Avenidas novas junto ao cais de LM: entre c. 1907 e c. 1911 (1/4 )

Nas cartas do início do século XX (20) aparecem três novas avenidas traçadas em paralelo junto ao recinto do porto sobre o aterro formado quando se construiu o Cais Gorjão bastante para dentro do estuário. Em comprimento, essas avenidas seriam pelo menos entre a Praça 7 de Março, actual 25 de Junho e a Praça Mac Mahon, actual dos Trabalhadores. 
Vamos ver primeiro duas fotos dessa zona a partir da Praça 7 de Março que nos permitem percebê-la melhor. A primeira foto tem localização fácil pois vê-se o Jardim Mousinho que era na parte sul da Praça (7 de Março). E vamos juntar uma carta da zona (planta geral do porto que incluía o projecto do Eng. Costa Serrão de 1909) para nos certificarmos do resto.

FOTO 1 anterior a 1910 e planta de 1910 no mínimo
seta vermelha: a posição e visão do fotógrafo na FOTO 1
à direita da FOTO 1: jardim no limite sul da Praça 7 de Março actual 25 de Junho
em frente ao jardim à direita: canto dos taipais no terreno
onde veio a ser a praceta de António Enes (ver FOTO 5)
à direita, logo a seguir ao jardim mais para poente=oeste,
e metida mais para dentro: Casa da Alfândega
avenida ao centro da foto (seguindo de nascente=leste para poente=oeste):
Av. 18 (depois 28) de Maio, marcada a verde normal no mapa
avenida à esquerda, antes = para norte dos armazéns do porto:
Av. Cândido dos Reis, marcada a verde claro no mapa, 
Av. Teixeira de Souza, marcada a amarelo

A legenda do postal da FOTO 1 fala de avenidas em construção pelo que imagino que se referisse às duas grandes e paralelas à vista, a 18 de maio mais à direita e no terreno encostada à Baixa urbana e que na planta marco a "verde normal" e a outra avenida mais para o lado porto que na planta marco a "verde claro". Na planta essa chamava-se Cândido dos Reis que foi um dos heróis da implantação da república (Almirante Reis) e por isso esse nome e a planta reflectem a situação pós 5.10.1910. 
O que é mais difícil de ver na FOTO 1, embora não devesse estar longe é onde estava a Av. Teixeira de Souza, marcada a "amarelo" na planta e segundo esta mais estreita do que a Cândido dos Reis. Pela planta ela estaria entre os primeiros armazéns mais espaçados do lado esquerdo da Av. Cândido dos Reis e a fiada mais compacta de armazéns que ficava ainda mais para a esquerda (de facto mais para o sul) e defronte ao cais, mas na FOTO 1 a vista dessa avenida seria obstruida pelos armazéns e ela ficava demasiadamente longe da objectiva. .
A FOTO 2 também terá sido tirada do Capitania Buildings mas com orientação um pouco diferente da da FOTO 1 e dá para ver um pouco melhor a zona mais junto ao cais e os espaços entre os armazéns e por isso onde estaria a av. Teixeira de Sousa "amarela". 

FOTO 2 anterior a 1910, porque não havia o monumento a António Enes
avenida à direita:
Av. 18 (depois 28) de Maio, marcada a verde normal na planta

avenida ao centro, antes = a norte dos armazéns do porto que estão mais à direita:
Av. Cândido dos Reis, marcada a verde claro na planta

à esquerda, entre as duas fiadas de armazéns do porto:
Av. Teixeira de Souza, marcada a amarelo na planta

Na FOTO 2 rodeei a laranja um "esquadro" de armazéns mais próximos e marquei um conjunto de três armazéns mais distantes. O "esquadro" foi também marcado a laranja na planta e os outros três armazéns ficam para cima dele.
Na FOTO 2 vê-se também à esquerda que o recinto do porto estava fechado do lado esquerdo da Av. Cândido dos Reis (ver aí o muro baixo com vedação metálica por cima e depois um portão de entrada com guarita). Por isso nessa altura, antes de 1910, a Av. Teixeira de Souza, embora tivesse nome característicos das vias civis já não era para uso civil, se é que alguma vez chegou a ser o que penso que não pois estava demasiadamente perto do cais e dos armazéns.
A foto seguinte mostra a mesma zona da FOTO 2 com a Av. Cândido dos Reis da esquerda para a direira e para norte dos armazéns. Esta FOTO 3 foi tirada uma meia centena de metros mais trás = para leste do que a FOTO 2 e já está o monumento a António Enes na praceta que os dois senhores atravessavam nessa foto:

