Cadeia Civil de cerca de 1887 na Baixa de Maputo, antiga Lourenço Marques

Cadeia Civil na Baixa de Lourenço Marques, actual Maputo
(postal de topgravures à venda no site delcampe.net)

Na sequência deste artigo vamos falar agora sobre a Cadeia Civil na Baixa que começou a ser construída em Outubro de 1887 e é um dos últimos edifícios sobreviventes dessa altura. Depois de ter tido várias utilizações é actualmente a livraria da Imprensa Nacional (texto completo de António Sopa para o HPIP em baixo).
Estes eram os edifícios públicos em construção ou construídos em 1889/91 no lado norte da Av. D. Carlos, actual 25 de Setembro que tinha sido recentemente aberta.

Fotos de Manuel Romão Pereira de 1889/1891
Rosa: Cadeia Civil era o último edifício alto (para nascente) 
e estava construída ou quase como se vê nas duas fotos seguintes.
Vermelho: edifício das Obras Públicas em construção adiantada

Agora a vista mais completa da Cadeia Civil com o lado virado a poente = oeste e fachada principal.
Tem um corpo principal e dois braços de cada lado.
Na actual Av 25 de Setembro, antiga da República e D. Carlos

Podemos ver agora a Cadeia Civil no sentido contrário. À esquerda está um veleiro no estuário e antes em terra vê-se o prédio Baptista. À direita estão construções que ou pertenciam à Cadeia Civil ou à primeira Imprensa Nacional que era no lugar da actual Biblioteca. A traseira era igual à frente, portas e janelas com o mesmo número e posições e com as partes superiores em curva.
Traseira da Cadeia Civil vista do início da encosta da Maxaquene subindo para o plateau da cidade

Nesta altura a Cadeia ainda não estava murada pelo menos pela parte de trás. 
Também se vê parte da traseira da Cadeia Civil na foto tirada do alto da barreira da Maxaquene em direcção à Baixa e com a Matola ao fundo. Deve ser de cerca de 1890 pois os outros edifícios do complexo das Obras Públicas ainda estavam em construção.
(clique para aumentar)
Rosa: Cadeia civil parece completa, parcialmente rodeada
por uma dependência para nascente = leste que podia servir de muro
Vermelho: Obras Públicas com as suas alas ainda só em esqueleto.
Verde escuro: O pântano que rodeava a "ilha" ainda em vias de secagem

Lisandra Mendonça na sua tese de doutoramento disse também que a Cadeia, que era também esquadra da Polícia, foi o único destes edifícios construidos pela Obras Públicas por volta de 1890 com pedra que tinha sido obtida do desmantelamento dos fortes da linha de defesa. Essa pedra serviu também para o pavimento da praça da estação de caminhos de ferro e das novas vias.
Uns bons anos depois outra foto com a cadeia vista mais do lado direito (virado a nascente = leste). A Rua da Imprensa estava já desenhada como actualmente e o lancil do passeio estava colocado. O recinto da cadeia que talvez tivesse sido previsto ser mais largo inicialmente estava reduzido quase só até ao limite dos seus braços.

Foto Lazarus de 1899 - 1908
Cadeia Civil vista de nascente para poente, com gradeamento e guarita

E uma vista semelhante mas rodando um pouco mais para a esquerda mas alguns anos depois. 
Antiga Cadeia Civil vista da esquina diametralmente oposta no cruzamento

A foto de cima é do livro de Alfredo Pereira de Lima (APL) "Edifícios Históricos de Lourenço Marques" que informa, afinando pelo mesmo diapasão de Antonio Sopa (ver em baixo), que depois de ter deixado de ser a Cadeia o edifício passou para a Geologia e Minas que depois instalou aí o museu geológico "Freire de Andrade". Foi depois deste ter sido transferido que o edifício foi ocupado pela  Imprensa Nacional (que ocupava o edifício imediatamente para norte) para a sua livraria, situação que se mantém como veremos começando pela fachada principal do edifício. Nesta última foto, a mais recente, nota-se que no primeiro andar a parte superior das três janelas está alinhada. a do meio não está a nível superior como tinha estado inicialmente e pode-se constatar que essa era já a na foto anterior de APL que deve ser dos anos 50/60: 
Edifício actual que desde 1972 é "imóvel de INTERESSE público"
Fachada original renovada virada para a actual Av 25 de Setembro

