Prédio Nauticus na Av. 25 de Setembro, Maputo. História da Companhia de Seguros.

O Prédio Nauticus construido em 1955/57 era a sede e propriedade da Companhia de Seguros Nauticus fundada em 1943 em Moçambique. Entre os seus fundadores, que deviam ser a fina flor do empresariado local, contam-se Paulino dos Santos Gil e o Capitão Simões Vaz do Jornal Notícias. Nos anos 60 George Critikos da Vitória / Reunidas era membro do conselho de administração. Tinha lojas incluindo uma galeria, escritórios, consultórios médicos e habitações. O prédio é agora da EMOSE que sucedeu à Nauticus após a confiscação das seguradoras existentes 
Fachada principal para a actual Av 25 de Setembro (foto do Valliant)
Painéis na esquina da Rua Joaquim Lapa e antiga Travessa
 do Baluarte/B. Carvalho, junto ao Jornal Notícias
Fachada do lado sul do Prédio Nauticus, visível ao fundo da Rua Joaquim Lapa

Dando um salto para o passado:
Prédio Nauticus do lado esquerdo ou sul da Av. da República
Foto Facebook Alto-Maé

E ainda mais para trás:
Castanho: terreno onde se viria a erigir o Prédio Nauticus 
ainda com outras construções nos anos 40


Duas participantes do grupo de FB Alto-Maé têm informação muito interessante e que se complementa sobre as firmas em actividade no prédio nos anos 60/70 e que por isso reproduzo aqui: 
Laura Rodrigues - a companhia de seguros Nauticus até Dezembro de 1974 no ramo automóvel .. era no primeiro andar, No rés do chao tinha o Eduardo Siva na esquina e ao lado era a sapataria Duque, que entrava na arcada do prédio, Na arcada tinha a Boutique Laurentina Borges, uma casa de discos e .... Da parte da frente tinha uma papelaria ..., ao lado ficava uma casa com artigos decorativos se não estou em erro chamava-se DECOR. ...
Lucília Maria Vieira - A casa de discos era a Poliarte que tinha duas lojas, uma de cada lado da arcada. Em frente à Laurentina Borges era a Dandy. A papelaria era a Clássica. Na parte de trás foi a Cervejaria Irmãos Unidos e do outro lado era uma loja de electrodomésticos. A cervejaria fechou e o BPSM ocupou o espaço. A Décor ficava no prédio Sá Pessoa, do lado contrário à SECOM, oculista e representante das lentes Zeiss.
Noto que aparece aqui referência à SECOM um oculista, que conforme se vê na primeira foto deste artigo ficava para poente da entrada na galeria do prédio Nauticus, do lado da Av. da República. Segundo Lucília Vieira aí seria já um prédio diferente do Nauticus e por isso não ser evidente fomos procurar nas fotos dessa fachada tal separação e o resultado é concludente (clique para aumentar):
Linha vertical amarela: confirma-se, Nauticus à esquerda e à direita outro prédio
com fachada semelhante a ele e que seria o referido Sá Pessoa

Se quiser saber sobre este sítio ainda mais para trás no tempo, há aqui informação muito interessante

EMOSE: Em 1977 foi criada a Empresa Moçambicana de Seguros (Emose) que resultou da fusão da Companhias de Seguros Nauticus, Lusitana e Tranquilidade de Moçambique.

