Hospital de c. de 1880 no Largo da Igreja de LM - imagens antigas e relação com a igreja (1/3)

Manuel Romão Pereira (MRP) fotografou entre 1889 e 1891 os dois edifícios principais do Largo da Igreja de Lourenço Marques (LM), actual Maputo. Com duas fotos de MRP e outras vamos explicar um pouco esse largo e sobre o Hospital e um pouco mais sobre a Igreja.
Do lado poente = oeste do largo temos o Hospital de L.M. do final do século XIX até ao princípio de século XX de alvenaria e bem apresentável. Foi iniciado em 1877 (ou construído em 1879-1880) com projeto dos Eng. Joaquim José Machado e J. António Ferreira Maia da expedição das Obras Públicas (OP) e foi ampliado em 1889, isto segundo o HPIP. Note-se que no AHU há uma planta de projecto de 1877 de João António SOUSA Maia com o Hospital e que o Eng. Lopes Galvão no livro "A Engenharia", pág, 272, escreve que João António FERREIRA da Maia  (1846-1884) em 1876 foi requisitado ao Ministério da Guerra para servir nas OP de Moçambique, por isso certamente para fazer parte da expedição de 1877, mas parece que não ficou muito tempo nessa função "não chegou a perfazer o tempo marcado por lei para promoção ao posto imediato". Presumo por isso que haja alguma confusão num dos apelidos e que se trate da mesma pessoa.
No entanto segundo o Eng. Lopes Galvão no seu livro de 1940 quando a expedição chegou o hospital estava já em construção dirigida pelo Eng. Craveiro Lopes, director das OP ainda baseado na Ilha de Moçambique. 
Como 1889, ano da ampliação, calha no periodo entre 1889 e 1891 em que MRP tirou as fotos não sabemos se elas mostram já a ampliação ou não mas na primeira vê-se um corpo central com duas alas que corresponde à sua descrição inicial.

FOTO 1, de MRP de cerca de 1890
"Hospital Militar e Civil" - vê-se que tem pelo menos forma de L 
mas a ala a norte devia estar escondida pelo corpo central

Podemos ver do outro lado do Largo a Igreja que lhe deu o nome também em foto de MRP.
FOTO 2, de MRP de cerca de 1890
Igreja Paroquial católica (vista para nascente) com a torre virada para o largo
MRP entre 1889 e 1891 não tirou fotos do Largo da Igreja que o cobrissem na totalidade. A posição relativa do Hospital e da Igreja vê-se numa foto de Fowler tirada talvez entre 1885 e 1886 quer dizer um pouco antes das fotos de MRP e também da data da ampliação do Hospital.

FOTO 3, de FOWLER de c. de 1886
Vista da "Maxaquene" para o "Alto Maé"

Na FOTO 3 quanto ao Hospital Militar e Civil a frente é semelhante à das fotos de cima e combinando-se com o que se vê na FOTO 1 conclui-se que tinha pelo menos a forma de um U. Quanto à Igreja está sem diferenças notórias e nota-se também que aqui ainda não havia as duas cabinas que aparecem na FOTO 3 de MRP do lado direito = sul da igreja.
Em baixo está o mapa do Major António José de Araújo com o projecto de ampliação da cidade de 1895 mas desenhado anos antes e por isso poucos anos depois das fotos de cima. Vemos que o edifício original do Hospital (rodeado a vermelho) aparece como um rectângulo pois estava fechado na traseira mas o mapa tem pouco detalhe para mais conclusões.

                                     Mapa de 1895 - Largo com Hospital e Igreja
Vermelho: Hospital de Todos os Santos
Localização na cidade actual através das ruas planeadas 
para a quadrícula (ruas de fundo castanho)
D. Manoel: equivale à Rua da Rádio neste sitio
Avenida vertical à direita (vê-se o D): actual Lenine

O mapa que temos a seguir é de 1903 e apresenta o hospital com mais detalhe e já com vários novos edifícios em redor por isso numa situação claramente posterior à das FOTOS 1 a 3.

