Munições para os boers e bloqueio naval inglês a LM: TSF e navios (2/3)

Continuando o tema do contrabando para os boers (africanders) e bloqueio naval (selectivo) britânico ao porto de Delagoa Bay / Lourenço Marques (LM), actual Maputo iniciado no artigo anterior, durante a segunda guerra Anglo-Boer entre meados de 1899 e 1902, outro aspecto interessante pode ser ilustrado pela imagem seguinte que vem de commonswikemedia.
Primeiro uso prático de telegrafia sem fio no mundo 
foi pela marinha britânica entre os seus navios em Delagoa Bay

Essa placa tem escrito: "Electrical Engineering Milestone, First Operational Use of Wireless Telegraphy. The first use of wireless telegraphy used in the field occurred during the Anglo-Boer War (1899-1902), The British army experimented with Marconi's system and the British navy successfully used it for communication with naval vessels in Delagoa Bay, prompting further development of Marconi's wireless telegraph system for practical uses."
Do site weapons and warfare temos melhor explicação para essa placa, adaptando-se um pouco o original"O fracasso do exército nas experiências com o equipamento de telegrafia sem fio de Marconi tornou-se o sucesso da Marinha Real. Em março de 1900, aparelhos de Marconi foram instalados em cinco cruzadores que faziam o bloqueio no mar junto a Lourenço Marques e essa tecnologia foi usada com êxito nas comunicações entre eles. Foi ainda ligada uma linha de telegrafia terreste a um dos cruzadores que estava ancorado perto da costa de forma a que ele comunicasse com a base da Marinha em Simonstown no Cabo. E assim foi possível que os outros quatro cruzadores, mesmo a 100 km de distância desse, comunicassem com ele e a partir daí comunicassem por telegrafia também com essa base".
Do livro "Field Gun Jack Versus The Boers: The Royal Navy in South Africa 1899-1900" de Tony Bridgland (amostra no google books) reproduzo a seguir com a devida vénia uma carta com a posição dos navios ingleses fazendo o bloqueio que era selectivo pois inspeccionavam os navios que se dirigiam ao porto de LM e deixavam passar os insuspeitos.

BLOQUEIO da ROYAL NAVY a LM CERCA de 1900
Estava um cruzador inglês vigiando a costa a norte e mais quatro 
vigiando a costa a sul de Lourenço Marques / Delagoa Bay

A desproporção entre estar um só cruzador de plantão a norte e estarem quatro a sul parece-me que se explicará por a norte os britânicos puderem fiscalizar os cargueiros vindos da Europa logo que eles atravessassem o Canal de Suez enquanto que pelo sul (= por baixo na carta) podiam aparecer cargueiros que tivessem vindo da Europa ou Américas sempre pelo alto-mar e tivessem até aí escapado à vigilância inglesa.
Presumo que os cruzadores ingleses vigiassem especialmente os que viessem de portos suspeitos e na Europa haveria muitos pois grande parte dos países eram contra a Inglaterra e teriam indústria de armamento desenvolvida e capaz de fornecer os boers = africaners. 
Podemos ver imagens de alguns desses navios da Marinha de Guerra de Sua Majestade sendo a primeira do site alamy.com:
HMS Dwarf, com peça à popa e metralhadoras a estibordo cerca de 1910

Este HMS Dwarf foi contruído em 1898 e vendido em 1926. Pertencia à classe Bramble a qual representou os quatro últimos navios britânicos combinando propulsão de motor a vapor com velas. Estas foram mais tarde retiradas usando-se os seus mastros para observação e sinais como parece ser já o caso na foto de cima tirada num porto algures pelo mundo.
O HMS Dwarf no bloqueio britânico ao porto de LM esteve em posição a norte da baía e a seguir temos imagem dum dos cruzadores que esteve a sul, este da classe Marathon
HMS Magicienne de 1888 o qual foi vendido em 1905 (wikimedia commons)

A notícia que vemos em baixo de 27 de Janeiro de 1900 confirma que conforme se via na carta o HMS Thetis era um dos vasos de guerra ingleses que fazia o bloqueio selectivo a LM.
Navio Herzog alemão 

Esse navio mercante da DAOL (linha descrita por exemplo aqui) que ia para LM tinha sido capturado pelo HMS Thetis e levado para inspecção em Durban mas nada de comprometedor tinha sido descoberto. Resumindo, neste caso muita parra e pouca uva.
No próximo artigo completaremos o assunto.

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