FOTO 3 posterior a 1910, porque existia o monumento a António Enes
à esquerda: vê-se o edifício do relógio do porto 
que não se conseguia ver na FOTO 2 se já existia
ao centro: para o fundo os armazéns do porto parecem inalterados em relação à FOTO 2
à direita: ao fundo, por cima da zona sem imagem, vê-se a Av. 28 de Maio já aberta

Desta zona já tinhamos visto imagens de quando a estátua de António Enes foi inaugurada em 1910, pouco tempo depois das FOTOS 1 e 2 terem sido tiradas mas antes da FOTO 3.  

FOTO 4a de 1910
Preto: limite da Praceta de António Enes, ao centro da qual estava o monumento
Verde claro: Av. Cândido dos Reis
Verde médio: Av 18 de Maio, actual Mártires de Inhaminga
Laranja: terreno livre entre essas avenidas 
Castanho escuro: construção ao fundo desse terreno, 
a mais próxima via-se também nas FOTOS 1 e 2
Castanho claro: parece-me a estação de caminho de ferro de 1895 vista pelo topo a leste

Pelo que se via na parte mostrada em cima da FOTO 4 parece-me que a Av. 28 de Maio ou estava mais para a direita da marca "verde normal" ou tinha de se estreitar ao passar frente à estação de 1895 mas não se consegue ver bem essa zona e é estranho que na FOTO 1 que devia ser anterior a esta não se visse essa estação, pois esta devia ser anterior.
Olhando-se para o resto da FOTO 4 mais à esquerda vê-se a entrada mais a leste, guaritas e o muro gradeado que limitavam o recinto portuário nesses templos e que já referimos na FOTO 2:

FOTO 4b de 1910
Verde claro: Av. Cândido dos Reis, sem separador central 
que veio a ter depois (FOTO 7 do artigo 2/)
Verde escuro: a vedação a norte do recinto portuário nessa altura
Azuis: armazém dos respiros 
que conhecemos daqui mas era mais longo
Rosa: segundo armazém dos que ficavam imediatamente ao lado da ponte-cais
Amarelo: Av. Teixeira de Souza, passaria entre as fiadas 
a que pertenciam os dois armazéns anteriores

Em relação ao terreno entre as avenidas Cândido dos Reis e 18 de Maio nestas fotos via-se que estava desocupado perto da praceta de António Enes mas para o fundo tinha algumas construções, que seria do porto e caminhos de ferro - ver esta série.  
Com o artigo presente e com este artigo sobre o assunto ficamos a conhecer o desenvolvimento da zona que foi sendo ganha ao estuário com a construção dos cais para sul da limite da urbe inicial. Isto entre pelo menos entre digamos um pouco antes e um pouco depois de 1910. Como vemos aqui com as FOTOS 4, em 1910 a Av. Teixeira de Souza estava encerrada dentro do recinto do porto e passado algum tempo aconteceu o mesmo à Av Cândido dos Reis (e pelo menos esta deve ter sido pensada para uso civil) quando o recinto do porto avançou mais para norte e veio encostar à Av. 18 (depois 28) de Maio, agora M. Inhaminga.
No artigo seguinte tentei confirmar se um postal que diz ser da Av. Teixeira de Souza em 1907 o era realmente. Concluí aí que era da Av. Cândido dos Reis tal qual está marcada no mapa e nestas fotos a "verde claro" mas não há elementos para esclarecer algumas dúvidas. 
Série sobre estas avenidas aqui.
Ver também os artigos desta série sobre os três armazéns que se vêm para o fundo da FOTO 2.

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