O braço da frente do lado direito do edifício original ainda está lá (agora com o telhado verde) face à Rua da Imprensa/Av. Lenine e ao Prédio 33 como se pode ver na foto de cima e confirmar na de baixo.
Cadeia Civil na esquina da Av. 25 de Setembro com a 
Rua da Imprensa, continuação da Av. Lenine

Noutra mensagem é dada mais alguma informação, principalmente gráfica, sobre a Cadeia Civil e os edifícios circundantes. 
Texto completo sobre este edifício pelo historiador moçambicano António Sopa para o HPIP em:
http://www.hpip.org/def/pt/Homepage/Obra?a=2205
Cadeia Civil (atual Livraria da Imprensa Nacional de Moçambique)
Localiza-se no centro da cidade baixa, no gaveto das avenidas Vladimir Lenine e 25 de Setembro.
Foi construída pela expedição de Obras Públicas, aqui chegada em 7 de Março de 1877, chefiada pelo célebre engenheiro Joaquim José Machado, e a quem se ficam devendo alguns dos mais importantes trabalhados realizados na época, como sejam os aterros dos pântanos que circundavam a povoação e o plano de urbanização de 1887, de autoria de António José de Araujo. 
A "Casa do Machado" - como era também conhecida -, é um dos últimos vestígios das construções realizadas por aquela expedição, tendo sido considerada "imóvel de INTERESSE público", desde 7 de Novembro de 1972 (Portaria 962|72).
A Cadeia Civil, que se encontra praticamente no mesmo local onde anteriormente esteve o Baluarte "14" da antiga "linha de defesa", começou a ser construída em 9 de Outubro de 1887. Até essa data, a prisão da cidade encontrava-se instalada numa divisão da Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, onde se misturavam "promíscuamente brancos e pretos, quer sejam assassinos, quer simplesmente desordeiros e turbulentos". Foi já aqui, nas novas instalações, que ficaria detido o seu prisioneiro politico mais importante, Ngungunhane Nkumalo, após a sua captura, em 1895. Seria, posteriormente, apresentado às autoridades oficiais, aos cônsules, aos comandantes dos navios de guerra da Inglaterra e da Alemanha, e ao povo, no espaço fronteiro à Casa Amarela (actual Museu da Moeda), antes da sua partida para o desterro nos Açores, onde acabaria por falecer em 1906.
A Cadeia viria a permanecer neste edifício até Março de 1930, quando foi inaugurada a actual. Pensava-se então demolir a antiga construção, erguendo-se uma nova destinada à Repartição de Estatística e Biblioteca, permitindo igualmente ampliação da Imprensa Nacional. Isso acabou por não acontecer, e ali vieram a instalar-se depois os Serviços de Geologia e Minas, tendo sido aberto, no seu rés-do-chão, o Museu de Geologia "Freire de Andrade", inaugurado a 7 de Maio de 1943. Naquelas instalações permaneceu até 1958, altura em que seria transferido para o Palácio das Repartições (edifício onde actualmente está instalado o Ministério das Finanças|Gabinete do 1º Ministro), tendo sido reaberto ao público em Outubro daquele ano. 
A "Casa do Machado" viria a ser, desde então, definitivamente ocupada pela Imprensa Nacional.
Apesar do diploma legal que classifica a antiga Cadeia Civil de "imóvel de INTERESSE público" o destinar explicitamente a "Museu da Moeda", este acabaria por nunca se instalar naquele local. Este museu era o sucessor natural do Gabinete Numismático e Medalhístico, que se tinha sido começado a organizar por iniciativa do historiador Alexandre Lobato, na tutela do Arquivo Histórico de Moçambique, em 30 de Junho de 1970, a partir duma pequena colecção de moedas e medalhas existentes no Museu Militar, instalado na então Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição. Acabaria, finalmente, por ser aberto ao público na Casa Amarela, já depois da independência nacional. Esta, que passa por ser a construção mais antiga de Maputo, é considerada "monumento nacional" desde Abril de 1964, tendo sofrido importantes obras de restauro em 1970, estava destinada a acolher o Museu e Gabinete de História da cidade, o que não se concretizou, permitindo assim que fosse exposta ali aquela valiosa e única colecção numismática.
António Sopa

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