Armazém de Gulamhussen na Baixa de Lourenço Marques

A firma Gulamhussen dedicava-se ao comércio por grosso e retalho, import-export inicialmente de produtos agrícolas e têxteis e agenciamento de firmas estrangeiras, lendo na transversal a parte relevante do texto completíssimo de Joana P. Leite e Nicole Khouri (ver imagem do início em baixo) sobre a presença da comunidade ismaelita em Moçambique (ver edifício Aga Khan). O texto relata também a posição relevante da família tanto na sua comunidade de origem como na sociedade colonial portuguesa.
Os sectores em que a firma/família esteve envolvido foram-se expandindo com participação em várias sociedades por exemplo nas indústrias de vestuário e de preparação de castanha de cajú
Aqui veremos o armazém que penso foi o local da actividade inicial em Lourenço Marques e que suponho seria uma loja de comércio geral (a chamada cantina em Moçambique) em ponto grande. Parte do grande armazém por trás, inicialmente devia ser utilizado para os produtos das importações e exportações.
Histórico Armazém Gulamhussen na Baixa de Maputo
com típica fachada art deco a simular altura

Vista aérea da zona em foto posterior a 1958 atendendo â construção do prédio Sanguinhal:

Castanho: parte elevada do telhado do Gulamhussen
Verde: Av. 25 de Setembro, antiga da República
Laranja: Av. Magaia, antiga Paiva Manso

Uma foto da parte a centro-oeste da Av. da República, actual Av. 25 de Setembro em 1935 e que esteve â venda no site delcampe.net.
Gulhamhussen, edifício antigo, kiosk, mercado, F. Bridler, A. Teixeira

Pode-se comparar a foto de cima com a terceira foto daqui (A. Teixeira) que mostra a zona talvez nos anos 50. Nela para a zona mais próxima há poucas diferenças mas mais para o centro da Baixa tinham já surgido os prédios do início dos anos 50 que existem ainda. 

História muito completa da família de Gulamhussen Ismail Giná escrita por J. Leite e N. Khouri em: 
A sublinhada nota 84 da página 43, pondo de lado a questão se o que foi feito foi justo ou injusto/bem-feito ou mal-feito, faz mais uma vez justiça ao célebre provérbio português/brasileiro de que "Quando o mar bate na rocha, quem se lixa é o mexilhão". Isto quer dizer, para o leitor da Mongólia, que quando há mudanças por exemplo revolucionárias os previlegiados que em principio deveriam ser o "alvo a abater" encontram maneira de evitar as consequências "while the little guy has no chance".
Para terminar com uma nota poética, Noémia de Sousa que foi uma celebrada poetisa anti-colonialista moçambicana foi quando jovem empregada do Gulamhussen.
Diria que é o poema do estigma e da revolta
Num aparte pragmático acho paradoxal que Noémia que parece tinha sido obrigada a exilar-se de Moçambique e depois de Portugal, quase 30 anos depois do país ter alcançado a independência - causa para que militou - ainda residisse no país ex-colonizador e até acabou por aí falecer. Ao argumento "Háa, mas não tem nada a ver"! eu só repondo "Pois!".

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