Cinematógrafo de Lourenço Marques e outras considerações

Este foi o primeiro cinema de Lourenço Marques, actual Maputo. Alfredo Pereira de Lima conta em pormenor a sua interessante história (ver o seu texto no fim deste artigo) que podemos aqui visualizar melhor. 
Cinematographo deve ter sido instalado na segunda metade de 1907













Do lado direito = oeste do Cinematographo em cima está este edifício que já apareceu noutro artigo no HoM
Casa da Alfândega antiga na Praça 7 de Março próxima de onde
Edifício inicial, onde indiquei a parte que foi demolida 
e onde foi incrustado o Cinematographo 

Conclui-se daqui que o Cinematographo estava ao lado da Casa da Alfândega antiga no lado poente e sul da Praça 7 de Março. Alfredo Pereira de Lima diz que o barracão do Cinematógrafo tinha sido a caserna da Alfândega e que o proprietário era o construtor civil José Onofre o que explicará porque, segundo Alexandre Lobato, se chamou Cinematographo Santo Onofre. No entanto outra informação diz o barracão que era propriedade pública mas tinha sido alugado para o cinema.
Alfredo Pereira de Lima no livro "Pedras que já não falam" de 1972 diz que a primeira exibição de cinema em Lourenço Marques foi feita no circo sul-africano Fillis de Franz Fillis depois da projecção cinematográfica ter sido introduzida no pais vizinho em 1896. 
Da revista Ilustração Portuguesa obtivemos mais duas imagens do Cinematographo que foram um pouco tratadas para se apresentarem aqui:
Em 1907 durante uma feira e próximo da visita do Principe Real D. Luis Filipe

Cinematographo em Junho de 1908

Vê-se que no intervalo de cerca de um ano entre as duas fotos o Cinematographo foi ampliado pela junção dum corpo mais elevado na traseira (no texto ao fim deste artigo fala-se de importantes modificações que sofreu). O local devia continuar a ser o mesmo porque à direita vê-se ainda uma das janelas altas da Casa da Alfândega em forma de ogiva (gótica).
Para além destas fotos do Cinematographo, já tinhamos visto na foto em baixo de 1910 que a parte saliente da Casa da Alfândega antiga à sua esquerda tinha sido demolida antes do resto do edifício. 
Vermelho: canto saliente da esquerda demolido

O Cinematógrapho foi incrustar-se em parte na parte demolida da Casa da Alfândega mas parece que ficou ainda um pouco afastado desse edifício. 
Sem ter directamente a ver com o Cinematógrafo, uma pergunta é porque é que se construiu a Casa da Alfândega em 1887 para se ter destruido cerca de um terço do edifício logo em 1895 (ver em baixo) quando havia tão poucas construções na cidade, tão pouco dinheiro e tanto espaço disponível? Não sei. Mas como o escrevinhador HoM não terá o exclusivo da inteligência na Terra, acredito que tivesse havido alguma razão forte. Presumo também que o barracão fosse desmontável e por isso tanto podia ter sido instalado ali como noutro local, quer dizer que a demolição parcial da Casa pode não ter estado específicamente ligada ao barracão.
Lembro que na altura o estuário estava muito perto, para SE, deste local e frente ao Capitania Buildings onde havia passeios com vista para a água bem tratados (aqui do lado oposto da Praça). Por isso o programa típico de fim de dia ou de fim semana podia ser vir à Praça, tomar um refresco na esplanada na Praça olhando para o lado do estuário e ir ao cinema, tudo feito isto num círculo de 150 metros de diâmetro e depois voltar para casa de tramway. 

Do livro de Alfredo Pereira de Lima "Pedras que já não falam" de 1972 o texto sequinte aqui reproduzido do site http://maputo120anos.9f.com/gil.htm 
"É então que na velha Lourenço Marques dos tempos românticos da “Belle Èpoque”, alguém tem a arrojada idéia de introduzir também aqui o cinematógrafo. Trata-se de José Onofre, construtor civil. Aparece quem ponha em contato Onofre com a Casa Pathé, de Paris, e, assim, o cinema iria entrar em Lourenço Marques por mão desse construtor civil, seguido de muito perto pelo comerciante Manuel Augusto Rodrigues, que tinha bom gosto e espírito de iniciativa. Bem se pode dizer que o cinema aqui chegou trazido simultaneamente pelos dois. 
Onofre aluga ao Estado o grosseiro barracão de zinco, na Praça 7 de Março, onde depois foi o edifício dos serviços de economia. O barracão tivera serventia para o jantar de 60 talheres oferecido em honra do Presidente Kruger por ocasião da inauguração do Caminho de ferro de Lourenço Marques, em 1895. Pinta-se na fachada um enorme letreiro a anunciar o “CINEMATOGRAPHPO”, e os espetáculos de cinema começam. 
A população acorre entusiasmada a ver a maravilha exibida dentro daquele barracão, mas sai dali sufocada de calor, pois Onofre, nas pressas, esquecera-se de instalar ventoinhas. O empresário corrige logo o erro, pelo que se depreende das colunas do jornal “O Futuro”, de 31 de Novembro de 1907. 
“CINEMATOGRAPHO” – Pelo Snr. Onofre, proprietário do cinematographo, que há bastante tempo funciona com extraordinário agrado junto ao edifício da velha alfândega, foi recebida comunicação da Casa Pathé, de ter sido expedida a encomenda de importantes e lindas fitas modernas, quase todas coloridas, as quais devem causar sensação. 
A barraca do cinematographo vai sofrer importantes modificações, tendo-lhe sido já instaladas 6 ventoinhas que a tornam fresca, melhoramento que muito satisfez o público que todas as noites ali concorre em grande número”. 
Mas Onofre não ficaria por muito tempo sozinho em campo. Não tardou que, apesar, de a montagem de um cinematógrafo requerer capitais, muito elevados que o comerciante Manuel Rodrigues não possuía, este esforçado pioneiro, aparecesse em competição séria. Ele também sabe os caminhos da Casa Pathé e já em 5 de Dezembro desse ano de 1907 escrevia o “Futuro”: ........."
O primeiro cinema de Manuel Rodrigues, Salão Edison, é mostrado noutro artigo.
Artigo sobre cinema em Moçambique (Aspectos da Chegada ...)

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