Do Livro de Ouro de Maria Helena Bramão
COMPANHIA DE SEGUROS NAUTICUS
A pioneira dos Seguros, em Moçambique, foi a COMPANHIA DE SEGUROS NAUTICUS, fundada em 1 de Julho de 1943, com a base financeira de 10 mil contos. A iniciativa foi tomada por um grupo de pioneiros, tendo por objectivo principal, evitar a fuga de divisas para o estrangeiro, nomeadamente, a África do Sul, em cujas Companhias as organizações moçambicanas seguravam as suas mercadorias, por não existir nenhuma Companhia portuguesa.
Já tinha havido, por duas vezes, a tentativa para formar uma companhia seguradora moçambicana, que falharam. O grupo que fundou a NAUTICUS procurou fazê-lo em bases seguras, e para o efeito, fez primeiro, uma consulta a todos os comerciantes dispersos pela Província, para que assim, através dessa consulta, o grupo fundador pudesse avaliar do interesse da iniciativa e saber com o que poderia contar no futuro.
Como essa consulta foi bastante animadora, prosseguiu-se nos trabalhos para a sua efectivação. Esse grupo fundador era constituído por: PAULINO SANTOS GIL, DR. MANUEL MOREIRA DA FONSECA, ÁLVARO DE SOUSA, CARLOS TEODORO MARTINS, CAPITÃO MANUEL SIMÕES VAZ e CAPITÃO ANTÓNIO FIGUEIREDO. A primeira Direcção foi constituída pelos seguintes fundadores: DR. MANUEL MOREIRA
DA FONSECA, CARLOS TEODORO MARTINS e CAPITÃO MANUEL SIMÕES VAZ. Todos os comerciantes interessados se subscreveram com acções, formando-se, deste modo a Companhia de Seguros Nauticus, com 475 accionistas. Assim nasceu a «NAUTICUS», a primeira Companhia de Seguros a constituir-se na Província de Moçambique, autenticamente moçambicana.
Um dos Regulamentos dos Estatutos, é de que 80 por cento das acções têm de estar em nome de portugueses. Sempre progredindo, em 1945, a «NAUTICUS», aumentou o seu capital para 20 mil contos. Em 1958, para 45 mil contos. Anos volvidos, em 1966, o capital aumentou para 60 mil contos. Em 1968, o capital e reservas da Companhia ascendem a cerca de 275 mil contos. Actualmente, a Companhia tem representações próprias em toda a Província. Igualmente faz seguros em tcdos os ramos, estando ligada a uma das principais Companhias resseguradoras mundiais, da Suíça. Na parte social, no que se refere aos seus empregados, a Companhia «NAUTICUS» tem um plano, que excede em muito, as regalias que estão determinadas oficialmente. Nos planos de reforma, os empregados comparticipam, mensalmente, para a reforma.
A Companhia dá passagens à Metrópole de 5 em 5 anos, aos empregados e família. Os empregados beneficiam, também, de «Abono de Família», que é concedido em função dos filhos que têm. Tem um plano de reforma, no qual os empregados são reformados aos 65 anos, e as empregadas aos 60. À data da reforma, o empregado recebe uma parte substancial dos seus ordenados.
A Companhia tem um Centro Social para convívio, com Biblioteca e variados jogos. A Companhia de Seguros «NAUTICUS» tem a sua Sede, em Lourenço Marques, em grande imóvel de sua propriedade, que foi construído para esse fim, e ainda, com outra parte destinada a lojas, escritórios e apartamentos de habitação, situado na Avenida da República, Rua Baptista de Carvalho e Rua Lapa. Actualmente, a Companhia é constituída por um Conselho de Administração, composto pelas seguintes entidades: Companhia de Seguros Fidelidade (representada pelo Dr. António Mascarenhas Gaivão; Dr. António Cardoso; George Critikos e Serafim Rocha.
Esta é a resumida história da primeira Companhia de Seguros Moçambicana, que devido ao esforço de alguns pioneiros, se tornou na mais revelante realidade, para enriquecimento da Província.

NB: Segundo Philipp Schauer o projecto é de João Garizo do Carmo mas na lista da wikipedia não aparece como tal. Aparece todavia o edifício para a companhia na Beira na mesma altura o que talvez seja a fonte da confusão. Por isso autoria do edifício da Nauticus em LM é desconhecida a meu ver.

Comentários

Anónimo disse…
Está peça erra usada para oque e de que metal é feito?
Rogério Gens disse…
Refere-se à peça no fundo do artigo? De que metal era não sei, mas a superfície era esmaltada. Tenho ideia que era fixada nos automóveis com esse seguro, no tempo em que estes tinham grelha e para-choques "separados" da carroceria dava para se fazer isso.