A Casa Holandesa e a ZUID em Moçambique - relacionadas?


Zuid-Afrikaansch Handelshuis - Casa ZUID
Placa de 1910 e néon vertical dos anos 60

Ex ZUID dos anos 60, vista dos dois lados na Rua Bagamoyo de Maputo
Como já disse na mensagem em que procurei a sua localização fisica, vou agora tentar perceber melhor o que era a firma ZUID
A biografia de um seu funcionário Jacobus Riemens dá elementos cruciais. O primeiro é que o senhor era holandês e a firma também, tirando assim a minha primeira dúvida se não seria sul-africana (não sei nada de holandês e/ou afrikaans para que pudesse perceber eventuais diferenças). 
A ZUID originalmente tinha apenas actividade na África do Sul mas depois mudou-se para as costas "portuguesas" do leste e oeste da África. A Companhia estava presente em Lourenço Marques e na Beira em Moçambique, em Angola e na Guiné Bissau e também tinha escritório em Lisboa (onde o senhor Riemens trabalhou). A ZUID representava em Portugal e nas suas colónias (em parte ou no total) importantes empresas estrangeiras como a Philips, a IG Farben, Dr. Wander, Nestlé e ainda a Anglo Swiss Condensed Milk, a Amsterdamsche Chininefabriek e muitas outras empresas. A ZUID era também agente em Moçambique da companhia marítima Linha a Vapor Italiana (Lloyd Triestino) e da Vacuum Oil Co.
Complementarmente temos as memórias do director da ZUID em Angola de 1950 a 1970 Andries Pieter van der Graaf que dá a entender que a firma negociava, mesmo nos anos 60, flexivelmente em tudo o que desse dinheiro por exemplo marfim para exportar para a Europa. Mas explica em muito pormenor as linhas normais de negócio da ZUID em Angola:

Alguns dos produtos que a ZUID vendia para Angola: leite condensado nestlé, food (Mozambique tea - chá licungo), cashew nuts, drinks and textiles, construction materials (corrugated panels, plumbing, floor covering), paint, small agricultural tools, general merchandise: storm lanterns, primus stoves, chopping knives, hoes, sewing machines, iceboxes, bicycles, velosolex (motorized bicycles) copper wire, beads (missangas/contas) and other decorative articles.
Alguns dos produtos que a ZUID comprava para exportar de Angola: beans, castor seed, manioc (cassava, Portuguese: crueira) and sesame seed; and from the river basins: palm nuts, palm oil; also Arabica coffee. 
Suponho que de/para Moçambique fosse mais ou menos a mesma coisa com as variações locais (não há café em Moçambique, acho que não há chá em Angola por exemplo).

Mas subjacente ao meu interesse na ZUID estava também o tentar perceber porque era a Casa Holandesa tão importante em Lourenço Marques em termos de instalações e liderança (do Consul Wilhelm Pott) e de que negócio viria esse poder, e se a ZUID teria tido relação com a Casa Holandesa que em tempos mais recentes tinha "desaparecido do mapa". 

Sabemos que os Holandeses (alguns de origem judaica portuguesa) tinham interesse na zona e tinham tentado a instalação duma feitoria, e com a presença dos boers na África do Sul suponho que a presença holandesa também era estratégica. Mas L.M. era Portugal ao tempo por isso a justificação da Casa Holandesa que deduzo era uma firma privada tinha de ser predominantemente comercial.
Percebemos agora por este blogue (luso) angolano qual a larga gama de actividade da ZUID e vem daí também a resposta à pergunta do título deste artigo. 

A Casa Holandesa e a ZUID (pelo menos em Angola) eram a mesma coisa.


