por isso muitas similitudes entre as duas fotos mas tal não é suficiente para se dizer que elas reportam o mesmo acontecimento, até porque nesta altura o porto de LM quase se limitava a esse local.
A FOTO 2 foi então tirada na direcção da antiga rua da Alfândega que forma o limite a poente = oeste da Praça 25 de Junho, antiga 7 de Março se nos quisermos localizar na cidade e da qual se via a parte alta para o fundo. Viamos essa rua do lado oposto aqui e aqui nas FOTOS 4 e 5 e por isso o recinto portuário, e poucos anos depois das fotos de cima, aparecia aí ao fundo. No entanto só se conseguia ver nessas fotos um dos dois armazéns que existiam em 1900 pois o do lado esquerdo = para leste estava tapado pela árvore que estava do lado oposto dessa rua, mais precisamente ao lado do edifício da Guarda Fiscal.
FOTO 2
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Legenda como para a FOTO 1 mais:
Azul: perto do limite da plataforma do cais face ao estuário
Amarelo: direcção da Rua da Alfândega, depois Canto e Castro
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A FOTO 2 foi tirada de cima do limite a oeste da plataforma do CA, a mesma que se vê para o fundo da FOTO 1 do lado direito. Por isso aparece à esquerda da FOTO 2 um dos guindastes que estaria a levantar a carga de uma barcaça que estaria fundeada junto à esquina dos cais que se vê para o fundo / à esquerda da FOTO 1. Falámos desses elementos do porto inicial nesta série e vê-se nesta foto esse lado virado a oeste da plataforma em alvenaria do CA.
Agora uma imagem da reportagem na revista inglesa Black and White sobre o mesmo acontecimento em 1899:
IMAGEM 1
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| Transvaal ... ammunition ... |
As fotos e desenho de cima isoladamente e também as notícias referentes a elas que encontro em leitura rápida não esclarecem, por exemplo quem apreendeu esses caixotes com munições, se os ingleses no mar ou os portugueses no porto e qual o(s) navio(s) que a(s) transportava(m). Veremos noutro artigo a situação legal entre a Inglaterra e Portugal (se era relação de aliança ou de neutralidade) mas podemos ler uma notícia presumo que no fim de 1899 com a queixa dos ingleses de que os funcionários portugueses em LM eram corruptos e ajudavam os boers. Não se vê o resto mas o jornalista devia recomendar a ocupação de LM.
Mas uma notícia já de Setembro de 1901, quando a guerra se aproximava do fim, dá conta duma apreensão feita em terra, quer dizer de material que estaria já pronto a ser encaminhado para o Transvaal.
Mas uma notícia já de Setembro de 1901, quando a guerra se aproximava do fim, dá conta duma apreensão feita em terra, quer dizer de material que estaria já pronto a ser encaminhado para o Transvaal.
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| Consul inglês alertou e houve várias detenções |
Não é aí dito explícitamente mas lembro que na altura os únicos meios de transporte mecanizados eram o caminho de ferro em terra e a navegação a vapor no mar. O Transvaal e o Estado Livre de Orange tinham tido acesso por caminho de ferro aos portos de LM, Durban e Cidade do Cabo mas com o início da guerra os dois últimos foram cortados. Como nem camionagem nem aviação de carga existiam nesses tempos, daí a importância do porto e caminho e ferro de LM.
FOTO 4
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| Acesso das duas repúblicas boer ao mar por caminho de ferro passou a ser possível só via porto de Lourenço Marques da "marca preta" |
Como os caminhos de ferro passaram a ser objectivo militar estratégico para os ingleses, a protecção dessa única via de abastecimento do exterior deve explicar a imagem seguinte da mesma altura:
FOTO 5
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| Patrulha boer junto a linha férrea algures no Transvaal ou Estado Livre |
Há um longo texto aqui sobre o tema dos abastecimentos aos Boers pelo porto de LM e pelo que se vê no google este tema do contrabando via LM deve dar para um ou vários doutoramentos.
Por isso este é assunto que continua no próximo artigo.
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