MAPA de 1903 - Largo com Hospital e Igreja rodeado pela cidade em quadrícula
Vermelho: Hospital com alterações em relação ao mapa de 1895
Creme: enfermarias que veremos serem ampliação de c. 1890
Azul escuro: pavilhão isolado que veremos ser de c. de 1890
Verde claro: Igreja Paroquial com o braço mudado de lado
Azul médio: indica a vista da FOTO 3, mas note-se que ela 
foi tirada em época anterior ao mapa

O HPIP dizia que em 1889 houve ampliação de enfermarias do hospital com pavilhões edificados a norte do edifício original e no mapa aparecem as enfermarias a noroeste por isso devem ser essas. Alfredo Pereira de Lima (APL) no livro "Pedras que já não falam" de 1972 (página 196) diz ainda que o hospital original foi ampliado (mas não diz a data) em projecto de António José de Araújo levantando-se quatro grandes enfermarias a noroeste e um corpo isolado na Av. D. Manoel que então se prolongava até ao hospital barraca. Como vimos, no mapa de 1903 confirmam-se as "quatro grandes enfermarias a NO" na traseira do edifício principal e o corpo isolado - onde segundo APL se instalou a farmácia, a residência do farmacêutico, a secretaria do hospital e outras dependências - devia ser o que no mapa marquei a azul escuro a sudoeste do corpo inicial. E penso que ele aparece nestas duas fotos, sendo a cima posterior a 1895 e o seu original da Northwestern University:

FOTOS 4 e 5
Laranjas normais: frentes com dois pisos das duas alas do edifício inicial 
do Hospital de Todos os Santos
Verde escuro: novas Avs. D. Amélia mais próxima e D. Manoel para o fundo,
 actualmente Lumumba e Josina e aí ligadas pela Rua da Rádio abaixo da Igreja e Hospital
Azul escuro: novo corpo isolado do Hospital em posição que 
corresponde â marca da mesma cor no MAPA de 1903
Verde claro: Igreja Paroquial (traseira da nave central)
Amarelo: traseira do consulado britânico concluído em 1895
Azul claro: direcção da Av. Augusto de Castilho, actual Lenine

A segunda foto de MRP relativa ao hospital neste artigo é segundo a sua legenda duma construção que lhe foi adicionada posteriormente à construção.

FOTO 6, de MRP de cerca de 1890
"Novo pavilhão anexo ao hospital": seria o corpo isolado mencionado por APL?

Via-se do lado direito da FOTO 6 uma construção mais alta que devia ser o edifício original mas por aí seria difícil localizar este pavilhão. No entanto olhando para a FOTO 5 acho que se vê lá a sua parte que está à esquerda com a grande varanda e o formato triangular do telhado e a FOTO 4 dá também a ideia de ser ele para a parte mais longa. Podemos então dizer que o pavilhão da FOTO 6 é o que está marcado a azul escuro nas FOTOS 4 e 5 e por isso acho que para lá do pavilhão da FOTO 6 passava a Av. D. Manoel com a qual ele fazia um ângulo de cerca de 45 graus. Depois da avenida estava a encosta que agora estaria entre o Hotel Clube e a parte mais alta = norte do jardim botânico (ver no MAPA de 1903 para baixo = sul da marca azul escura)
Sobre a referênca de APL à "Av. D. Manoel que então se prolongava até ao hospital barraca" como dissemos aqui este ficava muito acima da igreja paroquial e por isso muito afastado da Av. D. Manoel. Parece-me que APL tenha confundido as cabines que se vê â esquerda da FOTO 4 e transversalmente na FOTO 5 com as do "hospital barraca" mas ...
Saltando uns anos para a frente no tempo e falando do fim de vida do Hospital civil e militar no local que aqui vimos, ele deve ter sido gradualmente transferido para o Hospital Miguel Bombarda à medida que se foram aí instalando os diversos serviços e que foi formalmente aberto em 1912. Essa data coincide com a abertura da escola técnica (indústrial e comercial) neste edifício do antigo hospital precisamente para o ano lectivo de 1912/13. Segundo APL inicialmente o novo hospital estava para ficar entre as Avs 24 de Julho e Pinheiro Chagas, actual Mondlane mas acabou por ficar acima desta última. A intenção era afastá-lo da zona a ocidente da baixa da cidade que era a mais doentia devido ao (antigo) pântano. 
Ver outro artigo sobre o hospital militar e civil aqui.
O livro "A Engenharia Portuguesa na Moderna Obra de Colonização" do Eng. Lopes Galvão publicado em 1940 diz que João António Ferreira Maia (1846-1884) era oficial de infantaria e eng. civil e foi requisitado em 1876 para servir nas OP de Moçambique (certamente começando pela expedição de 1877) mas em 1881 foi nomeado Director das OP de Angola pelo que terá estado poucos anos em Moçambique e mesmo em Angola pois faleceu pouco tempo depois só com 38 anos de idade.

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