ZUID = CASA HOLANDESA em Luanda, Angola
(ZUID) CASA HOLANDESA em Luanda, Angola
Ver aqui noutra instalação


Por isso deduzo que por qualquer motivo o nome Casa Holandesa tenha sido abandonado em Moçambique enquanto que continuou em Angola. Mas o tipo de negócio da Casa Holandesa devia ser o mesmo que o da ZUID uns anos depois, tendo em conta as diferenças ligadas à época. Umas representações, vendas directas de produtos para cantinas e construção civil, compras de produtos locais para exportar para a Europa, agência de companhias de navegação. 
CASA HOLANDESA na Baixa de Lourenço Marques 
(actual Maputo)
O que se vê em cima e que pelo volume eu suponho fossem principalmente armazéns da Casa Holandesa para o seu negócio de import-export, mais tarde deve ter deixado a Baixa, mantendo-se aí só as lojas e o escritório. Quando a cidade se expandiu tornou-se mais eficiente colocar os armazéns noutro local, mas só quem viveu isto poderia explicar por exemplo para onde foram. 
Com a consolidação do poder português em Moçambique a partir de 1895 e o fim das Repúblicas Boers em 1900, a Casa Holandesa deve ter passado a ser sujeita a muito maior concorrência e progressivamente deve ter feito um "downsizing". Terá sido assim que surgiu a ZUID em Lourenço Marques ou não tinham relação para alem do mesmo nome?
Já agora existe um desenho da feitoria holandesa de Lourenço Marques que de momento não sei onde ficava exactamente nem que relação veio a ter com a Casa Holandesa de Pott.

Desenho

Tomasini, Luís Ascêncio, 1823-1902 - Feitoria Holandesa em Lourenço Marques
E como curiosidade e pista para se poder datar o desenho, pode-se ver que foi feito em papel desta marca ...
Papéis Canson et Mongolfier - clique na imagem para aumentar
Em baixo estão as marcas no papel do desenho, mas são precisas algumas manipulações da imagem para se chegar lá.

Comentários

Dirk Gnodde disse…
Muito obrigado.
Vo escrevir ‘em engles porque nao tem vocabloria de Portuguese.
My father Jan Gnodde was the managing director when he retired in 1966. I also worked for Casa Zuid from 1966 to 1969.
The management of Casa Zuid L. M. were Jan Gnodde, W Noordwyk, V Nogueira, P. Lima. Kees deBoer was also in LM.
In Beira the manager was Jan Oostegeitel. The manager in Nampula was a Lacerda, can’t remember his first name.

My father was the managing director from about 1944 until he retired. His family have the silver plates and gifts he was presented with for dedicated service for his 25 Year Anniversary.

CasaZuid were agents for Philips NV from Holland,Electrolux from Sweden, ICI from theUK, Ballantine’s, Johnny Walker whiskies and other pharmaceutical products from Holland and the UK.

My email address is gnodde@telkomsa.net
Casa Zuid was also the agent for the Holland Africa Line on the island of Mocambique in the 1950’s to sometime in 1960’s.

I had the 0leasure of working in Lourenço Marques, Nampula, and Beira from 1966 through to 1969, wonderful times were had. From Nampula we visited the Isla de Mocambique, stayed at the small hotel. Visited the Fort, well worth a visit, toured the island in a rickshaw with our friends from South Africa. In the beginning we had to catch the ferry from Lambo to the island. After that we drove across the bridge from Lumbo to the island.

After Namlupa I was transferred to the Beira office as Sales Room representative where we so,d all the household appliances. Very interesting as all sales were conducted in Portuguese.
José Norton disse…
Tenho uma correspondência de 1889 que me fala de uma Casa Holandesa em Mussango (Mopeia, perto do Zambeze?). Poderia ser um hotel? O gerente chamava-se Van Yssel.
Ficava agradecido se caso saiba algo sobre o tema, me comunicasse
Rogério Gens disse…
JN: De concreto não sei responder. A Casa Holandesa de que aqui se falava era comercial, incialmente devia exportar produtos locais para a Europa e importava os produzidos industrialmente na Europa e depois presumo que se deve ter concentrado mais nas importações. O Hotel ter esse nome pode ser coincidência no nome/nacionalidade do proprietário, de quem nâo me lembro ter ouvido falar mas ... Cumps.
José Norton disse…

Agradecido pelo seu cuidado. Se tiver interesse posso mandar-lhe cópia da carta.
Cumprimentos
José Norton
Rogério Gens disse…
JN: Envie sff para housesofmaputo@gmail.com. Quem sabe se encontraeei lá alguma pista interessante. Obrigado. RG