Varandas alpendradas e o tipo de comércio na Baixa da cidade de 1890 a 1950

Alexandre Lobato (AL) numa parte do livro Xilunguíne básicamente explica o seguinte com outras palavras. Quando a cidade de Lourenço Marques (LM) se começou a formar por volta de 1870 a 1890 o comércio têxtil era centrado na Rua da Gávea e na Travessa da Palmeira e suponho eu orientado para tecidos como agora se vê ainda na Casa Elefante. Os comerciantes aí eram indianos e os clientes eram africanos que atravessavam a zona das machambas para vir à cidade (havia muito poucos europeus e deviam ter mais com que se preocupar do que com modas). 


FOTO 1
Rua Consiglieri Pedroso (CP) em 1929, no seu apogeu

E continua AL noutra parte do livro também com bastantes adaptações do HoM: A partir de 1900 e principalmente a partir de 1914 com a vinda de militares de Portugal na primeira grande guerra mundial, dá-se um grande aumento de população europeia e feminina com novos requisitos. O comércio têxtil passou a ser de outro tipo e centrou-se na emergente Rua Consiglieri Pedroso que é uma paralela a cerca de 50 metros de distância da Rua da Gávea. Essa nova clientela estava habituada a estabelecimentos com montras rasgadas para poderem apreciar os artigos sem entrar e por isso as fachadas tinham de ser protegidas por alpendres contra o sol. Para esse efeito, nos edifícios de primeiro andar fizeram-se adaptações às fachadas anteriormente planas instalando-se grandes varandas alpendradas no piso superior constituídas por peças de ferro montáveis e suportadas por pilares. Esses acrescentos foram uma tendência inglesa que chegou a LM vinda de Durban mas que respondeu também às exigências comerciais diferentes da nova população de origem europeia.  Temos um exemplo desses no edifício à esquerda da FOTO 1 com a varanda alpendrada.
Na FOTO 2 em baixo, com uma vista da Rua CP noutro sentido e noutro local e cerca de 1907, podemos ver que havia bastantes árvores. Estas foram sendo depois cortadas para se arranjar espaço nos passeios para se instalar as varandas alpendradas e como se vê na FOTO 1 em 1929 (cerca de 22 anos depois) já não havia árvores na Rua CP. 


FOTO 2
À esquerda: vê-se a esquina da Casa Amarela
À direita, ao fundo: prédio de dois pisos com vasos em cima
onde está agora o prédio do Banco de Moçambique dos anos 60.

Ora o que vamos poder ver nesta mensagem é como um determinado edifício era de origem e como ficou depois com as varandas. Só que vamos ver o processo de transformação pela ordem inversa, porque as imagens que temos do edifício sem as varandas são as últimas. Estas imagens foram já usadas nesta mensagem.

FOTO 3
Edifício na esquina da Rua CP com a Travessa da Palmeira (TP)
que aparece entre os dois prédios à esquerda. 
Está agora sem alpendres ou varandas 
depois de elas terem sido retiradas. Deve ter sido assim de origem

Uns tempos antes o mesmo edifício tinha sido assim.

FOTO 4
Edifício só com alpendre pois ou por não ser seguro ou outra razão
tinha-se tirado a varanda no primeiro andar 
e concerteza fechado as portas de acesso a elas

E muito antes, no início dos anos 30 era como se vê na FOTO 5. Estamos na mesma Rua CP mas uns 15 metros recuados em relação à posição das FOTOS 3 e 4. Como se nota onde está a Travessa da Palmeira pela sua abertura ao nível do passeio à esquerda, sabemos que o edifício está na esquina antes da Travessa. 

FOTO 5
Nesta altura o edifício e os outros para poente=oeste
tinham alpendres sobre o rés do chão e varandas no primeiro andar

Na FOTO 5 também se pode ver que a Casa Fabião (a que está saliente à frente, à esquerda). como é posterior já tinha sido construída com o alpendre, neste caso uma colunada sobre o passeio.
Noto que o edifício que vimos nas FOTOS 3 a 5 na esquina com a TP era também o que estava à esquerda da FOTO 1 com os dois calhambeques estacionados em frente. 
Estes edifícios à esquerda nos anos 30 eram casas de modas e bugigangas mas pelos anos 50 tinham-se tornado casas de ferragens pois o epicentro das modas e das respectivas madames deve ter migrado da CP para a Av. da República (como foi o caso do John Orr que ficava quase em frente ao Fabião que foi para o lado nascente e da Casa Combra que ficava a seguir ao Fabião e que foi para o lado poente da Avenida) e para o prédio Nauticus (caso do Eduardo Silva) que ficava um pouco mais à frente do John Orr.
Sobre outras lojas uns 200 metros mais para leste = nascente deste local na Rua CP no inicio do século XX ver a mensagem.
Agora vamos ver uma foto com o edifício parcialmente recuperado em Outubro de 2012.


FOTO 6
Nota-se bem onde o alpendre / piso da varanda se incrustou no prédio
e percebe-se como se fizeram
 estas alterações das fachadas..

Embora não ficasse na Rua CO, finalizamos com o Bank of Africa por ter sido o edifício com as varandas alpendradas mais espectaculares da antiga Lourenço Marques:

FOTO 8
Ficava na actual Rua de Timor Leste a norte da Fortaleza


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